A dor genitopélvica à penetração é uma dor persistente ou recorrente que surge durante tentativas de penetração vaginal — seja na relação sexual, no uso de absorventes internos ou durante exames ginecológicos.
Trata-se de uma das manifestações da disfunção sexual feminina e pode acontecer em qualquer fase da vida.
“A dor genitopélvica à penetração é uma queixa comum entre mulheres, mas ainda cercada de silêncio, estigma e desinformação. Dados globais indicam que a dor durante as relações ocorre em cerca de 8% a 21% das mulheres. Essa condição pode afetar profundamente a qualidade de vida, a autoestima e os relacionamentos afetivo-sexuais delas”, declara Dra. Jussimara Souza Steglich, membro da Comissão Nacional Especializada em Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Essa dor pode ser classificada de acordo com sua origem, localização e características clínicas. Os principais tipos são:
- Dispareunia: dor genital relacionada diretamente à penetração sexual, podendo ser superficial (na entrada da vagina) ou profunda (mais interna, em certas posições ou ao longo da penetração).
- Vaginismo: contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico, o que dificulta ou até impede a penetração.
- Vulvodínia: dor crônica na vulva sem uma causa aparente, geralmente associada à hipersensibilidade ao toque ou à pressão.
“A dor pode ter causas físicas como infecções, atrofia vaginal, endometriose, cicatrizes pós-parto ou alterações hormonais e/ou causas psicossociais, como ansiedade, histórico de abuso sexual, educação sexual repressora ou experiências sexuais negativas. Muitas vezes, é uma condição multifatorial e exige avaliação cuidadosa”, explica a ginecologista.
O impacto da dor genitopélvica vai muito além do físico. Ela também afeta o campo emocional (com conflitos conjugais, afastamento, receio da intimidade), psicológico (como vergonha, queda da autoestima, ansiedade e até depressão) e sexual (com evitamento do sexo, diminuição do desejo e dificuldades no orgasmo).
“O sofrimento não é apenas físico: muitas mulheres relatam sentir-se ‘quebradas’ ou ‘inadequadas’, o que pode comprometer gravemente sua saúde mental”, alerta Dra. Jussimara.
O tratamento exige uma abordagem individualizada e multidisciplinar, que pode incluir:
- psicoeducação e aconselhamento sexual, para desfazer mitos e promover o autoconhecimento;
- fisioterapia do assoalho pélvico, com foco na reeducação muscular e alívio da dor;
- acompanhamento psicológico, como a terapia cognitivo-comportamental ou focada em sexualidade;
- intervenções médicas, que podem envolver lubrificantes, estrogênios vaginais para atrofia, uso de anticonvulsivantes ou antidepressivos em casos de dor crônica, e até bloqueios anestésicos em situações específicas;
- dilatação vaginal progressiva, indicada principalmente no tratamento do vaginismo.
“A escolha do tratamento depende da causa e da intensidade dos sintomas, mas o pilar central é sempre o respeito à vivência e ao ritmo da mulher. Falar sobre dor à penetração é um passo essencial para combater o tabu e garantir que mais mulheres recebam diagnóstico e tratamento adequados. O reconhecimento dessa dor como legítima e tratável pode mudar vidas e relacionamentos”, conclui a ginecologista.