Nem toda história sobre dor precisa ser contada com lágrimas escorrendo no canto do olho. Às vezes, é o sarcasmo, a quebra de expectativas e o silêncio incômodo que revelam o que realmente está em frangalhos por dentro.
Foi isso que fez de Fleabag, de Phoebe Waller-Bridge, um fenômeno: uma personagem que não queria ser adorada, mas compreendida — nem que fosse por quem assistia. Se você sentiu falta dessa combinação rara de humor afiado e coração estraçalhado, há doramas coreanos que, mesmo com estilos visuais e tons distintos, compartilham dessa mesma essência.
Neles, protagonistas imperfeitas, relações familiares complicadas e traumas que não cabem em uma frase aparecem sem pedir desculpas. Aqui, a comédia nunca é apenas alívio: ela é também linguagem de sobrevivência.
1. Be Melodramatic (2019)
Três amigas na casa dos 30 enfrentam crises de carreira, fim de relacionamentos e memórias que insistem em não ir embora. Como em Fleabag, o humor aqui é quase terapêutico — seco, inesperado e por vezes desconfortável. Lee Eun-jung, uma das protagonistas, é documentarista e carrega um luto que insiste em se manifestar de maneiras estranhas.
O roteiro trata o trauma com tanta leveza quanto precisão, e os diálogos são repletos de pequenas pérolas existenciais. Jeon Yeo-been, Ahn Jae-hong e Chun Woo-hee dão vida a personagens que não tentam parecer fortes o tempo inteiro — e é aí que moram as cenas mais impactantes.
2. My Liberation Notes (2022)
Ao contrário do ritmo frenético de muitas séries, este dorama escolhe desacelerar. Mostra três irmãos presos em rotinas sem brilho, vivendo numa cidade dormitório e sonhando com algo que nem sabem nomear. Yeom Mi-jeong (vivida por Kim Ji-won) é a mais introspectiva — e talvez a que mais lembre Fleabag em seu desejo desesperado por algo que a salve de si mesma.
A série não tem piadas rápidas, mas seu humor é feito de observações sutis e desconcertantes. É um retrato melancólico da vida adulta, com crises silenciosas e descobertas mínimas que se tornam revoluções internas.
3. Because This Is My First Life (2017)
Do lado de fora, é só mais um dorama sobre casamento por conveniência. Mas a protagonista Yoon Ji-ho (vivida por Jung So-min) desafia o clichê desde o início: uma roteirista sem sucesso, invisível no próprio trabalho, que decide compartilhar um contrato de aluguel com um homem estranho.
O sarcasmo da personagem, as frustrações cotidianas e a crítica aos papéis impostos às mulheres coreanas fazem a história ganhar densidade emocional. Como Fleabag, a narrativa explora o que significa desejar algo diferente do que o mundo espera — com falas que parecem jogadas ao vento, mas acertam direto no peito.