"É um manifesto": livro 'Suíte Master e Quarto de Empregada' tem noite de autógrafos no Recife nesta terça (27)

A publicação reflexões sobre desigualdade e racismo estrutural a partir da arquitetura doméstica brasileira; veja os detalhes da obra!

Publicado em 27/05/2025 às 22:48 | Atualizado em 27/05/2025 às 23:08
Google News

Clique aqui e escute a matéria

Com o passar dos anos, a regulamentação do trabalho doméstico acabou se tornando realidade, mas um dos problemas envoltos a isso continuam existindo: o quartinho de empregada. Pensando nisso, José Afonso Jr., fotógrafo, jornalista e professor, trouxe a ideia de fotografar a transição das suítes, das residências na Região Metropolitana do Recife, até os quartos de depósitos, no qual as trabalhadoras domésticas costumam dormir.

"Suíte Master e Quarto de Empregada" ganhou uma sessão de autógrafos, na noite desta terça-feira (27), na livraria Pó de Estrelas, em Casa Forte, na zona norte do Recife. O evento contou com amigos, familiares e alunos.

O livro também traz textos da jornalista Fabiana Moraes, e Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel Otávio. As duas contribuem com debates tanto pessoais, quanto de pessoas que eram empregadas por outras pessoas.

Inicialmente, a ideia surgiu com a promulgação da PEC das domésticas, como uma pesquisa acadêmica, que resultou no produto do livro.

José Afonso Jr. afirma que o projeto é antigo, com 10 anos. O fotógrafo manifesta que foi um choque a preocupação das pessoas de não poder ter mais empregado doméstico, que eles pensavam em contratar diaristas para manter a casa funcionando e driblar as obrigações sociais. 

"A gente estava conversando com os amigos e eles diziam que, se alguém fizesse um livro para fotografar essa transição, que fotografasse os quartos de doméstico, e fotografasse as suítes, para ver como está essa adaptação", diz.

Ele comenta que, quando começou a fotografar, viu que o problema é muito maior, e não está só dentro das casas:

"Está na geografia da cidade, está no uso dos objetos, está nos acessos. Está na parte visível. A gente consegue fotografar um processo de como o Brasil elabora, conversa e cria a desigualdade social, a segregação, o preconceito com a cor da pele, com a condição econômica, com os lugares que as pessoas moram. Então, o livro é sobre isso, mas é para atender ele como um manifesto, como algo que fala sobre essa situação". 

Alice Lins/Social 1
Noite de autógrafo do livro "Suite Master e Quarto de Empregada" - Alice Lins/Social 1

Já Fabiana e Mirtes, que contribuíram para a parte escrita da obra, discutem sobre as próprias experiências, seja de alguém próximo, como a mãe ou avó, tanto quanto elas mesmas. A jornalista revela que participou do livro com um texto em que reflete sobre a trajetória e a da família, marcada pelo trabalho doméstico.

"A avó Rosa, mãe do meu pai, foi empregada doméstica por muitos anos, lavava roupa em Sapé, na Paraíba, depois foi para Recife e, mais tarde, para o Rio de Janeiro, sempre trabalhando nessa função. Minha madrasta, Cícera, também atuou durante anos como empregada doméstica em Boa Viagem. Minha mãe trabalhou por muito tempo como camareira em hotel", expõe. 

"No texto, trago essa herança e, ao mesmo tempo, discuto o fato de fazer parte de uma geração que começa a ocupar apartamentos com o chamado 'quarto de empregada', mas em um novo contexto: esses quartos já não eram mais ocupados por uma trabalhadora, já não existia mais aquela figura com contrato fixo, presente diariamente. Mesmo assim, aquele espaço seguia ali, pulsando diferença, carregando uma memória", comenta Fabiana.

Ela ainda reflete: "A reação de grande parte da sociedade à regulamentação do trabalho doméstico mostra isso: uma revolta que, no fundo, é a saudade de ter alguém disponível o tempo todo, por um salário muito baixo. Eu não tenho a menor dúvida disso".

A mãe do menino Miguel Otávio, Mirtes, além de trazer as vivências na família, ela também escreve sobre duas trabalhadoras viveram experiências diferentes das dela nessa mesma área de atuação.

"Eu vim colaborando no livro com a escrita. Nele, trago reflexões sobre o racismo presente nesses lugares, principalmente em relação ao chamado quarto de empregada. Falo sobre a questão histórica, a colonização, o trabalho escravo, e como tudo isso ainda se reflete hoje, já que são, em sua maioria, mulheres negras que ocupam esse espaço como trabalhadoras domésticas", relata. "Como eu digo: 'eu não ando só', e nesse livro, também não estou só".

"Então, a proposta do livro é provocar reflexão sobre a invisibilidade do trabalho doméstico, sobre essa segregação espacial que ainda existe em uma casa, com uma suíte master para os patrões e um quartinho da empregada escondido. Espero que as pessoas leiam, gostem e pensem sobre tudo isso", finaliza.

O livro está disponível para a compra a partir desta terça-feira (27), na livraria Pó de Estrelas, em Casa Forte, no valor de R$ 100.

Tags

Autor