Wong Kar-Wai criou um universo próprio dentro do cinema asiático: o das saudades que nunca viram reencontro, das conversas que moram nos olhares, do amor que acontece no tempo errado. Seu estilo — melancólico, visualmente hipnótico e carregado de silêncios eloquentes — transformou filmes como Amor à Flor da Pele e 2046 em obras que não apenas contam histórias, mas provocam estados de espírito.
E embora suas obras sejam essencialmente hongkonguesas, há doramas coreanos que caminham por esse mesmo território de sentimentos contidos, personagens que se esbarram sem nunca realmente se encontrar e cores que parecem pintar a solidão.
Se Wong Kar-Wai decidisse trocar os becos úmidos de Hong Kong pelas madrugadas frias de Seul, é fácil imaginar que essas produções estariam entre suas escolhas. São histórias sobre o que não se viveu, o que não se disse — e ainda assim, pulsa forte.
1. One Spring Night (2019)
Com Jung Hae-in e Han Ji-min, esse dorama é um retrato sutil e doloroso das pausas entre o fim de uma relação e o início de outra. Sem pressa, a série mostra encontros cotidianos, dilemas morais e uma atmosfera tão silenciosa quanto carregada de emoção.
A fotografia suave, os planos lentos e os diálogos espaçados lembram a cadência dos filmes de Wong Kar-Wai — e fazem da série uma contemplação sobre o amor fora do script. Aqui, o drama está mais no que se evita do que no que se enfrenta.
2. Our Beloved Summer (2021)
O reencontro entre dois ex-namorados (Choi Woo-shik e Kim Da-mi), anos depois de protagonizarem um documentário estudantil, é o ponto de partida. Mas o que realmente importa são os desvios emocionais, as lembranças que doem mais que brigas e a sensação constante de que o tempo muda tudo — menos o que ficou mal resolvido.
A trilha sonora melancólica, a direção delicada e os closes nos momentos mais vulneráveis fazem dessa série uma espécie de 2046 da geração Z, onde o amor é bonito, mas talvez nunca volte a ser leve.
3. Just Between Lovers (2017)
Junho e Moon-soo são dois sobreviventes de uma tragédia e se cruzam anos depois, tentando reconstruir suas vidas. Interpretados por Lee Junho e Won Jin-ah, os personagens compartilham um luto silencioso, que permeia cada gesto.
O dorama é um poema sobre perda, reconstrução e afeto que nasce da dor — como nas histórias de Wong Kar-Wai, o amor aqui não é remédio, é memória. A chuva que cai, o toque hesitante e os encontros nos cantos da cidade compõem uma narrativa visual e emocional que flerta com o cinema do diretor sem imitá-lo.