O Amazon Prime Video estreia nesta quarta-feira (7) Babygirl (2024), filme que tem causado burburinho desde sua primeira exibição no Festival de Veneza, onde rendeu a Nicole Kidman a prestigiada Copa Volpi de Melhor Atriz.
Dirigido pela holandesa Halina Reijn (Instinto, Morte Morte Morte), o longa coloca a estrela de Hollywood no centro de uma narrativa densa, provocativa e inquietante sobre desejo, culpa e poder feminino.
Na trama, Kidman interpreta Romy Mathis, CEO de uma gigante da tecnologia, casada com um diretor de teatro (Antonio Banderas) e mãe de duas adolescentes.
Em meio à rotina aparentemente sólida, sua vida toma um rumo inesperado com a chegada de Samuel (Harris Dickinson), um estagiário 30 anos mais jovem e de comportamento sedutor.
O que começa como tensão sexual se transforma em uma série de transgressões silenciosas, que desafiam as convenções sociais e expõem as fissuras de uma mulher entre o desejo e o controle.
Nicole Kidman em mais um papel ousado
A atuação de Nicole Kidman é o fio condutor da narrativa e talvez o maior atrativo do filme.
Aos 57 anos, a atriz revisita zonas de risco artístico que marcaram performances anteriores em títulos como De Olhos Bem Fechados (1999), Dogville (2003) e Obsessão (2012).
Em Babygirl, ela se entrega com intensidade e precisão a uma personagem que vive um conflito interno profundo, dividido entre a imagem pública de empoderamento e os desejos mais privados, que envolvem fantasias de submissão e vergonha.
Sem recorrer a grandes monólogos, Kidman explora o silêncio, o olhar e os gestos mínimos — como tapar a boca enquanto se masturba — para comunicar a complexidade emocional de Romy.
O simbolismo é constante, como na cena em que bebe leite oferecido por Samuel, elemento que, segundo a diretora, remete ao instinto animal reprimido.
Erotismo e tensão sob nova perspectiva
Apesar do tema, Babygirl evita cair nos clichês de filmes eróticos como Cinquenta Tons de Cinza ou Nove e Meia Semanas de Amor.
O longa opta por uma abordagem menos voltada à violência ou dor, preferindo explorar o erotismo a partir do conflito psicológico e das estruturas de poder.
O suspense paira no ar: será que alguém descobrirá o caso? Samuel é tão inocente quanto parece? E o que está em jogo — reputação, carreira, família — é apenas parte do verdadeiro abismo que Romy enfrenta?
Reflexões sobre ética, sexualidade e gerações
Além da tensão sexual, Babygirl também propõe discussões sobre a ética no ambiente de trabalho e o papel das novas gerações, personificadas pela jovem assistente Esme (Sophie Wilde).
A personagem contrapõe os valores empresariais tradicionais, abrindo espaço para reflexões sobre carreira, integridade e identidade em tempos de hipervisibilidade digital e fragilidade institucional.
Com fotografia elegante, diálogos contidos e uma direção que dosa provocação e ironia, Babygirl é mais do que um drama erótico: é uma narrativa que questiona os limites do poder feminino, a hipocrisia social em torno do prazer e o preço da liberdade numa era conservadora.