Ator brasileiro, Fernando Mariano é destaque na série "O Caso de Jean Charles", da Disney+
Ativista, ator é também o diretor criativo de publicidade por trás do lançamento dos últimos filmes das franquias "Star Trek" e "Missão Impossível"

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Do Paraná para o mundo. Assim começou cedo a trajetória do ator brasileiro Fernando Mariano, aos 10 anos de idade. Vivendo entre Porto, Espanha e Londres nas últimas duas décadas, o artista multifacetado é um dos destaques do elenco da série "O Caso de Jean Charles", da Disney Plus, que acaba de ser lançada na plataforma de streaming.
Na trama baseada em fatos reais, ele interpreta um dos melhores amigos do protagonista, acidentalmente morto pela polícia britânica durante a perseguição a um terrorista.
Cria do teatro musical, de Angel, em “Rent”, a Bernardo, em “West Side Story”, o ator esteve em “A Chorus Line", ao lado de Antonio Banderas, por cinco anos, e também foi o diretor criativo de publicidade por trás dos últimos lançamentos de grandes franquias, como “Star Trek” e “Missão Impossível”.
No momento, Fernando está mesmo é de olho na boa fase que vive o audiovisual brasileiro, proporcionado pelo sucesso mundial de “Ainda Estou Aqui”.
“Eu tenho muita vontade de atuar mais em português — na minha língua materna. Quando atuamos em nossa própria língua, acessamos nuances que se perdem em outros idiomas. Voltar ao Brasil também é, para mim, um reencontro com o meu "Fernandinho" interior. Cresci e estudei teatro em Portugal, onde sofri pressão para abandonar meu sotaque brasileiro. Era muito jovem — tinha 14 anos. Mudar meu sotaque significou, em muitos aspectos, perder parte da minha identidade. Agora, reencontrar essa parte de mim tem sido um processo bonito e libertador. Voltar ao Brasil me reconecta com minhas raízes e com o porquê de eu ter tanto samba no pé", diz, empolgado.
Fernando teve a oportunidade de entrar para o elenco de “O Caso de Jean Charles” após receber um convite para um teste.
“Inicialmente, fiz para o papel de Gesio, mas acabaram me chamando para um perfil físico mais próximo ao meu. E aí fiz outro teste com o diretor, que correu muito bem. Demoraram um pouco a me dar uma posição, cheguei até a pensar que tinham escolhido outro ator para o meu papel. Até que recebi a ligação e chorei de alegria. Me atravessou, era urgente contar essa história com verdade", afirma ele.
Nesta nova adaptação para o audiovisual da história do brasileiro Jean Charles — a primeira, para o cinema, teve Selton Mello no papel-título —, Fernando incorpora uma síntese de alguns personagens reais próximos ao protagonista.
“A série faz uma abordagem diferente. Comecei esmiuçando o roteiro, que era rico em detalhes. Então, passei dois meses em um trabalho intenso de pesquisa e preparação. No processo, me inspirei fortemente no Alex, primo do Jean. Eles emigraram juntos. Antes de irem para Londres, viveram em São Paulo, e essa cumplicidade era fundamental para mim", conta o ator, que viveu a experiência de conhecer a família de Jean.
“Foi uma conversa profunda, difícil, mas essencial. Todos nós — o elenco que interpreta a família — seremos eternamente gratos por essa abertura. No dia da estreia, recebemos uma mensagem emocionante da família, agradecendo por darmos corpo a uma verdade que precisava ser contada com pureza. Foi o maior presente que poderíamos receber. Um sentimento de missão cumprida", relembra.
No set, dar corpo e voz a algumas cenas não foi uma tarefa fácil, acrescenta Fernando.
Além de atuar, Fernando também se dedica ao ativismo pelos direitos LGBT. Ele conta que esse envolvimento começou quando decidiu se afastar da igreja evangélica, na qual foi criado. Filho de pastores, cresceu em um ambiente extremamente conservador e chegou a passar por terapia de conversão, experiência que descreve como muito dolorosa.
Aos 15 anos, diante da dificuldade de se aceitar, ele resolveu sair de casa, deixar a igreja e seguir sua própria trajetória. Com isso, ficou anos sem contato com os pais. Com o tempo, no entanto, os laços familiares foram reatados, e os pais, ao compreenderem o sofrimento do filho, também se afastaram da igreja. Para Fernando, eles perceberam que a religião deveria estar baseada no amor, e não no ódio.
Ele reforça que amar não é pecado, é um ato humano. E critica a violência contra a comunidade LGBT, como a tentativa de atentado em Copacabana durante o fim de semana do show da Lady Gaga, que considera um exemplo do quanto esse ódio ainda está presente.
Fernando acredita que esse tipo de comportamento é completamente incompatível com qualquer compromisso religioso ou cristão, e defende que a verdade precisa sempre vir à tona, pois considera a verdade a arma mais poderosa que se pode ter.