Evento

Coletivo Angu de Teatro faz leitura dramatizada de "Infâmia" neste sábado (24)

Grupo pernambucano, que há 20 anos vocaliza uma estética e uma retórica das mais afiadas da cena nacional, realiza leitura de sua nova montagem

Cadastrado por

Catêrine Costa

Publicado em 21/05/2025 às 19:16
Coletivo Angu - Crédito: Divulgação

Celebrando 20 anos de existência e resistência, o festejado Coletivo Angu de Teatro, um dos mais reconhecidos grupos cênicos da cidade, inegociavelmente dedicado à promoção de profundos e profícuos diálogos entre o teatro, as mais diversas linguagens artísticas e os mais contundentes temas sociais, convida o Recife a participar da preparação do seu próximo espetáculo: “Infâmia”. Neste sábado (24), a Casa Estação da Luz recebe uma leitura dramatizada do texto, a partir das 19h30.

O acesso é gratuito – os ingressos devem ser retirados no Sympla. O público curtirá ainda o som do DJ Pepe Jordão, além de bebidinhas e comidinhas da casa.

O evento será o primeiro contato do público com o texto, que marca o encontro inédito entre dois dos maiores autores contemporâneos do Brasil, Newton Moreno e Marcelino Freire, ambos frutos da mesma fértil lavra poética e cênica pernambucana.

“A ideia é ouvir as plateias e depois seguir o trabalho, incorporando observações, novas ideias. Muito saudável ter este espaço para poder ir pensando o espetáculo com o público. Num tempo de resultados rápidos, é um luxo poder maturar o processo de criação com tanta delicadeza”, celebra Newton, que programa para 2026 o lançamento da peça, "também em solo e palco recifenses.”

A obra trata do urgente e obrigatório tema das fakenews, que há alguns anos tem esgarçado o tecido social brasileiro, esburacando os mais sedimentados alicerces civilizatórios, desde os pactos sociais até os acordos mais afetivos e íntimos. O texto discute os efeitos da desinformação programada por ferramentas tecnológicas a partir da perspectiva do ofício cênico. “É uma discussão sobre nosso ofício, nossos modos de produção, a função da arte em tempos fascistas. Na esperança de que, através de nossas questões, possamos ampliar a conversa sobre o tema das infâmias e das fakenews”, explica Newton.

Enredo

O enredo apresenta seis pessoas envolvidas com teatro num mesmo barco à deriva, sem sequer entender como foram parar ali. Aos poucos, percebem que todos sofreram algum tipo de infâmia, calúnia ou difamação, além de ameaças de morte, antes de serem misteriosamente embarcados naquela tormenta. Num dado momento, enquanto o grupo se pergunta quem está tentando matá-los e até onde uma infâmia pode destruir uma vida, as respostas começam a chegar, junto a um tiro disparado não se sabe por quem.

A metáfora do barco à deriva, utilizada pelos autores, denuncia a profundidade do tema escolhido como mote para o espetáculo. “É importante falar sobre verdade. E nada melhor do que o teatro para tirar essas máscaras de um país e revelar as verdadeiras faces das pessoas”, afirma Marcelino Freire.

Ao redor deste tema crucial, que está no âmago dos debates e convulsões mundiais, Newton celebra o encontro de sua escrita colorida, aguda e ensolarada com a escrita potente, contundente e social de Marcelino. “Tem sido um bailado elegante e estimulador. Aos poucos, vamos negociando os imaginários, um inspira o outro. Ele amplia a minha visão sobre o tema, me mostra o que não vejo. E vice-versa. Sou um admirador do universo de Marcelino. Temos em comum, além de Pernambuco e da paixão pela escrita, o fato de termos textos levados à cena pelo Angu.”

Para Marcelino, o processo de escrita do espetáculo confirmou o argumento do roteiro. “O processo de escrita foi muito verdadeiro. Nos divertimos muito, foi um encontro muito saudável, enriquecedor. Sou fã do trabalho do Newton Moreno há muito tempo: ele sim, por excelência, uma pessoa de teatro, da dramaturgia. Tenho aprendido com ele a afinar meus diálogos, a compreender melhor a carpintaria teatral, nesse processo que tem sido de troca muito intensa: eu chegando com minhas palavras e recebendo as palavras do Newton. Construímos uma ponte muito afetuosa, de amizade verdadeira. E isso é tudo de que precisamos para combater as fakenews. A verdade é esta!”, sacramenta o autor.

Elenco

O elenco do espetáculo, que é fruto de projeto aprovado no Edital Rumos Itaú Cultural, é formado por Marcondes Lima, Arilson Lopes, Ivo Barreto, Lili Rocha, Nínive Caldas, além de André Brasileiro, que volta aos palcos após hiato de pelo menos dez anos.

Sobre o Angu de Teatro

O grupo foi criado em 2003, a partir da ideia de André Brasileiro de montar o espetáculo ”Angu de Sangue”. O palco da estreia reunia boa parte do elenco que se apresenta neste sábado: Marcondes Lima, Fábio Caio, Gheuza Sena, Hermila Guedes e Ivo Barreto, além de Marcelino Freire, também autor do primeiro texto encenado. Dali em diante, o grupo apresentou diversos outros trabalhos celebrados em todo país, como “Ópera” (Newton Moreno), “Rasif - Mar que Arrebenta” (Marcelino Freire), “Essa Febre que Não Passa” (Luce Pereira) e “OSSOS” (Marcelino Freire), todos com excelente repercussão de público e de crítica.

Além dos espetáculos, o grupo sempre demarcou a experimentação como território fundamental, mantendo projetos paralelos como o “Espectacular Espectaculoso (Experimento cênico-gastronômico)” e “Angu de Canções”, além de projetos na área formativa e de pesquisa, como o “Mexendo o Angu” e oficinas como “Trans na Cena”, “O Teatro é o Outro” (com Maurice Durozier/Theatre du Soleil/RF) e “O Corpo Musical” (com JeanJacques Lemetre/Theatre du Soleil/FR), entre outras corajosas e inovadoras incursões.

Serviço

Leitura dramatizada de "Infâmia", do Coletivo Angu de Teatro
Data: Sábado, 24 de maio
Horário: 19h30
Local: Casa Estação da Luz – Rua Prudente de Morais, 313, Carmo, Olinda
Informações: (81) 99993.1331
Ingressos: Gratuitos disponíveis no Sympla: Clique aqui para reservar

 

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