Clara Simas transforma o luto em arte no fotolivro "Meu pai morreu três vezes"

Livro de Clara Simas transforma luto em arte e reconstrói a figura do pai a partir de memórias, arquivos e fabulações visuais. Saiba detalhes

Publicado em 29/05/2025 às 17:58 | Atualizado em 30/05/2025 às 15:03
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Há histórias que não cabem em uma única vida. Meu pai morreu três vezes, trabalho da artista visual Clara Simas, é uma dessas narrativas que se desdobram entre o real e o imaginado, entre a dor e a criação.

Mais do que um livro de fotos, é um diálogo póstumo entre filha e pai, uma jornada de cinco anos que mistura arquivos esquecidos, cenas de cinema e memórias inventadas.

A obra, que tem apoio do Funcultura e da Lei Paulo Gustavo - Recife, terá uma série de lançamentos, começando pelo Rio de Janeiro, no dia 29 de maio, na Galeria Refresco, em São Paulo, no dia 31, na Livraria Lovely House, e no Recife, na Galeria Garrido, no dia 5 de junho.

Toda a história da publicação nasce a partir de vestígios da vida de Caveirinha – ator amador do Cinema Marginal baiano nos anos 1970, jornalista, figura cheia de contradições como, por exemplo, ter sido um pai amoroso, porém ausente. Quando perdeu seu pai, Clara tinha 14 anos, mas a relação já era feita de vazios muito antes disso.

"Minha memória dele sempre foi confusa. Tive que preencher as lacunas através de um processo arqueológico", lembra. Ainda jovem, quando do falecimento dele, não foi possível para Clara já naquele momento viver o luto e entender a dimensão daquela perda.

“Foi preciso que se passassem muitos anos e que eu entrasse num processo terapêutico para então começar a especular o que significava a morte de um pai, que ao longo da sua vida já foi alguém bastante ambíguo e ausente”, diz.

Renata Pires
Clara Simas - Renata Pires

Ao perceber que precisaria se voltar para essa relação, entendê-la, para então seguir adiante, Clara começou a organizar diversas informações sobre seu pai e seus vários personagens. Nesse processo, ela descobriu que ele tinha morrido várias vezes – não só na vida real, mas também nas telas.

Nas páginas do livro, as imagens se organizam em dípticos, criando justaposições que imitam o modo desordenado como as memórias surgem. Clara reuniu fotos suas, fotos do seu pai, imagens de filmes e de arquivo e com elas foi organizando fluxos narrativos para cada um dos três personagens.

Além do material iconográfico, há, em cada capítulo, um interlocutor que ajudou a artista a conhecer um pouco mais sobre cada parte do seu pai. Sua tia, irmã dele, Vera Lúcia Simas, falou sobre um tipo de homem comum e sua história familiar.

Nessa troca, Clara escutou os detalhes da história em torno da morte precoce de seu irmão, falecido dez anos antes de seu nascimento, um luto silenciosamente vivido por seu pai. Para recompor pistas do Caveirinha boêmio, ator, contraventor, viajou a Brasília para conversar com André Luiz Oliveira, um de seus companheiros do Cinema Marginal baiano, nos anos 1970. Já sua mãe, Maria Edite Costa Lima, falou do Caveirinha pai, trouxe suas lembranças da forma como a paternidade foi exercida por ele.

“Acho que quando eu trago esses depoimentos, ajudo a dar um sentido narrativo maior a um livro que é composto em sua maior parte por um fluxo de imagens e sensações abstratas, um pouco como a própria memória se organiza — através do movimento rápido dos olhos, guardamos picotes de momentos e cenas. Os relatos em primeira pessoa convidam o leitor a investigar comigo novas chaves de leitura possíveis para essa trama”, opina a artista.

As três histórias terminam repetidamente na morte de um novo personagem por meio de cenas que ganham um tratamento especial no livro que foi impresso em São Paulo na Ipsis.

“Nos momentos de fabulação, o livro é composto por dípticos em margem branca. Já nas sequências de morte, nós optamos por cenas expandidas impressas em papel mais espesso e através da técnica de separação de cor chamada skeleton black que imprime a mesma imagem em duas tintas pretas distintas conferindo maior densidade ao momento”, detalha Clara, que aos poucos foi entendendo que, no processo de se tornar adulto, cada um de alguma forma terá de passar pela experiência simbólica de 'matar' os pais. 

Divulgação
Imagem do fotolivro "Meu pai morreu três vezes" - Divulgação

SERVIÇO

Meu pai morreu três vezes - Clara Simas

Lançamentos:

  • RIO DE JANEIRO

Quinta-feira, 29 de maio, às 18h.

Galeria Refresco

Rua do Rosário, 26 — Centro, Rio de Janeiro

  • SÃO PAULO

Sábado, 31 de maio, às 14h.

Lovely House Casa de Livros

Galeria Metrópole - Av. São Luís, 187, 1º andar, sala 30 - República, São Paulo

  • RECIFE

Quinta, 5 de junho, às 18h

Garrido Galeria

R. Samuel de Farias, 245 - Santana, Recife – PE

Domingo, 8 de junho, 14h-17h

Cinema São Luiz

R. da Aurora, 175 - Boa Vista, Recife - PE

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