Nos doramas, é comum se apaixonar rápido por protagonistas carismáticos, bondosos e bem resolvidos. Mas há um outro tipo de personagem que cativa de forma mais lenta e profunda: os imperfeitos. Aqueles que carregam traumas mal resolvidos, tomam decisões duvidosas, machucam sem querer e nem sempre sabem se expressar.
À primeira vista, podem parecer frios, rudes ou distantes. Mas à medida que suas camadas vão se revelando, fica impossível não se afeiçoar. Essas histórias não vendem idealizações. Elas mostram pessoas complexas, machucadas, às vezes incoerentes — e ainda assim humanas.
São personagens que não se encaixam no molde do "mocinho" ou da "heroína", mas conquistam aos poucos pela honestidade emocional. Eles não são adoráveis à primeira vista, mas quando você menos espera, está torcendo por cada pequeno gesto de abertura. A seguir, quatro doramas que constroem protagonistas imperfeitos de um jeito comovente — e que mostram que amar alguém também é entender seus processos.
1. My Mister (2018)
Ji-an é uma jovem que vive sob enorme pressão financeira e emocional. Dong-hoon é um engenheiro introspectivo, preso a uma vida monótona. Os dois se encontram num contexto de silêncio, dor e desconfiança mútua.
No início, não há empatia automática: há desconfiança, vigilância e até rejeição. Mas, aos poucos, um vínculo improvável se forma. Nenhum dos dois se salva, mas eles passam a se ver com mais humanidade. A relação entre eles — que não é romântica — é um dos retratos mais belos da empatia construída no silêncio.
2. It’s Okay to Not Be Okay (2020)
Ko Moon-young é uma escritora de livros infantis com comportamento antissocial. Moon Gang-tae é um cuidador de saúde mental que vive em função do irmão. Os dois têm traumas profundos e modos completamente diferentes de reagir ao mundo.
Moon-young é difícil de gostar no começo: é impulsiva, egoísta e parece indiferente aos sentimentos alheios. Mas à medida que sua dor aparece, fica claro que sua dureza é só uma camada de proteção. O mesmo vale para Gang-tae, que esconde o próprio sofrimento para cuidar dos outros. Juntos, eles se desconstroem e aprendem a sentir — um processo bonito, cheio de tropeços e ternura.
3. Because This Is My First Life (2017)
Nam Se-hee é um homem metódico, emocionalmente fechado, que propõe um casamento por contrato. Yoon Ji-ho é uma roteirista sem estabilidade financeira, cansada de ceder às pressões sociais.
Se-hee parece frio e insensível. Ji-ho, muitas vezes, evita se posicionar. Ambos guardam frustrações e não sabem lidar bem com sentimentos. Mas, pouco a pouco, o convívio revela gestos de cuidado sutis, escuta silenciosa e respeito mútuo. É um dorama sobre como o afeto também pode ser construído entre duas pessoas cheias de limitações — e ainda assim dispostas a tentar.
4. Move to Heaven (2021)
Cho Sang-gu é um ex-presidiário relutante, chamado para cuidar de um sobrinho que trabalha como “organizador de pertences” de pessoas falecidas. Rude, irritado e sem nenhuma vocação para a sensibilidade, Sang-gu parece impossível de gostar.
Mas conforme lida com as histórias deixadas por estranhos e se aproxima do sobrinho autista que não conhecia, ele se transforma. Sem discursos, sem confissões — só com pequenas escolhas, silêncios e aprendizados. É um dos exemplos mais tocantes de um personagem que você aprende a amar quando descobre de onde veio a dor.