Embora menos frequente do que outros tipos de câncer ginecológico, como o de colo do útero, o câncer de ovário continua sendo o mais letal entre eles.
Sua principal armadilha é a evolução silenciosa, que dificulta o diagnóstico precoce e reduz significativamente as chances de cura.
Segundo o ginecologista Eduardo Batista Cândido, Presidente da Comissão Nacional de Ginecologia Oncológica da FEBRASGO, cerca de 65% dos casos são descobertos em estágios avançados.
“Por isso, nos anos 2000, o câncer de ovário era conhecido como o ‘matador silencioso’, já que apresenta sintomas pouco específicos”, alerta o especialista.
Estima-se que mais de 670 mil novos casos de câncer de ovário ocorram anualmente em todo o mundo — e metade das pacientes diagnosticadas acabam não resistindo.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê de 6 a 7 mil novos casos por ano, o que reforça a importância de ampliar a conscientização e o cuidado com a saúde ginecológica.
Sintomas muitas vezes ignorados
Os sinais da doença tendem a ser confundidos com problemas gastrointestinais comuns, o que contribui para o atraso no diagnóstico.
Entre os sintomas mais relatados estão: inchaço abdominal, gases, sensação de estômago cheio, mudanças no apetite e no funcionamento do intestino, com constipação ou diarreia frequentes.
“Esses sintomas precisam ser levados a sério, sobretudo em mulheres pós-menopausa”, orienta o Dr. Eduardo Cândido.
Fatores de risco e formas de prevenção
A idade é um dos principais fatores de risco: o câncer de ovário é mais comum após a menopausa, com pico de incidência por volta dos 60 anos.
O histórico familiar também exige atenção, especialmente quando há mutações genéticas como as dos genes BRCA1 e BRCA2, que aumentam o risco tanto de câncer de ovário quanto de mama.
“Pacientes com essas mutações genéticas se beneficiam de uma abordagem preventiva, como a salpingooforectomia bilateral, que consiste na retirada dos ovários e trompas. Isso pode reduzir drasticamente a mortalidade por câncer de ovário”, explica o médico.
Um dos maiores desafios: diagnosticar precocemente
Ao contrário de outros tipos de câncer, como o de colo do útero, o câncer de ovário ainda não conta com um método eficaz de rastreamento populacional.
Exames como o ultrassom transvaginal e o marcador tumoral CA-125 não têm sensibilidade e especificidade suficientes para detectar o tumor em seus estágios iniciais.
“Esses métodos só detectam alterações quando o tumor já está avançado, o que compromete a efetividade do diagnóstico precoce”, pontua Cândido.
Estudos de larga escala com mais de 100 mil mulheres revelaram que a realização rotineira desses exames não reduz a mortalidade associada à doença, o que evidencia a necessidade de vigilância individualizada, principalmente em mulheres com fatores de risco.
Tratamentos convencionais e novas esperanças
O tratamento padrão envolve cirurgia para remoção completa do tumor e quimioterapia com medicamentos como as platinas e os taxanos.
Mesmo assim, o risco de recidiva é alto: até 75% das pacientes enfrentam o retorno da doença, muitas vezes exigindo novos ciclos de tratamento até que deixem de surtir efeito.
Nos últimos anos, no entanto, a medicina tem avançado com terapias inovadoras. Os inibidores de PARP, por exemplo, têm mostrado resultados animadores em pacientes com determinadas mutações genéticas, ajudando a controlar a progressão da doença e a melhorar a qualidade de vida.
A imunoterapia também começa a ganhar espaço como alternativa de tratamento, oferecendo novas perspectivas de enfrentamento.
Cuidar de si é parte da prevenção
Adotar hábitos saudáveis também pode colaborar para a prevenção.
“Manutenção do peso, alimentação rica em fibras, prática regular de atividade física e visitas regulares ao ginecologista são pilares fundamentais do autocuidado”, explica o Dr. Eduardo Cândido.
Ele ressalta ainda que mulheres com histórico familiar significativo devem buscar aconselhamento genético para avaliação de risco. Mesmo sendo uma doença silenciosa, o câncer de ovário precisa ser levado a sério.
A atenção aos sinais do corpo, o conhecimento sobre os fatores de risco e o avanço das terapias representam passos fundamentais para detectar precocemente e lidar de forma mais eficaz com esse tipo de tumor.