Você trocaria seu terapeuta pelo ChatGPT? Especialistas discutem os limites e possibilidades da IA na saúde mental
Com a IA se tornando cada vez mais presente, será que ferramentas como o ChatGPT podem substituir uma sessão de terapia tradicional? Entenda

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A procura por apoio psicológico é cada vez maior, e a oferta de profissionais, insuficiente. Nesse cenário, muitas pessoas começam a se perguntar: será que a inteligência artificial pode assumir parte desse papel? Ferramentas como o ChatGPT já estão sendo usadas para responder perguntas emocionais, organizar rotinas terapêuticas e até ajudar terapeutas sobrecarregados.
Para Johanna Löchner, professora de Psicologia Clínica na Universidade de Erlangen-Nurembergue (Alemanha), esse uso deve crescer principalmente entre os jovens, que já têm o hábito de buscar conselhos online, especialmente via comandos de voz nos celulares.
Segundo a especialista, a IA pode ajudar a reduzir o estigma associado à saúde mental. Afinal, para muitos, é mais fácil desabafar com uma máquina do que procurar um terapeuta humano, especialmente quando há vergonha envolvida.
Mas atenção: isso não significa que a inteligência artificial possa substituir a psicoterapia. Ainda não há tecnologia capaz de oferecer uma escuta terapêutica profunda, elaborar um plano clínico e conduzir sessões com a sensibilidade e a personalização que a saúde mental exige.
IA como conselheira? Depende do que você pergunta
Para que um chatbot como o ChatGPT ofereça respostas úteis, a qualidade do comando (ou prompt) é fundamental. Quanto mais clara e precisa for a pergunta, maior a chance de receber uma resposta adequada.
Um teste mostrou que descrições vagas, como:
- “Estou irritado, sem fome, e só quero ficar deitado. Não consigo dormir. O que está acontecendo comigo?”
- …levam a respostas genéricas, com sugestões leves, como “sair para tomar ar fresco” ou “conversar com alguém”.
Mas quando o usuário descreve sintomas com termos específicos, como "apatia", "insônia", "irritabilidade", "perda de apetite", a IA reconhece possíveis sinais de transtornos emocionais, como a depressão, e recomenda procurar um especialista. Ou seja: quanto mais técnica e objetiva for a descrição, mais assertiva será a resposta da IA.
ChatGPT é bom até em terapia de casal, em certos aspectos
Um estudo recente testou as respostas do ChatGPT-4o em simulações de sessões de terapia de casal. A IA e terapeutas reais responderam a 18 pequenas cenas (ou vinhetas) típicas de atendimentos. Mais de 800 pessoas avaliaram as respostas, sem saber quem as havia escrito.
Surpreendentemente, as respostas do ChatGPT foram, em muitos casos, tão bem avaliadas quanto as dos profissionais humanos e, às vezes, até melhores em termos de clareza e acolhimento.
No entanto, especialistas como Johanna Löchner e Lasse Sander (da Universidade de Freiburg) alertam: o estudo tem limitações importantes. Para Sander, por exemplo, “terapia de casal não é psicoterapia clínica”. E a eficácia real de uma terapia não pode ser medida apenas por percepção ou linguagem empática.
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Onde a IA pode ajudar de verdade na psicoterapia
Apesar dos limites, pesquisadores veem um enorme potencial na IA como apoio ao trabalho terapêutico.
Segundo Markus Langer, também da Universidade de Freiburg, a inteligência artificial pode ser usada como uma ferramenta de bastidor: organizando agendas, sugerindo materiais personalizados, acompanhando o progresso entre sessões e até ajudando o paciente a manter a disciplina com exercícios terapêuticos.
Além disso, para quem enfrenta barreiras como vergonha, distância ou falta de recursos, um chatbot pode ser o primeiro passo para acessar ajuda. É uma forma de quebrar o silêncio, criar vínculo com o autocuidado e, quem sabe, encontrar coragem para procurar um profissional humano depois.
O futuro da terapia será híbrido?
A tecnologia, por si só, não substitui o toque humano, a escuta empática, o olhar clínico. Mas pode, sim, ser uma extensão poderosa do trabalho terapêutico, principalmente num mundo onde a saúde mental virou urgência global.
No fim das contas, a pergunta não é se a IA vai substituir os terapeutas. A questão real é: como a IA pode ajudar a levar o cuidado psicológico a mais pessoas, com mais agilidade e menos barreiras.
E, nesse caminho, saber usar bem essas ferramentas será uma habilidade essencial, tanto para profissionais quanto para pacientes.