Já ouviu falar nas Sephora Kids? Entenda a adultização precoce e seus impactos na pele das crianças
Dermatologistas alertam os pais sobre mini influenciadores estimularem crianças e adolescentes a utilizarem produtos impróprios para a idade delas
As redes sociais, em específico o TikTok, têm gerado um novo fenômeno mundial: o chamado Sephora Kids - em tradução livre, crianças da Sephora. O termo surgiu devido ao aumento significativo de crianças, em média de 9 a 14 anos, dominarem as lojas de uma das principais marcas de cosméticos do mundo, por meio do estímulo ao consumismo exacerbado dos influenciadores na internet.
O grande desejo de estar sempre dentro das tendências, além de gerar uma onda de hiper consumo, também faz com que essas crianças sejam expostas aos cosméticos que não condizem com a realidade delas: a de infância. Aplicativos como o TikTok ou YouTube foram invadidos por mini influenciadores, em média de 12 a 15 anos, com o famoso Get Ready With Me (Arrume-se comigo), mostrando rotinas de skincare, cuidados com a pele e maquiagens.
A questão é que a maioria dessas crianças não faz o uso devido dos cosméticos mostrados nos vídeos; podendo até gerar complicações pelo uso de produtos que não são adequados ao tipo de pele sensível comum em pessoas dessa faixa etária.
Marcas como Drunk Elephant, por ter uma embalagem minimalista e convidativa, se tornaram muito famosas no meio infantil. Apesar de apelativa, com desenhos e cores vibrantes nas embalagens, os produtos possuem ativos nas composições que podem ser prejudiciais à pele infantil, como ácidos salicílico, retinoico e glicólico.
A influência dos mini influenciadores
A jornalista Anna Beatriz Freire, de 24 anos, afirma que a irmã Jéssyka Freire, de 13 anos, tem o costume de utilizar produtos de skincare e outros cosméticos sem o devido consentimento.
“O meu sérum que ela usa é com retinol. Além disso, ela também pega hidratantes que não são para a pele dela, tanto o comum como o noturno”, ela comenta. “E ainda usa minhas maquiagens, como delineador, base, pó... Não tem necessidade de uma criança de 13 anos usar pó ou essas coisas”, ressalta.
Assim como a maioria das crianças, a irmã de Anna também sofre uma influência dos conteúdos produzidos por adolescentes na internet. “Ela assiste à sobrinha de Mari Maria (empresária no ramo da beleza)... A mais velha, Maria Victoria”, completa.
As mini influenciadoras do TikTok têm uma grande parcela no estímulo ao uso desses produtos. Nomes como Sofia Schaadt, Antonela Braga ou até mesmo Maria Victoria, que somam mais de quatro milhões de seguidores, são pontos-chave para o interesse dos adolescentes e crianças que não conseguem se desconectar e sempre querem estar por dentro das tendências.
Por mostrarem diversos produtos nos vídeos, seja cuidando da pele ou se maquiando, esse público começa a se enxergar naquele tipo de conteúdo. Afinal, se adolescentes de 14 anos usam e abusam dos cosméticos sem nenhum responsável para alertar dos perigos dermatológicos, como uma criança na mesma faixa etária, ou mais nova, vidrada nas redes sociais, vai entender que aquilo é errado?
Riscos para a pele
A dermatologista Helena Rios aponta que o aumento no uso de cosméticos entre o público infantil pode estar relacionado à busca dos adultos pela pele perfeita, incentivado pelo acesso a conteúdos sobre skincare nas redes sociais. Ela também afirma que algumas marcas podem estar se aproveitando do interesse das crianças e investindo em estratégias para conquistar ainda mais esse público.
Dados publicados pela BBC, do portal Statista, mostram que o mercado de produtos para a pele de crianças e bebês deve apresentar uma taxa de crescimento anual de cerca de 7,71% até 2028, quando irá atingir o volume de mercado de R$1,87 bilhão em todo o mundo. Ainda segundo o portal, é possível que, no mesmo ano, o número de usuários deste mesmo produto atinja a marca de mais de 160 milhões de pessoas.
“Certamente, as marcas têm se reinventado para atender a essa nova tendência do público infantil. Não sei se como estratégia para vender mais globalmente, mas pelo menos como forma de também se adequar a esta demanda e isso não deve ser visto como algo necessariamente ruim. A regulamentação da ANVISA para cosméticos infantis é mais rigorosa, com maior controle sobre os insumos acrescentados nos cosméticos, visando diminuir os riscos de irritação na pele da criança”, explica Helena.
Porém, um bom marketing não implica que os produtos podem ser usados em qualquer tipo de pele. “A pele das crianças é imatura. É mais fina, mais permeável e mais sequinha. Nas crianças, as glândulas sebáceas ainda não estão desenvolvidas”, começa a dermatologista. “Também, ainda não tem um desenvolvimento imunológico e de metabolização completo. Tudo isso somado, faz com que a pele dessa faixa etária seja mais suscetível a irritações (as dermatites de contato e alérgicas) e a maior absorção sistêmica dos produtos que são passados nela”, afirma.
Como praticar a skincare segura na infância?
A dermatologista afirma que, seja pelo bem ou pelo mau, essa tendência veio para ficar. Existe uma maneira de incentivar as crianças a cuidarem da pele ou usar maquiagem sem que isso seja prejudicial. Helena dá, por fim, recomendações de como seria um cuidado ideal para os pequenos.
As precauções devem ser feitas desde o nascimento. “Até os 6 meses de vida, nada deve ser passado. Nem protetor. Apenas o sabonete do banho infantil, e algum hidratante caso haja indicação médica. Após essa idade, o protetor solar já é bem-vindo sempre. Importante que os pais procurem linhas apropriadas para as crianças”, diz.
Para adolescentes, não precisa ser tão rigoroso. “Hidratação e uso de sabonetes faciais delicados também podem ser feitos nas crianças maiores, mas também com linhas infantis. Muitos hidratantes e sabonetes faciais de adultos têm outros ativos que não devem ser usados na pele da criança. Em crianças pré-púberes, podem aparecer os primeiros sinais de acne. Nesses casos, podemos lançar mão de produtos suaves para controle de oleosidade, mas isso deve ser feito com avaliação dermatológica para uma prescrição correta”, conclui.
Alerta aos pais
A diferença entre a pele adulta e a pele da criança é um dos pontos a serem primeiro analisados. “O principal é entender que a pele da criança é muito diferente da pele do adulto. Então, cosméticos de linha adulta não devem ser usados na criança. Também é importante que os pais saibam que pela imaturidade imunológica da pele das crianças, quanto mais precocemente ela for exposta a diferentes produtos desnecessários, maior vai ser o risco de desenvolver irritações e alergias”, explica Helena.
A supervisão dos pais faz com que as crianças tenham noção do que é para a idade delas e o que não é. Rebeca Barbosa, de 41 anos, é mãe de Maya Barbosa, de apenas 12 anos. Ela conta que o interesse em cosméticos surgiu desde os 5 anos da menina.
“Maya sempre teve influência das redes sociais e também sempre me via me maquiando, daí surgia a vontade de fazer o mesmo”, diz. "No começo, ela usava meus produtos, mas eu proibia, porque não era adequado para a pele dela", expõe a mãe.
Rebeca afirma que tinha o costume de conversar sobre os problemas que os cosméticos de adulto poderiam causar e a filha usava os produtos sob supervisão. “Hoje, ela tem mais autonomia e tem os próprios produtos. Eu compro ou ela compra com a mesada dela. Quando o assunto é maquiagem, ela sabe mais sobre o que está na moda do que eu,” finaliza.
É importante os pais ou responsáveis ficarem atentos a alguns produtos em específico: ácidos anti-oleosidade (como o ácido glicólico e o salicílico) e, principalmente, ativos anti-idade (como o retinol e derivados do ácido retinoico) devem ser evitados nos adolescente, exceto se houver indicação clínica, como no tratamento de um quadro de acne, e prescrição médica.
Assim, é possível criar uma rotina de cuidados e ser vaidosa sem prejudicar a pele infantil.
Helena Rios
CRM 25755/PE
Especialista esclarece dúvidas sobre cuidados com a pele
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