Apego ou transtorno? Especialistas alertam para os riscos da acumulação compulsiva
Embora a acumulação de alguns objetos por razões sentimentais não seja considerada um problema, seu excesso pode estar escondendo algo mais sério

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À primeira vista, o acúmulo de objetos pode ser considerado um reflexo de apego, carinho e solidariedade. Contudo, em alguns casos, o excesso dessa prática esconde um problema sério: o Transtorno da Acumulação.
O Transtorno da Acumulação consiste em uma condição psiquiátrica que vai além de guardar lembranças e colecionar itens. Ele é caracterizado por uma necessidade forte e persistente de acumular bens, acompanhada de uma dificuldade de se desfazer deles.
Com o tempo, esse problema pode transformar lares em espaços de difícil convívio, gerando riscos à saúde dos moradores e até de vizinhos.
Programas de TV como o Acumuladores Compulsivos, do canal E&E, deram maior projeção a esse tema, ao mostrar a realidade de pessoas que lidam com Transtorno de Acumulação e moram em meio ao lixo, vivendo em uma situação de vulnerabilidade.
Para Carol Costa Jr., coordenador de Psicologia da Hapvida, o que diferencia uma coleção afetiva do transtorno está no impacto que o acúmulo causa na vida do indivíduo. "O acúmulo patológico gera sofrimento psíquico, isolamento social, problemas com órgãos sanitários e até dificuldade de manter um emprego", destaca.
Muitos casos de acumulação são desenvolvidos por causa de experiências traumáticas de infância, como negligência emocional, violência doméstica ou privações financeiras.
O transtorno de manifesta de forma mais extrema na vida adulta, especialmente em pessoas que moram sozinhas, estão desempregadas ou sofrem com algum problema de saúde crônico.
Carol explica que nem todo acumulador se comporta da mesma forma: "Há quem compre compulsivamente objetos que nunca usa e quem guarde itens aleatórios por não saber decidir o que pode ou não ser descartado. Em todos os casos, existe uma dificuldade real de desapego que compromete a organização e a qualidade de vida".
Desfazer-se de um item pode parecer uma tarefa simples de organização, mas para quem vive com esse transtorno, é um processo doloroso. "Eles atribuem um valor afetivo muito intenso às suas posses. É como se descartar um objeto significasse perder uma parte de si mesmos", explica o psicólogo.
Esse apego leva à criação de crenças distorcidas, como a ideia de que aquilo que foi embora jamais poderá ser recuperado.
Tratamento
Tratar o transtorno é uma missão que envolve tempo, empatia e, muitas vezes, esforço coletivo da família de de profissionais de saúde.
O apoio da família para buscar ajuda é fundamental, já que boa parte dessas pessoas não reconhece que têm um problema. A psicoterapia, em especial a abordagm cognitivo-comportamental, é a mais indicada. Ela ajuda o paciente a rever suas crenças, desenvolver a tomada de decisões e a romper com padrões negativos de comportamento.
O principal desafio é aliviar o sofrimento emocional que impede o desapego, antes de limpar a casa ou se desfazer de objetos antigos. Em um mundo que estimula o consumo desenfreado, é importante sempre lembrar que a organização e o respeito pelo próprio espaço são formas de autocuidado e de manutenção da saúde mental. Esse pode ser o primeiro passo para uma vida mais leve.
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