Aos 45 anos, a analista de RH Patrícia Anny Baptista, de Curitiba (PR), ainda lida com as marcas profundas deixadas por uma experiência que mudou sua vida, e a da filha, para sempre.
Em 2017, ela foi submetida a uma cirurgia bariátrica pelo SUS para tratar complicações graves causadas pela obesidade grau II: gordura no fígado, hipertensão, dores articulares e um quadro de pré-diabetes.
O procedimento foi autorizado menos de dois meses após os exames pré-operatórios. Mas o que deveria ser um passo decisivo em direção à saúde, se transformou em um drama inesperado.
Vômitos, desmaio e uma descoberta chocante
Poucas semanas após a cirurgia, Patrícia passou a vomitar tudo o que comia ou bebia. Um mês depois, fraca e desidratada, desmaiou e foi levada ao hospital. Lá, recebeu a notícia que a deixou em choque: estava grávida de três meses. “Na hora, eu surtei”, relembra, em entrevista à Marie Claire.
A gestação já avançada passou despercebida nos exames antes da operação. Embora muitos médicos incluam o teste de gravidez como rotina pré-cirúrgica, ele não é exigido por lei, e tampouco foi repetido na véspera do procedimento, o que poderia ter mudado tudo.
Gravidez de risco e nascimento extremo
Mesmo com sintomas persistentes e debilitantes, ela chegou a perder 30 quilos durante a gestação e vomitava até água, Patrícia seguiu com a gravidez. Sem suporte nutricional adequado, como a alimentação por sonda ou nutrição parenteral, ouviu apenas orientações genéricas para "fazer uma forcinha" e tentar comer.
Desacreditada por parte da equipe médica, que considerava o feto inviável, ela manteve a gestação até a filha, Camila, nascer prematuramente, com apenas 28 semanas. A bebê media 28 centímetros e pesava 540 gramas. Foi reanimada, entubada e levada direto para a UTI, onde ficou por seis meses.
Durante esse período, enfrentou uma série de complicações graves: paradas cardíacas, sepse, enterocolite necrosante e hemorragias cerebrais e oculares. Só teve alta ao atingir 2,5 kg, ainda com oxigênio e necessitando de terapias intensivas.
Sequelas, lutas e um processo que terminou em frustração
Hoje, aos 8 anos, Camila enfrenta diversas sequelas: problemas respiratórios, disfunções motoras, dificuldades cognitivas e distúrbios na tireoide. Pesa apenas 14 quilos e é acompanhada por oito especialistas, além de fazer cinco tipos de terapias semanais.
Patrícia também sofre com os traumas da experiência. Foi diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático no primeiro ano de vida da filha e, até hoje, faz uso de medicação controlada e sessões de terapia.
Em busca de justiça, a família entrou com um processo contra o hospital, alegando negligência pelo não refazimento do teste de gravidez. Após cinco anos, a decisão da Justiça deu ganho de causa à instituição.
“Não queria dinheiro pra mim. Queria pagar uma fonoaudióloga ou uma fisioterapeuta particular pra minha filha. Hoje faço o que posso. Pago plano de saúde e estou na fila do SUS para uma consulta com neurologista, porque não consigo pagar R$ 800 numa particular”, desabafa.
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Bariátrica ajudou, mas cicatrizes persistem
Apesar de tudo, Patrícia reconhece que a cirurgia trouxe benefícios para sua saúde: conseguiu controlar os problemas metabólicos e manter o peso. No entanto, o que poderia ter sido evitado com um simples exame ainda a persegue.
“Se tivessem pedido um beta-hCG um dia antes da cirurgia, nada disso teria acontecido. Foi falta de zelo”, afirma, com a voz embargada pela dor.