5 dicas de como aproveitar melhor um clube do livro
Os amantes da leitura acabam encontrando um aconchego nos clubes do livro, por meio de um espaço de troca e aprendizado. Saiba como aproveitar mais!

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Clubes do livro, populares desde o século XVIII, ressurgiram com força, impulsionados pela busca por conexão pós-isolamento, especialmente no Brasil nos últimos dois anos.
Essa tendência abrange formatos diversos (presenciais, virtuais, estruturados, livres, genéricos, específicos) e atraiu celebridades como Reese Witherspoon, Natalie Portman, Dua Lipa, Felipe Neto e Gabriela Prioli, que lançaram seus próprios clubes.
O principal atrativo é transformar a leitura individual em uma experiência compartilhada para trocar ideias, fazer amigos e expandir horizontes literários.
Em maio, a plataforma Gama promove o clube “Leitura de Si”, mediado pela escritora Bianca Santana, focado em investigações em primeira pessoa de autores sobre identidade e lutas. Para participar, clique aqui.
Mas, afinal, como aproveitar ao máximo essa jornada literária em grupo? Se liga nessas 5 dicas de ouro para brilhar no seu clube do livro:
1. Encontre seu clube do livro
Nada de entrar em um clube só porque a galera está falando sobre ele ou porque parece “intelectualmente chique”.
A real é que forçar a barra pode ter o efeito contrário e transformar o prazer da leitura em uma obrigação tediosa.
A dica de ouro é escolher um clube que realmente te conecte, seja por um gênero que você já ama ou por um tema que te instiga a aprender mais.
O universo dos clubes do livro é vasto, com opções que vão da fantasia épica à literatura contemporânea, passando por clássicos e até mesmo leituras mais nichadas.
“Tem clube que parece que vai te dar uma aula, mas se o tema não te agrada, em vez de te aproximar da leitura, vai te afastar”, alerta a jornalista Eliz Oliveira, a mente criativa por trás de um clube do livro que já coleciona sete anos de histórias.
Mestre em literatura hispano-americana e autora da página @nossaliteratura, ela conduz encontros literários no Memorial da América Latina e sabe bem do que está falando.
Outro ponto crucial é respeitar o seu ritmo. Não adianta se inscrever em um grupo com encontros semanais se a sua rotina permite somente uma leitura mensal mais tranquila.
Analise se os encontros presenciais ou online se encaixam melhor no seu dia a dia e se a frequência proposta pelo clube te motiva de forma leve e prazerosa, e não como mais um item na sua lista de tarefas.
2. Solte a Voz, Leitor! A Arte de Compartilhar (Sem Monopolizar o Microfone)
Para os mais tímidos, a vontade inicial pode ser somente observar e absorver as discussões. Mas a verdade é que compartilhar seus pensamentos e impressões pode enriquecer não só a sua experiência, mas a de todo o grupo.
Lembre-se que clubes do livro são (ou deveriam ser!) espaços seguros para dividir tanto análises profundas quanto dúvidas e ideias ainda em processo de amadurecimento.
“Você não precisa ser um expert literário para participar”, garante a escritora Bianca Santana.
“Compartilhe suas perguntas, seus incômodos, as ideias que surgiram durante a leitura. Traga referências de outros autores que você admira e conte experiências pessoais que possam ilustrar ou ajudar a compreender algum tema do livro”, completa.
Roberta Martinelli, apresentadora da TV Cultura e da rádio Eldorado, mergulhou nesse universo através de seu programa “Clube do Livro Eldorado”, onde entrevista escritores e especialistas em literatura.
“O programa não é um clube do livro formal, mas me abriu as portas para muitos deles. Comecei a ser convidada para participar e me apaixonei por essa troca coletiva”, conta.
Ela também valoriza quando os participantes desabafam e compartilham conexões pessoais com a obra.
“Às vezes, a identificação com um personagem é tão forte que se mistura com nossas próprias vivências. Acho muito legal essa troca nos clubes”, diz.
O jornalista Rodrigo Casarin, editor da coluna Página Cinco no Uol e autor do livro “A Biblioteca no Fim do Túnel: Um leitor em seu tempo”, ressalta que o ato de externar as impressões sobre o livro também é enriquecedor para quem se manifesta.
“Quando apreciamos uma obra de arte, algumas impressões ficam guardadas dentro de nós. O movimento de produzir um conteúdo, mesmo que seja uma fala espontânea, sobre o que lemos nos ajuda a elaborar e dar um formato melhor para o que aprendemos e pensamos sobre aquela obra. E, ao verbalizar, percebemos aspectos que estavam ali, mas não tão óbvios”, explica.
A dica de ouro aqui é: participe, contribua, mas lembre-se que o diálogo é uma via de mão dupla. Ninguém precisa monopolizar a conversa e transformar o encontro em um monólogo.
3. Mente aberta para outras perspectivas: A beleza da discordância respeitosa
Prepare-se para ouvir opiniões que podem ser completamente diferentes da sua.
Aquele personagem que te cativou pode ser considerado insuportável por outro membro, ou uma passagem que pareceu trivial para você pode despertar memórias e reflexões profundas em outra pessoa.
Bianca Santana lembra que a disposição para ouvir com atenção e abertura é fundamental.
“Você não precisa concordar nem discordar, apenas refletir sobre diferentes pontos de vista”, aconselha.
Roberta Martinelli concorda e observa que, dependendo do livro e do tema, discordâncias e discussões acaloradas podem surgir.
Ela acredita que a recomendação de estar aberto a opiniões divergentes, embora pareça óbvia, “é importante ser dita, especialmente nos tempos de redes sociais, onde muitas vezes só interagimos com quem pensa igual a nós”.
“É muito enriquecedor ouvir uma perspectiva que não tem nada a ver com a sua. Você pode se surpreender com uma interpretação que jamais faria sentido na sua cabeça, mas que para outra pessoa foi muito significativa.”
Para Rodrigo Casarin, essa é uma das grandes vantagens dos clubes do livro: serem ambientes mais acolhedores e menos hostis do que as redes sociais, onde as pessoas podem expressar suas opiniões sobre literatura sem medo de ataques.
“São espaços que oferecem algo que estamos perdendo: a abertura para a discordância respeitosa e para a confrontação de ideias sem que isso se torne um embate pessoal”, afirma.
Outra dica valiosa é não sentir a necessidade de sair do encontro com uma conclusão única ou um consenso.
“A arte possibilita diferentes visões, diferentes leituras e até contradições. O objetivo principal é ampliar horizontes, e não fechar a leitura em uma caixinha específica. Os livros são sempre múltiplos”, finaliza Casarin.
4. Sem culpa se a leitura atrasar: O importante é participar!
O ideal é, sem dúvidas, ter devorado o livro ou o capítulo da vez antes do encontro. Mas, se a vida te atropelou e a leitura ficou para depois, não deixe de participar da reunião!
“Ouça as trocas e use a discussão como inspiração para seguir com a leitura”, sugere Bianca Santana.
Eliz Oliveira compartilha dessa visão: “Cada pessoa tem seu ritmo e sua rotina. Acompanhar a conversa sobre um livro pode até motivar alguém a finalmente terminá-lo. Eu sempre digo: se spoilers não forem um problema para vocês, podem entrar ou então assistir até a parte que vocês conseguiram ler.”
Atenção para este ponto crucial: esteja ciente de que spoilers podem rolar soltos! Se isso não for um impeditivo para você, não perca a oportunidade de participar e se conectar com o grupo.
5. O clube como trampolim literário: Explore além das páginas combinadas
Clubes do livro são catalisadores poderosos para criar ou reacender o hábito da leitura. Eliz Oliveira testemunha isso em seu clube com frequência: “Muitas pessoas me contam que liam um ou dois livros por ano e, de repente, estão lendo os 12 que escolhemos no clube. E não é só a quantidade, mas também o envolvimento e o interesse genuíno nas leituras. Essa transformação acontece de verdade!”.
No entanto, ela faz um alerta importante: não perca sua autonomia como leitor. Aproveite o impulso do clube para descobrir por conta própria outras obras, autores e gêneros que te atraem.
“Participar de clubes, ler o que te recomendam e ser influenciado é incrível e muito enriquecedor. Mas não acho que deva ser a única forma de leitura. É fundamental manter suas próprias escolhas e construir sua experiência pessoal e única como leitor. Então, não deixe de procurar livros por si mesmo e trilhar seus próprios caminhos literários!”, finaliza Eliz.
Se você está em Recife e busca uma forma divertida e enriquecedora de mergulhar no mundo dos livros, procure um clube que te chame pelo nome (ou pelo gênero!).
Com essas dicas, sua experiência será ainda mais memorável e sua paixão pela leitura ganhará novos capítulos emocionantes.