"Love bombing": Quando a manipulação emocional esconde possíveis traços de psicopatia

Esse comportamento abusivo, adotado por indivíduos que possuem o interesse de ter o controle da relação, pode causar consequências na vida da vítima.

Publicado em 17/03/2025 às 18:13
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No início de um relacionamento, é normal, e natural, que demonstrações de amor sejam realizadas. Contudo, quando essas projeções de afeto acontecem em excesso e de forma intensa demais, pode ser um sinal de alerta.

Esse comportamento, conhecido como "love bombing" (bombardeio de amor, tradução livre), pode esconder interesses manipuladores e gerar consequências emocionais negativas.

Embora uma demonstração intensa de afeto genuíno seja muito semelhante ao comportamento de "love bombing", há um fator que difere ambos: a entrega da vulnerabilidade.

Enquanto ser extremamente afetuoso envolve a doação do íntimo ao reconhecer o valor do outro, o comportamento de "love bombing" tem o intuito de que o outro entregue a sua própria vulnerabilidade para torná-lo emocionalmente vulnerável.

"Por exemplo, no caso dos pais que têm um cuidado com seus filhos, que dariam a sua vida pelos filhos, que se matariam por eles, que se tivessem pegando fogo no lugar, eles se queimariam para resgatar os filhos. Ou como as pessoas que entregam rim, entregam partes de si, se doam", afirma Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.

Mas o que leva alguém a adotar esse comportamento?

Quem pratica o "love bombing" busca ser amado na mesma intensidade com que finge demonstrar amor, tendo como principal objetivo reassegurar sua importância no mundo.

No entanto, levando para um lado mais complexo, o "love bomber" pode estar associado a diversos quadros clínicos, como boderline ou até mesmo a psicopatia.

"Obviamente isso pode dizer sobre falhas ambientais, falhas afetivas em questões no sentimento do afeto na infância. E, por isso, a pessoa sai no mundo como uma espécie de um predador amando para ser amado. Então, é quase que ela simula, ela forja um sentimento enorme pelo outro para que o outro manifeste o mesmo em relação a ela, para ela reassegurar a sua importância no mundo, ressaltou Marcos Torati.

O que um "love bomber" pode fazer ao não ser correspondido?

Ao estabelecer suas ações, o "love bomber" põe em prática a modalidade de relacionamento narcísica, onde um indivíduo usa outro indivíduo para lhe dar um lugar importante na relação.

E, quando o "love bomber" não consegue alcançar esse lugar de dominância na relação, ele simplesmente pode desaparecer como se não tivesse nenhum significado, mas ainda com a esperança de o outro possa correr atrás.

Por outro lado, se o "love bombing" for consumado - uma vez com o domínio em mãos, o "love bomber" passa a desprezar a outra pessoa.

É possível perceber que o(a) parceiro(a) está fazendo "love bombing"?

Apesar de ser possível perceber que o(a) parceiro(a) adotou esse comportamento, é necessário, de antemão, ter a percepção de si próprio, e não do outro.

Para perceber que o excesso de confiança e amor dado por uma pessoa vai além de um desenvolvimento de intimidade autêntico, é preciso estar em uma posição mais afastada emocionalmente.

Quando uma pessoa não tem interesse ou não quer receber o amor de uma determinada pessoa, ela consegue perceber facilmente que um indivíduo está apenas tentando manipulá-la.

"O próprio enamoramento do sujeito que recebe essas ações do "love bombing" é que dificulta a interpretação de que isso é um excesso. Por isso, quando alguém está apaixonado, é difícil perceber os abusos na relação de início", diz Torati.

Quais são os problemas que uma vítima de "love bombing" pode ter?

Após receber todas as declarações de amor possíveis e achar que é a razão da existência do "love bomber" é ela, a vítima passa sentir que é desinteressante, uma vez que o outro indivíduo não investe mais nela.

A partir disso, a vítima começa a fazer questionamentos do tipo: "por que será que não tenho a mesma graça?" e "por que ele não liga mais para mim?".

Com essas perguntas, a vítima entra na fase de investir no "love bomber", para recuperar o lugar que ele mesmo fundou e tirou.

Dessa forma, cumprindo a meta do "love bomber", ter o controle da relação de uma maneira escondida.

Além disso, a vítima passa a pensar o que o abusador está pensando sobre ela e tenta organizar a própria conduta para que ela volte a ser amada.

"Por exemplo, se essa pessoa conversa com alguém que não seja o parceiro, ela fala: 'ah não, ele não vai gostar com quem eu converse, então eu não vou conversar com mais ninguém. Só vou me dedicar a me relacionar com ele', ou seja, já mimetizou a mente do abusador e todas as ações são."

Como consequência, a vida da vítima começa a empobrecer, pois ela vive em torno do parceiro para que ele não o largue.

"A pessoa pode começar a perder a espontaneidade, sentir que tudo o que ela fala ou faz é um pisar em ovos. Ela faz coisas para evitar briga, conflitos e perdas, começa a se atribuir uma autoculpa, começa a ter um ataque cardíma, hipervigilância em relação à própria conduta, com muito medo de errar para que o outro não deixe", lembra o psicólogo.

O "love bombing" acontece apenas em relacionamentos românticos ou também em amizades e relações familiares?

Isso pode se projetar nas amizades facilmente, tendo em vista que pessoas com questões narcísicas atribuirão seus parceiros(as) como "melhor amigo(a)" ou a uma "pessoa importante".

"Aliás, o mundo capitalista é cheio disso. Como o networking, uma pessoa não quer perder os benefícios e os favores, a pessoa pode dizer assim, como outra importante, como outra especial, fazer esse uso dessas relações para que ela mesma ganhe oportunidades, lugares", ressalta Marcos Torati.

O que fazer ao sofrer um "love bombing"?

A princípio, ter condições de identificar. Em seguida, ver se consegue se separar do "love bomber", já que ele construiu uma relação de controle. Com essas duas ações, a pessoa terá muitas chances de se afastar do "love bomber"  

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