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Recife é tema de episódio em série que retrata urbanismo no Brasil

Patrocinada pelo CAU-BR, produção destaca o Porto Digital e os desafios da requalificação no centro histórico da capital pernambucana

Cadastrado por

Alice Lins

Publicado em 15/06/2025 às 19:56
Imagem do Recife Antigo - Reprodução/São Paulo nas Alturas

O Centro Histórico do Recife é o único do país que abriga uma iniciativa de reocupação e requalificação há 25 anos consecutivos, sem interrupções ou disputas políticas. Ainda assim, uma boa parte desse centro histórico, que vai dos bairros de São José a Santo Amaro, continua esvaziada e pedindo por investimentos.

É nesse contexto que Recife foi a capital escolhida para representar o Nordeste em uma série documental patrocinada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR). A iniciativa busca mapear experiências urbanas relevantes em diferentes regiões do país, discutindo os desafios e acertos de cada uma.

"A ideia era escolher uma capital por região. Então, Recife foi a do Nordeste. Eu acho que é sempre bom mostrar bons exemplos. O Porto Digital é uma grande iniciativa e, como eu falo no vídeo, é uma raridade: parque tecnológico no Brasil levar em conta urbanismo", afirma Raul Juste Lores, jornalista e pesquisador de arquitetura e urbanismo.

A série é dividida em dois episódios para cada cidade escolhida. O primeiro foi ao ar no dia 1º de junho. Já o segundo, estreia neste domingo (15).

No Recife, o vídeo se volta para o Porto Digital, polo de tecnologia e inovação instalado no coração do Recife Antigo. Um dos motivos da escolha foi o fato do parque tecnológico ser diferente da maioria dos outros parques brasileiros.

Segundo Raul, a maioria deles, no Brasil, imita universidades americanas do século XIX ou da primeira metade do século XX: são isolados, dependem do carro para tudo e não promovem transformações nem causam impacto real na cidade.

"O Porto Digital não só leva vida a uma área que estava muito degradada no Recife Antigo, mas permite encontros, permite vida de rua, restaurantes, botecos e bares, coisa que outros polos tecnológicos isolados não permitem. Então, isso é algo muito, muito bom", diz.

Apesar dos avanços, pontos levantados são os gargalos ainda existentes no processo de requalificação do centro histórico, com destaque para a ausência de habitação na região, fator que compromete a criação de vínculos sociais e a efetiva vitalidade urbana fora do horário comercial.

"Tem muita empresa, mas não tem moradia. Então, a reconstrução de vínculos sociais tem que ter moradia. Porque, se as pessoas trabalham e, seis horas da tarde, sete horas, oito horas da noite, saem dali, você não cria esses vínculos. Moradia é obrigatória para qualquer bairro que, de fato, seja reocupado, requalificado", explica Raul.

A produção ainda destaca espaços emblemáticos que seguem subutilizados, como o Chantecler, a Casa de Clarice Lispector e o Teatro do Parque, que, apesar de restaurado, ainda tem uma programação considerada tímida.

Além do Recife, a série também teve episódio em Curitiba e Belo Horizonte, e seguirá para Brasília e Belém.

No caso da capital paraense, serão abordados problemas semelhantes aos de Recife, como esvaziamento, falta de infraestrutura e desafios da mudança climática, mas em uma escala ainda mais crítica. Já em Brasília, a discussão se volta para o conflito entre o desenho urbanístico original e as demandas sociais e ambientais contemporâneas.

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