Há 28 anos, Globo sabotava a própria novela ao esticá-la em mais de 50 capítulos

Decisão da emissora de alongar a trama em 54 capítulos comprometeu o enredo, derrubou a audiência e afetou a carreira de grandes nomes

Publicado em 07/05/2025 às 8:19
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Em 5 de maio de 1997, há exatos 28 anos, a Globo estreava "Zazá", novela das sete escrita por Lauro César Muniz.

Protagonizada por Fernanda Montenegro, a trama prometia inovação ao apresentar uma milionária excêntrica apaixonada por aviação, que se dizia descendente direta de Santos Dumont e sonhava construir o primeiro avião atômico brasileiro.

Além disso, a personagem decidia contratar sete anjos da guarda para seus sete filhos, com o objetivo de transformar a vida deles. O enredo original, no entanto, foi drasticamente alterado por decisão da própria emissora.

Com problemas na produção da novela seguinte, "Corpo Dourado", a Globo optou por esticar "Zazá" em 54 capítulos extras — totalizando 215 episódios, quando o previsto eram 161. A decisão comprometeu o ritmo da história e causou forte queda na audiência.

Em sua biografia, Lauro César Muniz relatou a frustração com o pedido da emissora: "Mais 50 capítulos, um absurdo! A audiência caiu ainda mais."

O autor teve que reescrever o rumo da protagonista e criar novos obstáculos para o casal vivido por Marcello Novaes e Letícia Spiller, que repetiam a parceria de sucesso de "Quatro por Quatro" (1994).

O vilão Silas, interpretado por Ney Latorraca, ganhou mais destaque na tentativa de manter o público interessado. O ator chegou a reviver a personagem Anabela Freire, de "Um Sonho a Mais" (1985), em uma participação inusitada.
"Foi a solução que encontrei. Zazá descobre que os filhos são vítimas de chantagem e perde a fábrica. Vai recomeçar a vida do nada", contou Muniz ao jornal O Globo.

Com a narrativa repetitiva e o desgaste natural provocado pelo prolongamento, a audiência despencou. O crítico Fábio Costa destacou no livro "Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas" que o esticamento prejudicou a recepção da novela.

A experiência foi tão negativa que Fernanda Montenegro decidiu se afastar das novelas por alguns anos, retornando apenas em 2001, na também mal-sucedida "As Filhas da Mãe".

"Zazá" também entrou para a história por ser a última participação da atriz Sandra Bréa na televisão. Diagnosticada com HIV nos anos 1990, ela apareceu no último capítulo da novela interpretando a si mesma em um evento que abordava a luta contra a Aids — tema da personagem Jaqueline (Adriana Londoño).

Nunca reprisada pela TV aberta, "Zazá" foi disponibilizada no Globoplay no fim de 2023, permitindo que o público possa rever ou conhecer a obra marcada por ambição, reviravoltas e uma esticada que comprometeu seu legado.

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