Protagonista de novela da 9 desabafa anos depois: "Foi muito errado"

Emílio Dantas comenta sobre "Segundo Sol", novela de João Emanuel Carneiro que ocupou o horario nobre da Tv Globo em 2018

Publicado em 15/05/2025 às 12:36
Google News

Clique aqui e escute a matéria

A representatividade nas telenovelas da Globo vive um momento inédito. Pela segunda vez, as três novelas inéditas atualmente no ar contam com protagonistas negros: Duda Santos, em Garota do Momento; Clara Moneke, em Dona de Mim; e Taís Araújo, na nova versão de Vale Tudo.

A conquista é simbólica e reflete um movimento gradual de transformação dentro da emissora.No entanto, esse avanço contrasta com episódios recentes da dramaturgia da Globo, que enfrentaram duras críticas justamente pela falta de diversidade.

Um dos casos mais emblemáticos foi o da novela Segundo Sol (2018), de João Emanuel Carneiro. Ambientada na Bahia — estado com maioria da população negra —, a trama foi acusada de retratar uma “Bahia branca”, com um elenco majoritariamente formado por atores brancos.

Um dos protagonistas, o ator Emilio Dantas, que interpretou o músico Beto Falcão, chegou a manifestar arrependimento por ter aceitado o papel.

“Foi muito errado eu ter feito o Beto Falcão. Jamais deveria ter aceitado esse papel”, disse ele em entrevista ao UOL. “A Bahia é feita 95% de pretos e quem deveria estar contando essa história era um preto. Acordei para isso muito tarde”, completou.

As críticas foram tantas que o Ministério Público do Trabalho chegou a intervir, solicitando mudanças no enredo. Na época, o diretor artístico Dennis Carvalho rebateu as cobranças:

Não quero a obrigação. ‘Tem que’: é feminista, tem que ter negro, tem que ter não sei o quê. Não. As cobranças são maiores hoje, ótimo. Mas não vou colocar um personagem por obrigação”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo.

Mais tarde, o próprio autor João Emanuel Carneiro admitiu a falha. “Foi um processo educativo para todos nós”, declarou à revista Piauí.

Além das críticas por falta de representatividade, Segundo Sol também enfrentou rejeição do público por seus clichês e personagens mal desenvolvidos. Até a chegada de Mania de Você (2024), era considerada a novela mais fraca da carreira do autor.

Compromisso com diversidade

Nos últimos anos, a Globo passou a adotar metas concretas para aumentar a diversidade racial em suas produções. Segundo dados divulgados em relatório ESG (práticas ambientais, sociais e de governança), a emissora pretende ter 50% de profissionais negros contratados até 2030.

Em 2023, 43% dos atores escalados para as novelas eram negros — o maior índice desde o início da adoção dessas práticas, em 2022.

A questão da diversidade sexual também entrou na pauta. O ator Silvero Pereira revelou, em entrevista ao podcast Papo de Novela, que não aceitaria novamente interpretar a personagem Elis Miranda, de A Força do Querer (2017).

“Hoje eu não faria a Elis Miranda, muito provavelmente. Porque eu também me reeduquei sobre essa história, e a gente precisa estar de acordo com as lutas e as causas”, afirmou.

A emissora parece atenta às mudanças sociais e culturais que moldam o Brasil contemporâneo — e, finalmente, começa a refletir essa realidade em sua teledramaturgia.

Tags

Autor