Iraniano vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2025 já foi preso e impedido de fazer filmes

Após anos de censura e prisão no Irã, Jafar Panahi vence a Palma de Ouro com filme sobre justiça e resistência política em Cannes!

Publicado em 25/05/2025 às 19:52
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O cineasta iraniano Jafar Panahi, de 64 anos, foi o grande vencedor do Festival de Cannes neste sábado (25), levando para casa a prestigiada Palma de Ouro pelo filme It Was Just an Accident.

A vitória marca um feito histórico: com ela, Panahi completa a tríade dos maiores prêmios do cinema europeu, o Leão de Ouro, conquistado em Veneza; o Urso de Ouro, em Berlim; e agora a Palma de Ouro, em Cannes.

Em um ano sem grandes favoritos, a consagração de Panahi tem peso simbólico. Mais do que reconhecimento artístico, o prêmio representa a força de um cineasta que, mesmo sob censura e perseguição, nunca deixou de contar suas histórias.

It Was Just an Accident é seu primeiro longa após um período de 14 anos impedido de sair do Irã, resultado de uma condenação política. O filme propõe um debate moral profundo, ancorado nas experiências reais do próprio diretor sob o regime autoritário de seu país.

Perseguição

Jafar Panahi se tornou um nome conhecido não apenas por sua obra cinematográfica, mas também pela resistência política que ela carrega.

Em 2010, ele foi preso junto com sua família, acusado de “propaganda contra o governo” por tentar realizar um documentário sobre os protestos contra a controversa reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.

Desde então, o diretor foi proibido de fazer filmes, dar entrevistas ou deixar o Irã, restrições que ele driblou de maneira criativa e corajosa.

Mesmo em prisão domiciliar, Panahi seguiu filmando. Em 2011, lançou Isto Não É Um Filme, um documentário gravado dentro de seu apartamento, refletindo sobre o cerco imposto a ele. A produção marcou o início de uma série de obras que desafiavam, de forma sutil e poderosa, a repressão no país.

Ao longo dos anos, o cineasta recebeu apoio internacional: nomes como Julianne Moore e Martin Scorsese se manifestaram contra sua prisão, assim como entidades como a Federação de Diretores de Cinema Europeus.

Em 2022, Panahi voltou a ser preso, desta vez por protestar contra a detenção de outros cineastas, Mohammad Rasoulof e Mostafa Al-e Ahmad. Ele ficou 48 horas encarcerado por questionar a repressão do governo iraniano a vozes do cinema.

Após recuperar recentemente o direito de viajar, Panahi pôde finalmente comparecer a Cannes. Em um discurso comovente durante a premiação, ele dividiu o sentimento agridoce de sua conquista.

“Eu ganhei a autorização de viajar de novo. Estou aqui com vocês e recebo esta alegria, mas não sinto a mesma emoção. Como posso estar feliz? Como posso ser livre enquanto, no Irã, ainda existem tantos dos maiores diretores e atrizes do cinema iraniano que, por terem participado e apoiado os manifestantes durante o movimento Femme Liberté, hoje não podem trabalhar?”, declarou.

O filme vencedor foi feito sem qualquer autorização do governo iraniano. Na trama, personagens perseguidos pelo Estado se veem frente a frente com o oficial que os torturou, e precisam decidir o que fazer com ele.

Com essa história, Panahi costura uma poderosa reflexão sobre justiça, vingança e moralidade, temas que ressoam profundamente com sua trajetória pessoal e com a realidade do Irã atual.

Com It Was Just an Accident, Jafar Panahi não apenas firma seu nome entre os maiores cineastas do mundo, mas também transforma sua vida em resistência e sua arte em testemunho.

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