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Jogo polêmico é citado como influência em crime brutal no RJ

The Coffin of Andy and Leyley foi mencionado pela polícia como inspiração para assassinato de família cometido por adolescente em Itaperuna.

Cadastrado por

Jefferson Albuquerque

Publicado em 03/07/2025 às 21:41
Imagem ilustrativa de jogo The Coffin of Andy and Leyley - Reprodução/Wikipédia

Um caso de triplo homicídio ocorrido em Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro, em junho deste ano, reacendeu discussões sobre os efeitos da exposição de jovens a conteúdos violentos e perturbadores disponíveis na internet.

Segundo a Polícia Civil, o crime — praticado por um adolescente de 14 anos, que assassinou os pais e o irmão mais novo durante a madrugada — teria sido inspirado diretamente pelo jogo de terror psicológico “The Coffin of Andy and Leyley”.

A investigação revelou ainda que a namorada do jovem, de 15 anos e moradora de Água Boa (MT), foi cúmplice do crime.

Em mensagens trocadas pelo casal antes e durante a ação, a jovem teria orientado o namorado com sugestões para não ser descoberto e até manifestado apoio à execução do ato.

O que é “The Coffin of Andy and Leyley”?

Com quase 1 milhão de cópias vendidas, o jogo independente The Coffin of Andy and Leyley é conhecido por seu enredo perturbador, que mistura temas como incesto, abuso psicológico, canibalismo e violência familiar.

A história acompanha dois irmãos isolados em um prédio durante uma quarentena, mergulhados em uma relação tóxica e obsessiva que culmina em atos extremos — incluindo o assassinato dos próprios pais.

Apesar de conter alertas sobre seu conteúdo, o jogo é classificado como apropriado para maiores de 14 anos no Brasil, o que tem gerado questionamentos sobre a eficácia da classificação indicativa diante de conteúdos altamente sensíveis.

Identificação com os personagens

Segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, responsável pelo caso, as mensagens analisadas pela equipe de investigação revelaram que o casal de adolescentes demonstrava clara identificação com os protagonistas do jogo.

Os dois também trocavam referências ao filme Precisamos Falar Sobre o Kevin, conhecido por abordar temas como sociopatia juvenil e assassinato em massa.

"Há uma clara exposição a conteúdos violentos e um distanciamento emocional nas falas do suspeito", afirmou o delegado em entrevista. Ele também reforçou a necessidade de maior atenção por parte dos pais e responsáveis ao conteúdo acessado por adolescentes online.

Debate reacende velhos questionamentos

A repercussão do caso trouxe novamente à tona o debate sobre a influência de jogos violentos no comportamento de jovens.

Embora a relação entre jogos e crimes seja frequentemente apontada de forma simplista, especialistas alertam para a importância de uma análise mais aprofundada: fatores como histórico familiar, saúde mental, negligência e acesso a conteúdos inadequados também devem ser considerados.

Ainda assim, o caso de Itaperuna chama atenção pelo perfil do jogo citado como inspiração, que não apenas apresenta cenas gráficas e temas perturbadores, mas também circula em comunidades online onde há normalização e até incentivo de comportamentos extremos e sexualização de personagens infantis.

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A fronteira entre arte, ficção e irresponsabilidade

É importante lembrar que, assim como filmes, livros ou músicas, os jogos eletrônicos também são formas de expressão artística.

No entanto, o grau de interatividade dos games cria uma experiência imersiva, que pode impactar emocionalmente os jogadores de maneira mais intensa — especialmente em públicos mais vulneráveis ou em formação.

Embora “The Coffin of Andy and Leyley” não incentive diretamente crimes, seus temas densos e abordagem gráfica exigem maturidade para serem compreendidos de forma crítica.

Segundo especialistas em desenvolvimento infantil, esse tipo de conteúdo pode reforçar distorções emocionais quando consumido fora do contexto adequado.

Atenção redobrada com jovens na internet

Para os investigadores, o crime em Itaperuna evidencia não apenas o impacto de uma obra específica, mas também a falta de monitoramento sobre o que jovens estão consumindo e discutindo em ambientes digitais.

O casal tinha acesso livre a jogos, filmes, fóruns e aplicativos de mensagens, onde construíam narrativas próprias a partir de conteúdos extremos.

Diante disso, a orientação de psicólogos e autoridades é clara: diálogo constante, presença ativa dos pais e limites bem definidos são fundamentais para proteger crianças e adolescentes de influências nocivas no ambiente online.

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