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Por que os aplausos de Cannes são tão longos? Entenda

A tradição dos longos aplausos em Cannes virou termômetro de sucesso. Saiba como isso surgiu e quais foram os filmes mais aplaudidos

Cadastrado por

Alice Lins

Publicado em 20/05/2025 às 21:01
O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, sendo ovacionado em Cannes - Reprodução/Redes Sociais

Após 2 horas e 38 minutos de exibição, a plateia de O Agente Secreto, novo filme do brasileiro Kleber Mendonça Filho, não quis arredar pé do Auditório Louis Lumière, com os mais de 2 mil lugares no Festival de Cannes.

O público aplaudiu o longa por 15 minutos, a maior parte desse tempo em pé, enquanto uma câmera transmitia na telona as reações emocionadas da equipe.

Pode parecer muito, mas essa marca ainda está longe de ser um recorde. Em 2006, O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, foi ovacionado por 22 minutos.

Já Fahrenheit 9/11, documentário de Michael Moore, ficou com o segundo lugar: 20 minutos de palmas em 2004.

Mais do que uma simples manifestação de entusiasmo, os aplausos em festivais como Cannes têm peso comercial. Produtoras e distribuidoras observam atentamente essas reações para decidir em quais títulos investir. Mas quando isso virou tradição?

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A origem da cultura da ovação

Cannes existe desde 1946, mas os longos aplausos são um costume relativamente recente. Um dos primeiros registros marcantes veio em 1984, com Era Uma Vez na América, de Sergio Leone, que recebeu 15 minutos de aplausos após quase quatro horas de filme.

Nas últimas duas décadas, a tradição ganhou força. A mídia percebeu que o público adorava saber quantos minutos de palmas um filme recebeu, e a indústria passou a usar isso como ferramenta de marketing. Afinal, quem não se interessa por um filme que arrancou 15 minutos de aplausos?

Hoje, após as estreias, câmeras se voltam para o elenco durante a ovação, enquanto jornalistas cronometram tudo (exceto os momentos de discurso). Não há regras oficiais, mas virou um ritual, mesmo que nem sempre espontâneo.

Um estudo de 2013 mostrou que esse comportamento pode ser puro "efeito manada": nosso cérebro tende a seguir o grupo, interpretando o ato coletivo como um sinal de aprovação.

Nem todo mundo gosta. Bong Joon-ho, diretor de Parasita, pediu para encerrar os aplausos após 8 minutos: "Obrigado, vamos todos para casa", disse, admitindo depois que estava apenas com muita fome.

E vale lembrar: o tempo de palmas não garante a qualidade de um filme. Clássicos como L’Avventura, Taxi Driver e Maria Antonieta foram vaiados em suas estreias. Já Demônio de Neon (2016) foi aplaudido por 17 minutos, mas teve recepção fria da crítica e do público.

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