Marisqueiras quilombolas lançam coleção de biojoias e peças em crochê hiperbólico na Fenearte 2025
A nova coleção une crochê hiperbólico e biojoias feitas com 17 espécies de conchas recolhidas no litoral norte de Pernambuco. Saiba mais!

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As mãos que mergulham nas águas salobras para recolher mariscos agora tecem fios com o mesmo cuidado com que tiram da areia as conchas que o mar oferece. São as mãos firmes e criativas das marisqueiras quilombolas da Povoação de São Lourenço, em Goiana, no litoral norte de Pernambuco.
Nesta quarta-feira (9), elas ganham novos olhares com o lançamento de uma coleção que é, ao mesmo tempo, arte, resistência e poesia: biojoias e peças produzidas com a delicada técnica do crochê hiperbólico serão apresentadas ao público na 25ª Fenearte – a maior feira de artesanato da América Latina.
Entre a Zona da Mata e o mar, a cerca de 66 km do Recife, São Lourenço é uma comunidade quilombola reconhecida desde 2005 pela Fundação Cultural Palmares. Com cerca de 300 famílias, a maioria vive da pesca artesanal e da coleta de mariscos, atividades que moldaram gerações e que hoje inspiram cores, texturas e formas das criações artesanais.
Ali, cada amanhecer tem cheiro de mangue e som de ondas quebrando, cenário que embala a rotina dessas mulheres que aprenderam a dialogar com a natureza e transformar o que recolhem em beleza e sustento.
A coleção 2025 carrega o frescor do litoral e a sofisticação de um design sustentável. São bolsas que parecem ondular como o mar, brincos que ecoam o formato dos búzios e lamparinas cuja luz remete às noites tranquilas nas praias de Carne de Vaca, Atapuz e Ponta de Pedras.
Tudo tecido com a técnica do crochê hiperbólico, baseada em conceitos matemáticos de superfícies curvas, que confere às peças um movimento orgânico, quase vivo.
“Foi nosso maior desafio e também nossa maior alegria. O crochê hiperbólico nos ensinou a pensar o fio como água, a dar movimento ao que antes era rígido”, diz Cecília Gouveia, uma das líderes do coletivo, com o olhar brilhando de orgulho.
A matéria-prima vem de um território de biodiversidade abundante. Conchas, búzios, cascas de marisco e pequenas pedras são recolhidos com consciência pelas artesãs, respeitando o tempo das marés e o ciclo da vida marinha. Ao todo, 17 espécies de moluscos compõem as biojoias e acessórios, que não só adornam, mas também carregam histórias de pertencimento e cuidado com o planeta.
O trabalho das marisqueiras já chamou a atenção na Fenearte de 2024, quando surpreenderam o público com um desfile que usava pontos de rede de pesca para confeccionar roupas e bolsas. Este ano, elas voltam ainda mais fortes, consolidando-se como referência em inovação artesanal e economia circular.
A expectativa é de um crescimento de 25% no faturamento em relação ao ano passado – uma projeção que reflete o reconhecimento crescente de um trabalho onde tradição e inovação caminham lado a lado.
As imagens que compõem o ensaio fotográfico da nova coleção foram clicadas por Anderson George, designer e fotógrafo que soube captar a essência do lugar: o mangue, o mar, o céu de tons pastéis ao entardecer e as mãos que, com fios e agulhas, constroem futuros.
A nova coleção, produzida pelas artesãs Cecilia Gouveia, Iara Cardoso, Conceição Cruz e Ana Maria, estará à venda na Rua 5, no estante da Loja MAPE — Moda Autoral de Pernambuco.
Serviço
- O quê: Marisqueiras quilombolas lançam coleção de biojoias com crochê hiperbólico na Fenearte 2025
- Quando: De 9 a 20 de julho de 2025
- Onde: Centro de Convenções de Pernambuco, Olinda
- Ingressos: À venda no site oficial e na bilheteria do evento