Último governo democrático antes do Golpe Militar de 1964, o mandato do presidente João Goulart teve como uma de suas prioridades a campanha pela reforma agrária no país. Para a missão, Jango convocou o advogado e jornalista João Pinheiro Neto.
Figura ainda pouco conhecida do grande público, seu legado, marcado pela implementação de políticas de renovação do trabalho e distribuição de terras rurais, é resgatado no documentário inédito “Terra Revolta: João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária”, que estreia com exclusividade no canal Curta!.
Com direção de Barbara Goulart, neta de Jango, e Caio Bortolotti, o filme discute um período crucial da história do Brasil a partir da ascensão e queda de Pinheiro Neto.
Mescla entrevistas antigas, imagens de arquivo e depoimentos inéditos de familiares, amigos como Maria Thereza Goulart, viúva do então presidente, e políticos como Almino Affonso, único ministro vivo do governo Jango, além de historiadores e pesquisadores.
A partir de suas raízes mineiras e do seu histórico político e familiar, a obra traça um perfil de Pinheiro Neto, recuperando, em simultâneo, a história do país. Do avô, líder republicano com ideias progressistas, ele herdou o interesse pela educação e a luta contra o latifúndio. De personalidade carismática, cultivou relacionamentos importantes com Juscelino Kubitschek, de quem foi assessor e secretário pessoal, e sobretudo com o próprio João Goulart.
“O João Goulart estava procurando alguém para fazer a reforma agrária e não encontrava ninguém para encarar essa bomba. O único corajoso que aceitou foi João Pinheiro. As pessoas o chamavam de louco, mas ele falou que iria fazer”, conta a viúva de João Pinheiro Neto, Leda Pinheiro.
Para Pinheiro Neto, política era um instrumento para pacificar conflitos sociais. Focado na defesa da distribuição de renda e na redução da pobreza, tornou-se presidente da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA) durante o governo Jango, do qual também foi ministro do Trabalho e da Previdência Social.
No cargo, implementou medidas que visavam combater a exploração de camponeses e de terras improdutivas, assegurando direitos dos trabalhadores rurais e incentivando técnicas de plantação modernas.
“O João Pinheiro Neto faz uma política muito importante, mas ele não era um homem da política parlamentar. Ele tem uma trajetória importante na burocracia do Estado, no sentido de gerenciar políticas públicas. Será dele o decreto que vai permitir a desapropriação de terras ao longo das rodovias e ferrovias, assinado por Jango”, ressalta a historiadora Ângela de Castro Gomes.
No entanto, dez dias depois do golpe militar que derrubou Goulart, o decreto da SUPRA foi suspenso e João chegou a ser preso, como mostra o documentário.
Desiludido com o período obscuro que reverteu suas políticas, voltou a trabalhar como advogado, jornalista e professor, e nunca mais voltou a exercer cargos públicos. “Se a reforma agrária tivesse sido implementada da forma como se pensou, iria ser um ponto de mudança estrutural no país", defende a filha Silvia Pinheiro.
“Terra Revolta: João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária” é uma produção da BG Produções Culturais. O documentário também pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro tv+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br).
A estreia é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 23 de maio, às 22h.