"Enegrecer": projeto busca valorizar a história dos Maracatus Nação de Pernambuco
Projeto Enegrecer resgata a memória dos Maracatus Nação e destaca o protagonismo feminino e a religiosidade de matriz afro-brasileira

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Com apoio do Sistema de Incentivo à Cultura do Recife (SIC), uma nova iniciativa cultural vem jogando luz sobre uma das manifestações mais emblemáticas da herança afro-brasileira: o Maracatu Nação.
Trata-se do projeto “Enegrecer – Um Registro da Cultura Tradicional: Do Paço ao Sagrado dos Maracatus Nação de Pernambuco”, que tem como foco documentar e divulgar os saberes, rituais e trajetórias de mestres e mestras do Maracatu Nação em Pernambuco.
Idealizado pela produtora cultural Michelly Miguel, o projeto está estruturado em dois pilares: a produção de um documentário audiovisual e a criação de um material didático que será distribuído nas escolas da rede municipal.
O objetivo é ampliar o acesso ao conhecimento sobre o Maracatu Nação, valorizando o patrimônio imaterial afro-brasileiro e contribuindo para o cumprimento da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas instituições de ensino do país.
Grandes nomes do maracatu no estado
Nesta primeira edição, o documentário dará voz a mestres e mestras de importantes nações de Maracatu, como Aurora Africana, Cambinda Estrela, Leão da Campina, Porto Rico, Raízes de África, Raízes de Adão e Tupinambá.
As entrevistas serão conduzidas com base em princípios de escuta sensível e respeito às tradições orais, elementos centrais da cultura popular.
Maracatu Nação
O Maracatu Nação, também conhecido como Maracatu de Baque Virado, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2014. Suas origens remontam ao período colonial, quando africanos escravizados recriavam cerimônias de coroação de reis e rainhas do Congo como forma de resistência simbólica e espiritual.
Hoje, mais de 25 nações continuam ativas em Pernambuco, principalmente na Região Metropolitana do Recife, incluindo cidades como Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Camaragibe.
Mais do que uma manifestação musical, o Maracatu envolve cortejos ricamente ornamentados, personagens cheios de simbolismo, cantos de devoção e uma profunda ligação com as religiões de matriz africana.
As calungas, bonecas sagradas que simbolizam ancestrais femininas, são consagradas em terreiros de Candomblé e Jurema e carregadas com reverência nos desfiles, traduzindo a dimensão espiritual que sustenta essa tradição.
Protagonismo feminino
O projeto Enegrecer – Um Registro da Cultura Tradicional: Do Paço ao Sagrado dos Maracatus Nação de Pernambuco também aborda questões de gênero dentro das nações de Maracatu.
Embora as mulheres participem ativamente das agremiações, ainda enfrentam resistência para ocupar espaços de liderança, sobretudo nas nações mais tradicionais.
A proposta busca evidenciar essas desigualdades e discutir temas como machismo e intolerância religiosa presentes nesse contexto.
Além da produção de um documentário, o projeto inclui ações educativas nas escolas da rede municipal do Recife, conectando o Maracatu ao ensino da história e cultura afro-brasileira, conforme determina a Lei 10.639/03.
As gravações estão sendo realizadas com a participação das nações filiadas à Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (AMANPE), respeitando os rituais de cada grupo.
A metodologia valoriza a oralidade, a vivência coletiva e o protagonismo das comunidades, em conformidade com as diretrizes da UNESCO para preservação do patrimônio imaterial.