Quem era Rosa Magalhães, carnavalesca que será enredo do Salgueiro em 2026
Em 50 anos de carreira no Carnaval, a artista assinou mais de 40 desfiles e também idealizou a cerimônia de encerramento das Olimpíadas do Rio

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Carinhosamente chamada de "mestra" e "professora" por aqueles que cruzaram seu caminho, Rosa Magalhães, a carnavalesca com mais títulos no Sambódromo carioca, foi anunciada nesta quarta-feira (21) como o enredo da Acadêmicos do Salgueiro para o Carnaval de 2025.
A homenagem a filha do escritor e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior e da autora de teatro Lúcia Benedetti não poderia vir de lugar mais simbólico. Foi justamente no Salgueiro que Rosa deu seus primeiros passos na folia, em 1970, como assistente de Fernando Pamplona.
Naquele ano, ela também liderou o desenho de figurinos para escolas como Portela e Beija-Flor de Nilópolis.
No ano seguinte, viu o Salgueiro conquistar o campeonato — uma espécie de sinal do que viria pela frente. A partir dali, ela construiu uma trajetória brilhante.
Formada em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Cenografia pela Escola de Teatro da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), Rosa Magalhães sempre uniu erudição acadêmica e sensibilidade artística.
Suas obras na avenida são reconhecidas por abordar temas complexos com leveza, criatividade e excelência plástica, o que lhe rendeu amplo reconhecimento de público e crítica ao longo de sua carreira.
Primeiros triunfos de Rosa Magalhães
O primeiro grande título como carnavalesca viria em 1982, no Império Serrano, ao lado de Lícia Lacerda, com o inesquecível Bum Bum Paticumbum Prugurundum. O título do enredo é uma onomatopeia que representa a batida do surdo, um elemento essencial no samba.
Anos depois, em 1987, a mesma dupla sacudiu a Sapucaí com Ti-ti-ti do Sapoti, levando a Estácio de Sá a um dos desfiles mais memoráveis de sua história.
A era de ouro na Imperatriz Leopoldinense
Mas foi na Imperatriz Leopoldinense que Rosa construiu seu reinado.
A partir dos anos 1990, ela passou a assinar sozinha os desfiles da escola de Ramos. Entre 1994 e 2001, colecionou cinco campeonatos, incluindo um histórico tricampeonato (1999, 2000 e 2001), feito inédito entre carnavalescos até então.
Após 16 anos de uma parceria vitoriosa, Rosa deixou a Imperatriz para levar sua arte a outras escolas. No entanto, em 2022, retornou à Imperatriz com a missão de reerguer a escola, que havia voltado do Grupo de Acesso. Em um ano apenas, conseguiu manter a agremiação na elite do samba.
Verde e Branca de Ramos homenageou o carnavalesco Arlindo Rodrigues.
Campeonato na Vila Isabel
Além da Imperatriz, Rosa também brilhou em outras escolas, como Vila Isabel, onde conquistou seu último título, em 2013, com o enredo A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo.
O desfile celebrou a vida na roça e trouxe diversos elementos que representavam os interiores do Brasil.
O samba-enredo, composto por Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Tunico da Vila, André Diniz e Leonel, foi um dos pontos altos da apresentação.
Com versos como "Ô muié, o cumpadi chegou, puxa o banco, vem prosear, bota água no feijão, já tem lenha no fogão, faz um bolo de fubá", o samba contagiou o público e os jurados, refletindo a simplicidade e a alegria do cotidiano rural.
Último desfile
Em 2023, a artista, ao lado do carnavalesco João Vitor Araújo, esteve à frente dos trabalhos do Paraíso do Tuiuti, que apresentou o enredo "Mogangueiro da Cara Preta". O desfile teve como tema a chegada do búfalo indiano ao Brasil, com foco na Ilha de Marajó, no Pará, e na cultura marajoara.
Este desfile representou o encerramento de uma carreira brilhante de Rosa Magalhães.
Reconhecimento nacional e internacional
Além de sua contribuição para o Carnaval, Rosa foi uma artista multifacetada.
Foi figurinista e cenógrafa em novelas e séries, lecionou na Escola de Belas Artes da UFRJ e na Faculdade de Arquitetura Benett.
Sua arte ultrapassou fronteiras: seus figurinos foram exibidos em exposições de arte na Europa, como na Quadrienal de Praga e na Bienal de Veneza.
Em 2007, venceu um Emmy Internacional pelo figurino da cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, e em 2016, foi responsável pela festa de encerramento dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.