Qual é a história de "O Agente Secreto"? Filme pernambucano foi ovacionado em Cannes

A estreia de O Agente Secreto no Festival de Cannes neste domingo (18) mexeu com o coração dos cinéfilos, especialmente no Brasil.

O novo longa de Kleber Mendonça Filho, conhecido por sucessos como Aquarius e Bacurau, arrancou quinze minutos de aplausos ininterruptos no prestigiado festival francês e já está dando o que falar.

Ambientado em uma Recife abafada e politicamente tensa de 1977, o longa acompanha Marcelo, vivido por Wagner Moura, um especialista em tecnologia que volta à cidade natal carregando um passado cheio de feridas mal cicatrizadas.

O que ele encontra, porém, não é exatamente o que imaginava: um Brasil ainda sufocado pela ditadura militar, onde os fantasmas da repressão parecem se entrelaçar com os traumas mais íntimos do personagem.

À medida que a narrativa avança, Marcelo mergulha em um cenário de sombras, em que nem mesmo seu conhecimento técnico é suficiente para escapar das verdades que emergem das ruas da capital pernambucana.

O filme transforma o contexto político em pano de fundo para uma história de memória, identidade e resistência, misturando suspense e reflexão de forma visceral.

Aclamação internacional

Filmado em Recife, Brasília e São Paulo, com a pós-produção finalizada na Europa, O Agente Secreto é uma coprodução internacional que consolida ainda mais a presença de Kleber Mendonça Filho no cenário global.

Esta é a terceira vez competindo pela Palma de Ouro, feito inédito para um diretor brasileiro contemporâneo. A repercussão positiva já desperta expectativas para uma possível indicação ao Oscar, seguindo os passos do também elogiado Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

A recepção em Cannes foi entusiasmada. O crítico David Ehrlich, do IndieWire, destacou as semelhanças temáticas entre O Agente Secreto e Ainda Estou Aqui, observando que, enquanto o filme de Salles revisita o desaparecimento de Rubens Paiva, Kleber fala sobre a persistência da memória em tempos de apagamento forçado.

"É um filme que mostra como as lembranças resistem, mesmo quando tudo conspira para que elas desapareçam", escreveu.

Apesar de o trailer oficial ainda não ter sido divulgado, dois trechos já circulam pela internet, revelando o clima denso e instigante da obra.

Em uma cena, Marcelo encontra um cadáver abandonado em um posto de gasolina, sugerindo que o horror pode estar à espreita mesmo nos lugares mais banais.

Em outro momento, ele é confundido com um policial à paisana, uma sequência que já deixa claro o quanto o filme lida com paranoia e desconfiança.