Por que as pessoas preferem viver num relacionamento aberto, mas finge que não?

A matéria explora a hipocrisia em torno do desejo por relacionamentos liberais, sendo frequentemente reprimido por vergonha ou medo de julgamento

Publicado em 07/05/2025 às 20:03 | Atualizado em 07/05/2025 às 20:05
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Prepare a pipoca e abra a mente! O universo dos relacionamentos está em constante ebulição, e um tema que gera curiosidade (e muita polêmica!) é o estilo de vida liberal.

No fundo, será que muita gente não sonha em experimentar essa liberdade, mas trava na hora H devido à vergonha, do medo do julgamento e dos tabus que a sociedade impõe?

Pois bem, o desejo pode até existir quietinho aí dentro, mas ele se esconde por trás de camadas e mais camadas de hipocrisia social, um conservadorismo religioso para lá de forte e aquelas estruturas morais que herdamos de uma sociedade bem patriarcal.

É nesse cenário de “esconde-esconde” que o Casal Pimenta Rio, formado pelos experientes Fernando Pimenta e Fátima Lopes, agita as discussões há mais de duas décadas!

Verdadeiras lendas no mundo liberal brasileiro, eles não só vivem essa vida sem filtros, como também revelam um segredo em palestras, lacram nas redes sociais e organizam as maiores festas de swing e encontros liberais do país. 

Completando 26 anos de relacionamento liberal, Fernando e Fátima colecionam tanto fãs quanto haters. A admiração pela coragem de viver autenticamente se mistura com o preconceito escancarado de quem não entende (ou não quer entender) essa forma de amar e se relacionar.

A realidade nua e crua dos ataques online

“É batata! Sempre rola um ataque nos comentários das matérias ou nas nossas redes sociais. Tem de tudo: gente mandando a gente pro inferno, dizendo que a gente não tem Deus no coração... E claro, não falta quem chame tudo isso de promiscuidade ou traição. Mas fala sério, a sociedade adora uma hipocrisia, né?”, dispara Fernando Pimenta, sem dizer o que se pensa sem receio.

Segundo ele, a culpa é da nossa criação: “Na minha época de moleque, há uns 60 anos, o homem podia tudo e a mulher não podia nada. Lembro direitinho do meu pai soltando essa pérola quando reclamavam das minhas investidas nas meninas: 'Segurem suas cabras, porque o meu bode está solto!'. Uma mentalidade machista, ultrapassada, mas que infelizmente ainda marca presença por aí. A real é que a galera não é tão contra quanto faz a egípcia. O que incomoda mesmo é a nossa liberdade de falar abertamente sobre isso.”

A fala de Fernando escancara um problema estrutural: o incômodo que a liberdade alheia causa em quem cresceu na repressão.

Em eventos sobre sexualidade e estilo de vida liberal, o Casal Pimenta Rio sente na pele essa ambiguidade nas reações do público.

“As pessoas chegam na gente como se fôssemos ETs! Dizem que têm uma curiosidade enorme, mas logo emendam um 'tenho muito preconceito por causa da criação ou da religião'. A mulher, coitada, foi criada pra ser boazinha, recatada e do lar. E mesmo assim, muitas aparecem nas nossas festas nervosas, tremendo, com medo do que vão encontrar, mas estão lá! Estão lá porque querem saber qual é a vibe, querem sentir na pele”, revela Fátima Lopes, com a experiência de quem já viu de tudo.

Desejo reprimido: A verdade por trás dos perfis fakes

Para o Casal Pimenta Rio, essa contradição gritante só prova uma coisa: o desejo reprimido é mais comum do que se imagina.

É aquela história do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Tem gente que adora sentar no sofá para julgar, mas entra escondido em aplicativos liberais com perfis falsos só para dar uma espiadinha.

Crítica na roda de amigos, mas manda direct no Instagram pedindo informações “em off”.

“A internet popularizou o tema, e com isso a gente viu explodir o número de perfis fakes nos aplicativos liberais. É gente que só quer observar, ter um contatozinho com o meio, mas não tem a menor coragem de se assumir. É pura curiosidade disfarçada de 'estou só de olho'”, conta Fernando, com um sorriso de quem já desvendou esse mistério muitas vezes.

Essa “espiadinha virtual” levou os principais aplicativos e redes sociais do universo liberal a adotarem um sistema de convite fechado.

A regra é clara: só entra quem for indicado por alguém de confiança e, de preferência, conhecido pessoalmente.

Caso contrário, o risco de quebra de regras e de não rolar aquele respeito mútuo que é essencial nesse meio é altíssimo.

Desmistificando o Amor Liberal

Mesmo com todas essas precauções, o julgamento continua firme e forte. E vem geralmente embalado num discurso religioso e moralista que questiona até o amor que une Fernando e Fátima há tanto tempo.

“A gente escuta direto: 'vocês não se amam', 'um casal que se ama de verdade não transa com outras pessoas'. Mas as pessoas simplesmente não conseguem entender que existe o sexo com amor e o sexo pelo tesão. O amor é o nosso alicerce — são 26 anos juntos, sendo 25 vivendo o liberalismo, e o sexo com outras pessoas é puro desejo, não representa nenhuma ameaça ao que a gente construiu”, explica Fátima, com a sabedoria de quem vive o que fala.

Para o casal, o preconceito nasce de uma visão super limitada do que significa amar e ser fiel.

Rola uma dificuldade geral em aceitar que relações não convencionais também podem ser saudáveis, amorosas e duradouras, mesmo que envolvam outras pessoas na intimidade.

“Muita gente aposta: 'esse casamento não dura! Tá por um fio!'. Mas a real é que a gente tem um laço muito mais forte do que muito casal tradicional por aí. A gente conversa, a gente se escuta, a gente se deseja e a gente escolhe viver tudo isso com a maior verdade possível. O resto é só barulho”, finaliza Fernando, com a certeza de quem encontrou a sua fórmula da felicidade.

Apesar dos ataques e dos olhares tortos, o Casal Pimenta Rio segue firme na missão de promover a liberdade, o prazer e a autenticidade para todos os que têm a coragem de encarar seus próprios desejos de frente.

Afinal, como eles mesmos dizem: “Viver um relacionamento liberal é, antes de tudo, sobre liberdade de escolha. E isso, para muita gente, ainda é mais assustador do que o próprio desejo.”

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