"Virgínia e Adelaide" convida o telespectador a uma reflexão sobre cor, gênero e direitos básicos do ser humano

Com estreia prevista para 8 de maio nos cinemas, o longa-metragem traz uma história emocionante das mulheres que fundaram a psicanálise no Brasil

Publicado em 26/04/2025 às 17:58
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O cinema nacional está prestes a ganhar mais uma história enriquecedora no catálogo de filmes brasileiros!

Produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, com coprodução da Globo Filmes e GloboNews, e distribuição H2O Films, "Virgínia e Adelaide" conta a história de como duas mulheres participaram da fundação da psicanálise no país.

Virgínia Bicudo (Gabriela Correa), mulher negra, professora universitária e pioneira dos estudos sobre racismo no Brasil, se torna a primeira paciente de Adelaide Koch (Sophie Charlotte), judia, médica e psicanalista, que se muda para São Paulo em fuga da Alemanha nazista.

O longa-metragem chega aos cinemas no dia 8 de maio, dirigido por Yasmin Thayná e Jorge Furtado, com classificação indicativa para maiores de 14 anos. 

As mulheres se encontraram em 1937, um ano após a chegada de Adelaide ao Brasil, ao fugir da perseguição nazista, acompanhada pelo marido e as duas filhas.

Juntas, elas foram pioneiras na divulgação da psicanálise no país, enfrentando barreiras e preconceitos. Foram médica e paciente por cinco anos, colegas por mais 30 anos, e amigas ao longo da vida.

Divulgação/Fábio Rebelo
"Virgínia e Adelaide" conta sobre a fundação da psicanálise no Brasil - Divulgação/Fábio Rebelo

Um olhar crítico sobre contexto histórico e político

Como citado, o filme se passa no ano de 1937, época em que o Brasil ainda estava muito mais tomado por ideais conservadores e preconceituosos, e a Alemanha, pelo nazismo. Adelaide chega ao país em 1936, pois viu que o lugar de origem estava a privando do que a psicanalista mais gostava: estudar. 

Já Virgínia, que sempre estudou e lutou para ter oportunidades no campo acadêmico, sofre com o racismo enraizado e não entende como ser feliz e se aceitar.

Ela procura Adelaide, por meio de um parceiro da faculdade, para fazer uma "análise", como seriam chamadas as consultas terapêuticas. A alemã recusa de início, mas a brasileira consegue convencer e as duas são início às sessões.

O longa é retratado com uma linha do tempo não linear, o telespectador consegue perceber os três tempos da história: passado, presente e futuro.

Muitas vezes, essas narrativas são jogadas ao mesmo tempo. É confuso de início, mas, quando se adapta ao filme, esse fato passa a se tornar interessante. Isso se dá também pela ocorrência de que o roteiro é misturado com cenas comuns e cenas documentais. 

As mulheres expõem as histórias de vida tanto nos diálogos das sessões, quanto em um take mais documental, nos quais elas quebram a quarta parede e conversam com o telespectador. E são nesses momentos de documentário em que as críticas mais aparecem.

É um fato todos os acontecimentos cruéis que ocorreram durante o período da Alemanha nazista e de um Brasil escravista. As mulheres compartilham vivências que, por mais que estejam inseridas em um contexto histórico diferente, se assemelham por tantas perdas de direitos que sofreram. 

Por mais que estejam em continentes diferentes, Adelaide e Virgínia explicam como os governos, tanto alemão quanto brasileiro, podiam chegar a ter ideais parecidos. Virgínia critica que, na época, o Governo Vargas apoiava ideais fascistas, estando em uma linha tênue com o Governo Hitler.

O modus operandi dos dois governos, como citado no longa, eram muito parecido, apesar das semelhanças serem expostas à população de forma sutil. 

Isso é muito questionado durante o filme, principalmente por uma das personagens principais ser uma mulher negra. O sofrimento de ser preta, mas ter passabilidade branca, por ter a cor mais clara da família, é algo que a protagonista não entende a fundo.

O ponto-chave das terapias é: como o racismo velado da própria família acabou enraizado nos pensamentos de Virgínia. Ela explica que é filha de um homem preto livre com uma imigrante italiana, por isso não sabia ao certo sobre o que é perceber ser negra.

Os avós por parte de mãe nunca aceitaram muito bem o fato da filha ter se casado com um homem negro. E isso foi passado para ela e para as três irmãs. Assim, ela busca se entender para começar a ter consciência, de fato, do que é ser uma mulher, e do que é ser uma mulher negra no Brasil.

Divulgação/Fábio Rebelo
"Virgínia e Adelaide" conta sobre a fundação da psicanálise no Brasil - Divulgação/Fábio Rebelo

Roteiro peca nos saltos temporais

O longa-metragem de Yasmin Thayná e Jorge Furtado possui alguns problemas no quesito de divisão do tempo de tela para cada parte do enredo. A princípio, o filme conquista com a direção diferente ao misturar cenas comuns com a parte do documentário. 

As sessões de terapias são muito importante para entender o contexto e a profundidade das personagens, mas isso acaba tomando muito tempo do filme. Com 1h30, deixa a desejar sobre as práticas que as duas tiveram após o tempo das análises. 

É como se o filme deixasse a parte mais importante, que seria como as duas foram as pioneiras da psicanálise do Brasil, como uma questão que dava para ser resolvida em menos de 30 minutos.

Por mais de uma hora de filme, acompanhamos o tratamento de Virgínia. Logo em seguida, temos uma cena que conta brevemente sobre a atuação dela na psicanálise e em como o país não a aceita, apesar de ela ter passado anos estudando para isso.

Um dos únicos feitos abordados é o programa de rádio, chamado "Nosso Mundo Mental", no intuito de ajudar as pessoas a se compreenderem melhor e serem mais felizes. Porém, tudo é muito vago. É mostrado algumas cenas de Virgínia falando com o microfone, mas nada muito extenso.

A própria sinopse do longa-metragem dá a entender que a construção do pioneirismo da psicanálise deveria ser uma ação em conjunto das duas mulheres, mas parece, muitas vezes, que Adelaide é uma coadjuvante que apenas dá um "click" na mente da personagem de Gabriela Correa, não que as duas trabalham juntas para isso. 

O que mais é mostrado é a relação de paciente e médica, e muito pouco de como elas se tornaram colegas de profissão e amigas de longa data. A escolha da duração do longa-metragem pode não ter sido uma das melhores.

Talvez o roteiro não tenha se amarrado a estes fatos por ser baseado em histórias e vivências reais, mas, como o cinema também precisa ser acessível para quem é leigo, isso acaba abrindo espaço para o telespectador sentir falta de uma visão mais explicada sobre os assuntos. 

No mais, é muito interessante a maneira na qual as duas personagens conduzem o filme, principalmente por serem as únicas atuando dentro do longa. Gabriela Correa e Sophie Charlotte dão um show de atuação e transmitem a conexão de atriz/protagonista que tanto se espera em um filme que representa temas tão delicados e importantes como esse.

Confira o trailer:

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