Entre esperas e esperanças: o que cada "tentante" precisa saber neste Dia das Mães
A médica Natália Fischer destaca os caminhos possíveis para quem sonha engravidar, a importância do apoio e os cuidados essenciais com a saúde.

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Para muitas mulheres, a maternidade é um sonho intenso — mas, por vezes, recheado de desafios. As chamadas “tentantes”, que estão em busca da gravidez, enfrentam uma jornada que pode ser longa, emocionalmente desgastante e, em datas simbólicas como o Dia das Mães, ainda mais sensível.
No entanto, há caminhos possíveis, alternativas viáveis e formas de tornar essa trajetória mais leve. Quem explica é a médica Natália Fischer, especialista em reprodução humana, que reforça a importância de apoio, informação e planejamento ao longo do processo.
Segundo a especialista, o primeiro passo é entender que cada mulher possui um ritmo e uma realidade. Por isso, o planejamento da gravidez deve ser individualizado.
“Com menos de 35 anos, recomenda-se procurar ajuda médica após um ano tentando engravidar naturalmente. Com mais de 35, esse tempo reduz para seis meses. Já em mulheres com 40 anos ou mais, o ideal é buscar logo um especialista em reprodução humana para otimizar as chances”, orienta Natália.
A idade é um fator determinante quando se trata de fertilidade. À medida que os anos passam, tanto a quantidade quanto a qualidade dos óvulos diminuem.
Isso se deve à redução da reserva ovariana — ou seja, ao número de óvulos que o corpo feminino disponibiliza por mês.
E diferente dos homens, que produzem espermatozoides continuamente, as mulheres nascem com uma quantidade limitada de óvulos.
“Então, todos os meses a gente vai perdendo uma certa quantidade e liberando cada vez menos óvulos por mês até o momento que ele vai acabar, que é o momento da menopausa [...] Por isso a nossa pressa, principalmente relacionada à idade feminina”, ressalta a médica.
Mas nem tudo gira em torno do relógio biológico. Estilo de vida e cuidados com a saúde são aspectos fundamentais para quem deseja engravidar.
Ter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente, evitar o cigarro e o consumo excessivo de álcool são práticas que aumentam as chances de sucesso.
Natália Fischer reforça que mulheres saudáveis, mesmo em idade mais avançada, podem ter melhores resultados do que pacientes mais jovens com hábitos prejudiciais.
Além disso, algumas condições clínicas, como a endometriose ou a síndrome dos ovários policísticos, podem dificultar a concepção.
Por isso, é essencial fazer exames iniciais para ajustar vitaminas e identificar sinais de infertilidade, como cólicas intensas, menstruação muito volumosa ou ciclos menstruais desregulados.
Quando buscar um tratamento mais avançado?
De acordo com a especialista, procurar um especialista em reprodução assistida não significa, necessariamente, partir para uma fertilização in vitro.
“No consultório, analisamos todos os exames, conversamos com o casal [...] Às vezes, o casal vai buscando a gravidez há um ano e se descobre um fator masculino [...] Porém, existem algumas indicações absolutas, a exemplo de não haver espermatozoides, trompa obstruída ou idade muito avançada da mulher, com baixa reserva ovariana”, explica.
Há também a alternativa do congelamento de óvulos, ideal para mulheres que querem adiar a maternidade.
A recomendação é que esse procedimento seja feito entre os 30 e 35 anos, fase em que a qualidade e a quantidade dos óvulos ainda são favoráveis.
“Mulheres com outras idades podem congelar, mas as taxas de sucesso para uma futura gravidez são melhores com o congelamento dos óvulos o quanto mais cedo”, orienta a médica.
Entretanto, o acesso ao congelamento de óvulos ainda é restrito. Na rede pública, o procedimento costuma ser autorizado apenas em casos específicos, como câncer ou endometriose grave.
Os planos de saúde também não costumam cobrir a técnica quando o objetivo é o planejamento reprodutivo.
Para quem não puder congelar, Natália recomenda a realização de exames hormonais e de imagem que ajudam a entender a reserva ovariana da mulher.
A força da rede de apoio durante o tratamento
Mesmo seguindo todos os passos indicados, muitas mulheres não conseguem engravidar — e isso precisa ser acolhido com empatia.
“Muitas vezes a mulher sofre sozinha e leva um sofrimento emocional muito maior porque ela não consegue falar, se expressar [...] Um dos momentos muito bonitos que achei foi como ela tá conseguindo voltar agora o que ela era”, comenta a médica, referindo-se ao depoimento da atriz Mariana Rios, que compartilhou sua experiência nas redes sociais.
A dor de não ser mãe ainda é pouco visibilizada. A mulher que tenta, mas ainda não conseguiu, muitas vezes não encontra espaço nem mesmo nas homenagens do Dia das Mães.
“A gente dá presente para avós, tias, madrinhas [...] lembrar no Dia das Mães daquelas que ainda não são mães, mas o desejo mais sincero e profundo delas é um dia conseguir ser, é uma forma de acolhimento e empatia”, pontua Natália.
Quando é hora de repensar o caminho?
Desistir pode parecer uma palavra dura — e, de fato, não existe um número fixo de tentativas. Mas é importante ter uma conversa honesta com o médico sobre alternativas possíveis.
“Claro que há um momento que a gente já ‘fez de tudo’ e é preciso conversar com a paciente para falar sobre outras possíveis formas de maternidade”, afirma a especialista, que destaca opções como a doação de óvulos ou a adoção.
Ela reforça que as chances de sucesso variam com a idade e o número de tentativas.
“Inclusive, escrevi um tratado recente falando exatamente isso, paciente 43 mais [...] Já a partir dos 47, a Sociedade Americana de Reprodução Humana já não indica mais nenhum tratamento para fertilização.”
A esperança continua
Para quem segue firme na jornada da maternidade, a mensagem da especialista é clara: persistência e fé.
“A gente tem um alto potencial em taxa de gravidez [...] O principal é acreditar, manter a fé, conseguir superar as falhas, os processos e continuar com os tratamentos subsequentes”, conclui a médica Natália Fischer.
“O conteúdo deste site é destinado a fins informativos e educacionais, e não se destina a fornecer aconselhamento médico, dermatológico, nutricional ou de qualquer outra natureza. As informações aqui apresentadas não devem ser utilizadas para diagnosticar ou tratar qualquer problema de saúde. Recomendamos que você consulte um profissional de saúde qualificado para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado.”