"Homem com H" é extravagante, autêntico e resgata a natureza de Ney Matogrosso de maneira excepcional
Com estreia prevista para 1º de maio, o longa mostra a trajetória de Ney Matogrosso desde a infância até se tornar um dos maiores artistas brasileiros

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"Homem com H", filme escrito e dirigido por Esmir Filho, que retrata a trajetória de Ney Pereira da Silva, de nome artístico Ney Matogrosso, está com estreia prevista para o dia 1º de maio nos cinemas brasileiros.
Com produção da Paris Entretenimento, distribuição da Paris Filmes, e apoio do Riofilme, o longa tem classificação indicativa para maiores de 16 anos.
Jesuíta Barbosa dá vida a Ney Matogrosso, dono de uma voz inconfundível e de performances memoráveis.
O filme acompanha a origem em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos do pai.
Anos após sair de casa, em São Paulo, estreou como vocalista dos "Secos e Molhados", ao lado de João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), dando início às apresentações históricas que o definiram como um dos maiores artistas brasileiros da atualidade.
Também é mostrado as paixões de Ney Matogrosso, entre elas Cazuza (Jullio Reis), um de seus grandes amores, e Marco de Maria (Bruno Montaleone), seu companheiro por 13 anos.
A trama traz grandes sucessos do cantor, como "Rosa de Hiroshima", "Sangue Latino", "O Vira", "Bandido Corazón", "Postal de Amor", "Não Existe Pecado ao Sul do Equador", "Encantado", e claro, "Homem com H".
Pelo direito de ser livre
O longa começa retratando a infância de Ney, que sempre foi muito reprimido pelo pai (Rômulo Braga). O menino era tratado diferente dos outros irmãos, pois era julgado como homossexual desde pequeno. Ao chegar na adolescência, após uma briga feia com o pai, Ney é expulso de casa.
Ele acaba se alistando na aeronáutica, por não ter onde morar, mas acaba se mudando para São Paulo, onde se encontra em um coral e revela o desejo de ser ator. Nesse tempo, uma amiga o apresenta para João e Gerson, que juntos formaram a banda "Secos e Molhados".
Quando estrearam, a banda teve um sucesso astronômico muito rápido. O cantor já começava a lançar um estilo próprio, vestindo-se em figurinos com referências animalescas e maquiagens inusitadas. Apesar de não ter sido aceito pelo conservadorismo, Ney nunca negou a essência e desafiou preconceitos durante todas as performances.
Após se separar da banda, em 1975, Ney encontra-se em um estilo menos "bicho" na carreira solo. E é aí que a vida do cantor muda da água para o vinho. Ele muda-se para o Rio de Janeiro e conhece Cazuza, no qual vive entre relacionamento e amizade. Os dois mostram-se ser complementares na vida um do outro.
O mais interessante do longa-metragem é que consegue trazer críticas e reflexões dentro do roteiro, por mais que seja de uma biografia. E, nesse contexto, um dos maiores temas, senão o maior, é a repressão da ditadura militar e o medo de poder ser quem se é.
Muito se é mostrado sobre os reprimidos durante à ditadura, mas essa narrativa traz uma visão muito ampla e parece que o telespectador sente na pele o que os personagens estão vivendo.
É possível que isso seja um bônus por ser uma história de uma figura tão especial para a arte brasileira? Talvez, um pouco. Mas a conexão dos personagens com o enredo torna tudo mais sensível e sentimental de acompanhar.
A busca pela liberdade é algo muito frisado por Ney Matogrosso, que por mais que sofresse até mesmo duas vezes mais, sendo artista e ainda LGBT, nunca baixou a cabeça e serviu ao que as pessoas mandavam.
Dentro de casa, fora de casa, em cima dos palcos ou por trás dos palcos, Ney não se prende em uma caixinha. É um dos primeiros sentimentos que são mostrados ao telespectador, sempre dito pelo próprio Ney.
E é nesse encontro da liberdade dentro da repressão que o filme traz um dos maiores ensinamentos, que, apesar de ser óbvio, é muito esquecido: todos têm o direito de ser livre. Ney foi e continua sendo livre.
Consagrado como um dos maiores artistas da atualidade, a biografia não poderia ser nada menos que grandiosa. Esmir Filho conseguiu dirigir um dos filmes mais emocionantes de 2025, ou o maior até o momento.
Jesuíta Barbosa incorpora Ney Matogrosso em total essência
Impecável. Essa é a palavra para definir a atuação de Jesuíta Barbosa. A escolha de elenco já foi ótima, mas Ney Matogrosso não poderia ser interpretado por outra pessoa. Não existe um mundo em que outro ator teria uma conexão tão forte com o personagem.
Jesuíta vem mostrando o excelente artista que é ao longo dos últimos anos. Em filmes como "Tatuagem", "Praia do Futuro", e a novela na qual chamou atenção, "Pantanal", mostra que ele consegue se adaptar a qualquer roteiro. Porém, "Homem com H" pode entrar no currículo como uma das suas melhores atuações.
Todos os trejeitos, expressões corporais e faciais, seja dentro ou fora dos palcos, foram lindamente incorporadas pelo ator. Não é à toa que o próprio Ney se emocionou ao assistir ao filme junto a Jesuíta.
Quem acompanha o cantor desde o início da carreira, ou até mesmo quem o conheceu nos últimos anos, reconhece no intérprete não apenas a imagem, mas também a essência do cantor.
Olhar para Jesuíta nesse filme é como olhar através da vida de Ney. É como atravessar o tempo e enxergar, nos gestos e no olhar, a alma pulsante de Ney Matogrosso, com toda a poesia, força e intensidade. A homenagem não poderia ter sido mais certeira.
Confira o trailer: