Tati Machado e a dor da perda gestacional: psicanalista explica como lidar com o luto

Luto gestacional é dor real e profunda; especialistas explicam como acolher, entender e respeitar quem enfrenta essa perda silenciosa

Publicado em 16/05/2025 às 23:14
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Falar de morte já é penoso; quando a perda envolve um bebê ainda no útero, a dor costuma ser abafada por um silêncio social que agrava o sofrimento.

A apresentadora Tati Machado, que revelou recentemente ter perdido seu filho no oitavo mês de gravidez, trouxe o tema de volta aos holofotes e levantou uma questão fundamental: como cuidar da saúde emocional de quem vive esse abalo?

A dor que precisa ser reconhecida

A psicanalista Andrea Ladislau lembra que ainda há quem tente minimizar a angústia com frases como “você é jovem, pode engravidar de novo”. “Não, não está tudo bem”, reforça ela.

O luto é legítimo, precisa de acolhimento e espaço para que a mulher possa chorar, sentir raiva, frustração ou qualquer outro sentimento que apareça.

O objetivo não é “superar”, e sim elaborar cada emoção para evitar que a tristeza evolua para um quadro depressivo.

Cada tempo é um tempo

O corpo e a mente sentem a perda de maneira intensa, e comparações (“eu já estaria melhor”) só geram culpa. “O luto não tem relógio”, diz Andrea. Existe o Chronos, o tempo cronológico dos dias e horas, e o Kairós, esse tempo interior que dita quando a dor amolece.

Respeitar o próprio compasso  e contar com uma rede de apoio que acolha, não julgue (é parte essencial da cura).

Por que dói tanto?

Do ponto de vista psicanalítico, a gravidez coloca a mulher num lugar singular: ela se relaciona com o bebê, mas também consigo mesma.

A morte intrauterina atravessa o narcisismo, o corpo e o papel simbólico da maternidade. Reconhecer a existência — ainda que breve — desse filho é passo decisivo para que a perda ganhe significado.

Quando não sabemos lidar com a morte

Nossa cultura costuma buscar a eliminação imediata da dor, mas luto não é enfermidade. Confundir tristeza com depressão leva ao equívoco de estipular um prazo para “voltar ao normal”. Elaborar a perda implica adentrar o desconforto, e não atropelá-lo.

Caminhos para o cuidado

  • Acolhimento sem julgamentos: Evitar frases de incentivo vazias e oferecer escuta genuína.
  • Rede de apoio verdadeira: Amigos, familiares e profissionais de saúde mental devem validar sentimentos e respeitar silêncios.
  • Liberdade para ritualizar: Escrita de cartas, cerimônias simbólicas ou qualquer forma de despedida ajudam a concretizar a experiência.
  • Atenção ao corpo: Alterações hormonais e físicas merecem acompanhamento médico e psicológico.

Ressignificar não é esquecer

Com suporte adequado, cada mulher — famosa ou anônima — consegue gradualmente atribuir outro sentido à perda, elaborando culpa, saudade e tristeza profunda. Mais importante, percebe que não está sozinha. O luto gestacional é real, profundo e merece ser tratado com respeito, sensibilidade e amor.

“O conteúdo deste site é destinado a fins informativos e educacionais, e não se destina a fornecer aconselhamento médico, dermatológico, nutricional ou de qualquer outra natureza. As informações aqui apresentadas não devem ser utilizadas para diagnosticar ou tratar qualquer problema de saúde. Recomendamos que você consulte um profissional de saúde qualificado para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado.”

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