Chinesas prometem agitar o setor de entregas por aplicativo no Brasil

Investimentos bilionários de empresas da China prometem agitar o setor de entregas por app e gerar mudanças para consumidores e entregadores.

Publicado em 09/06/2025 às 20:17
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O setor de entregas por aplicativo no Brasil está prestes a passar por uma revolução. Grandes empresas chinesas estão desembarcando no país com força total e, com investimentos bilionários, prometem abalar a liderança de plataformas já consolidadas no mercado.

A movimentação já gera reações entre concorrentes, entusiasmo entre consumidores e expectativas (ou receios) entre os entregadores.

A gigante chinesa Meituan, conhecida por dominar o delivery de alimentos na China, anunciou a injeção de impressionantes R$ 5,6 bilhões em solo brasileiro com a expansão da marca Keeta.

Já a 99Food, que pertence à também chinesa DiDi Chuxing, deve investir R$ 1 bilhão na criação de um "superapp" para ampliar sua atuação no setor.

O objetivo dessas empresas é claro: conquistar uma fatia significativa do mercado brasileiro, que conta com mais de 1,2 milhão de estabelecimentos – sendo que 71% já operam com delivery, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

iFood reage com parceria e inovação

Com 80% de participação nas entregas brasileiras, o iFood é o player mais ameaçado por esse avanço chinês. Em resposta, a empresa anunciou uma aliança com a Uber: agora, os usuários poderão pedir corridas e entregas em um só ambiente digital.

Além disso, reforçou sua campanha de marketing, lançou o iFood Pago para facilitar crédito aos parceiros e voltou sua atenção ao interior do país, onde há espaço para crescer.

Mesmo assim, os desafios são grandes. A Meituan é conhecida por sua estratégia agressiva. Em Hong Kong, a Keeta entrou no mercado oferecendo taxas zero para restaurantes, promoções massivas para consumidores e pagamentos atrativos para entregadores.

Em menos de um ano, alcançou 85% de domínio e forçou a saída da britânica Deliveroo da região.

Preço baixo, disputa acirrada

Para o consumidor, o benefício é direto: mais opções, preços melhores e tecnologia de ponta. Mas, para os entregadores, o cenário é mais complexo.

A competição entre plataformas pode, inicialmente, elevar os ganhos. No entanto, experiências como a de Hong Kong mostram que esses valores podem cair à medida que a empresa consolida sua posição.

O modelo chinês usa sistemas de metas e pontuação, que aumentam a pressão e reduzem a previsibilidade dos rendimentos. Como os entregadores são classificados como autônomos, não há garantias trabalhistas.

Cade de olho no jogo

O avanço das gigantes chinesas também chama atenção das autoridades brasileiras. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) já interveio anteriormente para limitar contratos de exclusividade do iFood com restaurantes.

Agora, especialistas discutem se práticas predatórias, como exigência de exclusividade e elevação repentina de taxas, poderão ser vetadas pelas leis de defesa da concorrência.

Oportunidade de reorganização

Apesar dos riscos, especialistas enxergam uma chance de fortalecimento da organização dos entregadores, por meio de sindicatos, associações ou até cooperativas com plataformas próprias.

A regulamentação do trabalho por aplicativo ainda está em debate no Congresso, e esse novo cenário pode acelerar discussões sobre direitos e proteções mínimas para a categoria.

Enquanto isso, a disputa entre os gigantes promete render capítulos dignos de novela. E, como toda boa trama, promete reviravoltas, tensões e — claro — benefícios imediatos para quem está do lado do consumidor.

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