Recife sedia primeiro curso gratuito de dança de forró para pessoas com deficiência visual
Projeto pioneiro no Brasil, busca desenvolver métodos acessíveis do ensino do forró para pessoas com deficiência visual; Veja detalhes

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Por onde o sanfoneiro passa, o chão treme. Os pares se formam, os corpos balançam, e o coração do Nordeste pulsa no compasso do forró. Agora, essa experiência sensorial e afetiva ganha um novo significado. No Recife, o projeto “Baião de 3 – Pesquisa em Audiodescrição, Forró e Dança” dá início, a partir de 3 de maio, ao primeiro curso de forró voltado exclusivamente a pessoas com deficiência visual, promovendo não só inclusão, mas também a celebração de uma herança cultural que faz parte da alma brasileira. Para participar é necessário preencher ficha de inscrição na internet (https://encurtador.com.br/T422Q)
O projeto é uma homenagem viva ao forró, gênero nascido da mistura do baião, xote e xaxado, e que em 2021 foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mais do que uma dança, o forró é uma linguagem de pertencimento, de encontros e de afetos. Desde os tempos de Luiz Gonzaga — o Rei do Baião, que cantou o sertão em versos como “olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo” — até os dias atuais, ele se mantém vivo na memória e nos corpos que se deixam conduzir pelo toque da sanfona.
E é exatamente por esse caminho de afeto e memória que o projeto conduz seus participantes. Ao longo de oito sábados, sempre das 15h às 17h, na Escola de Dança Corpo e Expressão, em Casa Amarela. As pessoas com deficiência visual terão a oportunidade de aprender os principais passos da dança, como o tradicional “dois pra lá, dois pra cá”, e outros movimentos marcantes do forró de salão — tudo com a mediação da audiodescrição, que traduz com palavras os gestos e movimentos normalmente captados apenas pela visão.
Imagine ouvir uma sanfona começar a tocar, a voz de Marinês ecoando no ambiente, ou um clássico de Dominguinhos dando o tom da aula. Agora imagine que, ao som desses mestres, você escuta uma voz descrever: O pé esquerdo avança com suavidade, enquanto o direito recua. O quadril acompanha o ritmo, e a mão direita guia com delicadeza o parceiro. Essa é a proposta do Baião de 3, que busca desenvolver um modelo de ensino inclusivo para ser replicado em instituições culturais e educacionais de todo o País.
Quem ensina essa nova forma de sentir a dança é o professor Marcus Accioly, artista multifacetado com baixa visão, que une sua experiência em danças de salão à vivência de quem conhece os desafios da acessibilidade por dentro. Ao lado dele, a produtora cultura, coordenadora, pesquisadora e idealizadora do projeto, Marília Santiago - que é audiodescritora, tiflologa (estudo da legislação, do desenvolvimento e reabilitação de cegos e deficientes visuais), e pós-graduanda em educação inclusiva.
Ela atuará, dentro do projeto, com um papel estratégico de investigar e comprovar a eficácia da audiodescrição no ensino da dança — uma metodologia que poderá ser replicada em outras experiências culturais no país.
A cada encontro, o grupo se transforma em laboratório vivo de pesquisa e afeto, embalado por letras que falam de saudade, de festa, de luta, e que agora falam também de pertencimento. A trilha sonora do curso será composta por Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Santanna, Flávio José, e por tantos nomes da música nordestina — incluindo artistas pernambucanos que eternizaram o forró como símbolo de identidade.
Além das aulas práticas, o projeto prevê palestras sobre anticapacitismo nas escolas do bairro de Casa Amarela e a publicação de um artigo acadêmico com os resultados da pesquisa. O impacto vai além da sala de aula: ele chega às ruas, aos arraiais, às festas juninas, garantindo que mais pessoas com deficiência visual possam ocupar esses espaços com segurança, alegria e autonomia.
Serviço:
- O quê: Recife sedia primeiro curso gratuito de dança de forró para pessoas com deficiência visual
- Quando: Todos os sábados do mês de Maio (3, 10, 17, 24, 31); e os três primeiros sábados do mês de Junho (7, 14, 21).
- Onde: Escola de Dança Corpo e Expressão, em Casa Amarela
- Horário: 15h às 17h
- Ingresso: gratuito
- Inscrições: https://encurtador.com.br/T422Q