Bebês Reborn: Sucesso das bonecas gera discussões sobre saúde mental, luto e fetichização do afeto

Mais conhecidas como "bebê reborn", as bonecas reborn são intens de coleção que estão sendo usadas em casos terapêuticos, como traumas gestacionais.

Publicado em 08/05/2025 às 18:10
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As bonecas reborn, réplicas hiper-realistas de recém-nascidos, estão fazendo sucesso nas redes sociais através de influenciadoras digitais, que mostram o item sendo tratado como um bebê de verdade.

Recentemente, a influenciadora Carol Sweet viralizou na internet ao mostrar um "parto" simulado de um bebê reborn.

Na postagem, a youtuber retira o boneco de uma caixa decorada como se fosse um útero. A cena em questão dividiu opiniões nas redes sociais e gerou debates sobre saúde mental, luto, maternidade e a maneira como temas íntimos e delicados são tratados na cultura digital.

A princípio, as bonecas reborn são vendido como itens de coleção. No entanto, esses tipos de bonecas estão sendo usadas em contextos terapêuticos específicos — como nos casos de perdas gestacionais, traumas e elaboração do luto.

De acordo com a psicóloga e especialista em Neurociência do Comportamento Laís Mutuberria, as bonecas reborn são adequadas quando usadas em algumas abordagens clínicas, e inseridas em uma metodologia estruturada e mediado por profissionais qualificados.

A psicóloga explica que: "nessas situações, a boneca não é o fim em si, mas um recurso simbólico dentro de um processo terapêutico seguro, baseado em vínculo e escuta".

Apesar de serem benéficas em ambientes clínicos, as bonecas reborn podem causar efeitos opostos ao desejado se usadas de maneira indiscriminada, explica a especialista.

Caso não houver um acompanhamento médico, experiência simbólica pode se tornar em uma fetichização ou de exploração comercial da dor. 

"Objetos não são, por si, terapêuticos. A potência está no processo construído entre terapeuta e paciente, afirma".

Gracyanne Barbosa "adota" bebê reborn

O assunto ganhou ainda mais destaque após declarações de figuras públicas. Nesta terça-feira (06/05), a influenciadora fitness e ex-BBB Gracyanne Barbosa, de 41 anos, compartilhou seu desejo de ser mãe e revelou o valor emocional que tem por sua boneca reborn.

“Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade”, escreveu.

Segundo uma psicóloga, embora seja legítimo expressar desejos e sentimentos por meio de objetos simbólicos, é importante ter cuidado com a forma como essas vivências são exibidas e interpretadas nas redes sociais.

O que vemos é uma tendência crescente de transformar processos humanos profundos, como o luto, o amor ou o nascimento, em conteúdos rápidos, higienizados e performáticos, diz Mutuberria.

Para a especialista, há uma grande romantização do parto nas redes sociais, como o caso do vídeo de Carol Sweet.

O parto real é atravessado por dor, sangue, medo e entrega. Reduzir esse evento a uma cena limpa e “instagramável” esvazia sua potência simbólica e corporal — afirma.

A situação se aplica lógica do fast food, que é quando a lógica da rapidez e do consumo afeta a maneira de lidar com a complexidade da vida emocional, explica Laís.

A comida chega em minutos, o amor depende de um “match”, a felicidade precisa caber em um story filtrado. O luto, o amor e o nascimento são experiências fundamentais, e não podem ser tratados com a lógica do fast food, afirma.

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