Ícone de elegância e poder, o salto alto é presença garantida no guarda-roupa de muitas mulheres. Mas, por trás do charme, pode estar a origem de um problema de saúde que afeta cerca de 30% dos brasileiros: o joanete, ou hálux valgo, segundo a Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé).
Trata-se de uma condição progressiva que, se diagnosticada e tratada precocemente, pode ter sua evolução desacelerada — prevenindo lesões mais graves e, em muitos casos, evitando a necessidade de cirurgia.
A deformidade atinge principalmente mulheres, em grande parte devido ao uso frequente de calçados com bico fino, como o clássico scarpin. Com o tempo, o uso prolongado desse tipo de sapato pode causar alterações na articulação do dedão, provocando dor, desconforto e mudanças na estrutura dos pés.
“O salto alto coloca mais peso na frente do pé, força o dedão para uma posição anormal e pressiona as articulações podendo causar inflamação. O uso de sapatos de bico fino que comprimem os dedos, saltos acima de 5cm e uso frequente e prolongado ao longo dos anos aumenta consideravelmente o risco de desenvolver joanete”, alerta o médico ortopedista Fernandes Arteiro, especialista em cirurgia do pé e tornozelo que atende na Clifor Olinda, Hospital Santa Joana, Hospital Esperança, Solb, Ortho, no Hospital Português e no Hospital da Restauração.
O problema não é apenas estético. Em muitos casos, o joanete compromete a qualidade de vida, gerando limitações funcionais e dores persistentes.
“O joanete é uma deformidade que ocorre na base do dedão do pé, no osso metatarso e na articulação do metatarso falangeano, causando uma protuberância dolorosa. Com o tempo, forma uma angulação curvando-se em direção aos outros dedos, piorando o desalinhamento”, destaca o médico ortopedista.
Entre os principais sintomas estão dor e sensibilidade na área, inchaço, vermelhidão e dificuldades para caminhar (em casos mais avançados).
Joanete pode afetar a postura
O médico Fernandes Arteiro destaca que o joanete pode modificar a maneira como a pessoa pisa e caminha, o que interfere diretamente na postura.
Essa alteração no alinhamento do corpo pode desencadear dores nos tornozelos, joelhos, quadris e até na região da coluna.
“A sobrecarga nas articulações é um efeito comum da adaptação corporal à deformidade”, destaca.
Fatores de risco
- Hereditariedade;
- Uso excessivo de calçados inadequados;
- Atividades esportivas de impacto;
- Sobrepeso e sedentarismo.
Como prevenir joanete ao usar salto alto?
- Escolha saltos mais largos e estáveis;
- Use protetores ou palmilhas de silicone para reduzir a pressão;
- Faça exercícios para fortalecer os pés e alongar os dedos;
- Alterne o salto com sapatos confortáveis e baixos.
Tratamento
O tratamento pode variar de acordo com a gravidade do caso. Entre as opções estão: troca do tipo de calçado, priorizando modelos com a frente mais larga e que se ajustem melhor ao formato do pé; uso de órteses, que ajudam a corrigir ou diminuir o atrito entre o joanete e o calçado; cirurgia corretiva, indicada para os casos mais graves.
“Antigamente existia um medo de realizar cirurgia para tratar o joanete, mas com a modernização das técnicas, o procedimento se tornou muito mais simples. A cirurgia minimamente invasiva, ou cirurgia percutânea, é realizada com incisões muito pequenas, uma alternativa menos invasiva à cirurgia tradicional, além de causar cicatrizes menores e menos visíveis, proporcionando uma aparência estética mais agradável. Com incisões menores, a recuperação é mais rápida, permitindo ao paciente voltar às suas atividades diárias em menos tempo”, explica Fernandes Arteiro.
O ortopedista também ressalta que, graças aos avanços nas técnicas cirúrgicas, hoje é possível operar os dois pés no mesmo dia — um progresso significativo que acelera a recuperação e melhora a qualidade de vida dos pacientes.