Nos doramas coreanos, os dramas emocionais costumam ser intensos, mas nos últimos anos surgiu uma tendência cada vez mais relevante: personagens que encaram suas feridas internas com seriedade e, mais importante, com ajuda profissional. Em vez de resolver tudo com romances mágicos ou reviravoltas repentinas, esses roteiros apostam na jornada de autoconhecimento, na força do diálogo e, sobretudo, na importância da terapia.
Mais do que um recurso narrativo, a presença de psicólogos, psiquiatras e sessões de análise nesses dramas tem sido uma forma delicada e poderosa de desestigmatizar a saúde mental. Não se trata de fórmulas prontas ou soluções fáceis — pelo contrário. São processos cheios de recaídas, silêncio, resistência e dor. Mas também de reencontros, acolhimento e novos começos.
A seguir, quatro doramas que colocam a terapia no centro da narrativa — e mostram que cuidar da mente é tão vital quanto qualquer outro passo para a felicidade.
1. It’s Okay to Not Be Okay (2020)
Entre traumas de infância, autismo e violência familiar, a série aborda a saúde mental com metáforas sensíveis e um terapeuta como protagonista
Moon Gang-tae é um cuidador de saúde mental que vive para proteger seu irmão autista, Moon Sang-tae. Ele reprime a própria dor até conhecer Ko Moon-young, uma escritora excêntrica com traços de transtorno de personalidade.
Ao longo dos episódios, todos os três personagens passam por processos de terapia — alguns mais formais, outros mais simbólicos —, onde encaram traumas do passado e aprendem a se escutar. O dorama é visualmente belíssimo e usa metáforas de contos infantis para tratar de abandono, rejeição e reencontro emocional com uma delicadeza rara.
2. My Mister (2018)
Um homem emocionalmente exausto e uma jovem sobrecarregada pela vida criam um vínculo silencioso que se transforma em cura mútua e escuta verdadeira
Embora não mostre terapia de forma tradicional, “My Mister” é, por essência, um estudo profundo sobre depressão, culpa e dignidade humana. Lee Ji-an, uma jovem cercada por violência e dívidas, encontra em Park Dong-hoon — seu chefe mais velho e igualmente melancólico — um espelho inesperado.
Ao longo dos episódios, o que se desenvolve entre eles não é romance, mas uma espécie de espaço terapêutico: feito de silêncio, compaixão e acolhimento. O dorama demonstra como relações seguras podem ser gatilhos para enfrentar traumas, mesmo quando não há divã ou consultório envolvido.
3. Fix You (2020)
Um psiquiatra nada convencional ajuda pacientes com traumas severos, mostrando que empatia, escuta e vínculo podem ser tão curativos quanto remédios
Também conhecido como “Soul Mechanic”, esse dorama acompanha o psiquiatra Lee Shi-joon, que usa métodos pouco ortodoxos — mas extremamente humanos — para tratar seus pacientes. Ele atende uma jovem cantora com explosões emocionais, que carrega uma série de traumas reprimidos, e aos poucos vai ajudando-a a reencontrar sua voz interior.
A série é didática sem ser clichê: mostra sessões reais de psicoterapia, questiona os rótulos que a sociedade impõe sobre saúde mental e defende que ser “consertado” não é o objetivo — mas sim aprender a viver com mais leveza e verdade.
4. Behind Your Touch (2023)
Uma veterinária com dons psíquicos e um detetive cético se envolvem em investigações e também em traumas não resolvidos que pedem escuta e cuidado
Apesar da pegada de comédia policial, “Behind Your Touch” surpreende ao tocar, aos poucos, em temas emocionais profundos. A protagonista Bong Ye-bun é uma veterinária que, ao tocar as pessoas, tem visões de suas memórias. Isso a obriga a confrontar dores alheias e, indiretamente, as suas próprias.
O dorama mostra como o contato com as histórias de outros pode servir de espelho — e como, mesmo sem uma terapia formal, o ato de entender e nomear as emoções pode dar início a um processo de cura. Há também menções explícitas à importância de buscar ajuda quando os traumas se tornam insuportáveis de carregar sozinho.