‘Resgate Implacável’ entretém, mas apresenta uma trama clichê e enjoativa

Estreia nesta quinta-feira (27) o filme 'Resgate Implacável', dirigido e roteirizado por David Ayer, com participação de Sylvester Stallone. O longa é estrelado pelo veterano em filmes de ação Jason Statham, rosto bem conhecido por trabalhos em franquias como 'Velozes e Furiosos' e 'Os Mercenários’. Nesta produção, o ator interpreta um personagem que segue o arquétipo clichê do ex-militar estadunidense: atormentado pela violência que presenciou, tenta reconstruir a vida e cuidar da família enquanto sofre para deixar de lado as sequelas do passado, que sempre acabam retornando uma hora ou outra. Nacionalista, super protetor e violento, apesar de se esforçar para deixar de ser. um herói incompreendido.

Na trama, o protagonista Levon Cade, vivido por Statham, abandonou sua posição como agente de operações secretas para levar uma vida simples e humilde como operário de construção civil, longe dos perigos inerentes à rotina de sua antiga profissão. Assim, ele pode se dedicar mais à criação de sua filha, Meredith (Isla Gie), fruto de uma relação que o deixou viúvo. A criança vive com o avô — pai da falecida esposa de Levon —, que o detesta por temer o descontrole da sua agressividade e o retorno dos seus traumas passados.

A história começa a se desenrolar quando Jenny (Arianna Rivas), filha do casal patrão de Levon, é sequestrada. Desesperados, os pais, que conhecem o passado e as habilidades do protagonista, pedem sua ajuda para encontrar a adolescente. O personagem hesita de início apesar de ter uma ligação forte com a família, já que teme colocar Meredith em perigo ou acabar perdendo o direito às visitas. Contudo, decide abraçar a missão após conversar com um amigo e começa a investigar o bar onde a garota foi vista pela última vez.

Jornada cansativa

A partir daqui, inicia-se um ciclo que se repete diversas vezes ao longo do filme: Levon espiona um determinado local, observa o comportamento de seus alvos, invade — geralmente, enquanto uma festa acontece —, se envolve em uma briga violenta que acaba em mortes, consegue uma pista que o leva a um novo lugar. Essa estrutura permanece sendo explorada durante todo o longa, e o que é inicialmente até divertido, se torna bastante maçante, dando uma impressão de que se está assistindo a diversos curtas iguais dentro de um mesmo filme.

O inimigo ‘de fora’

Durante a jornada, o protagonista vai descobrindo que o sequestro de Jenny envolve uma rede criminosa mais perigosa do que ele imaginava, com raízes na máfia russa. A tática de colocar estrangeiros como os verdadeiros inimigos de filmes de ação com esse é bem comum. Apesar de haver estadunidenses envoltos nesses crimes, são “os outros” que estão por trás de tudo e os diálogos, bastante expositivos, lembram a todo momento quem são os “peixes grandes” e os quem são os “peixes pequenos”.

Os vilões, especialmente os mafiosos, são bem caricatos e apesar de serem o tempo inteiro mencionados por outros personagens como extremamente perigosos, são facilmente derrotados pelo herói ex-militar, sozinho. Alguns outros elementos expõem um subtexto nacionalista, como quando Levon deixa sua filha na casa do amigo que o incentivou a resgatar Jenny e a entrega uma bandeira mista, dos Estados Unidos e do Reino Unido, país de sua mãe, para que ela sempre se lembre quem é e de onde veio.

Diálogos expositivos

As conversas entre os personagens são frequentemente expositivas em alguns momentos. Diversos diálogos fazem questão de explicitar desnecessariamente o quão perigosos são os mafiosos da trama, enquanto outros exaltam a força e as habilidades do protagonista, lembrando a todo momento o herói competente e temido que ele é, apesar das suas vulnerabilidades e tendência ao descontrole.

Um exemplo dessa exposição excessiva acontece logo no início, quando Levon tortura um dos personagens para conseguir informações, e não satisfeito com simplesmente mostrar o que está acontecendo, o roteiro precisa explicar por meio de falas detalhes de como o método funciona em uma troca entre o personagem e um dos antagonistas que simplesmente não faz muito sentido.

É repetitivo, mas entretém

Apesar das repetições, ‘Resgate Implacável’ deve agradar fãs de ação. Statham faz um bom trabalho como Levon e ajuda a deixar o personagem um pouco mais interessante, embora o filme desperdice algumas oportunidades de explorar melhor seu lado mais vulnerável e emotivo. Os combates seguem o estereótipo do gênero, em que o protagonista sofre pouquíssimos danos apesar da intensidade das lutas e derrota uma série de adversários de uma vez com poucos recursos, mas as coreografias são interessantes e divertidas de acompanhar.

No fim das contas, o longa é mais do mesmo, não explora nada de diferente de outras tramas de ação e se contenta com isso, parecendo abraçar muitos clichês conscientemente. ‘Resgate Implacável’ pode ser enjoativo para alguns espectadores a partir de um certo ponto, mas tem potencial para entreter, especialmente quem já conhece e gosta de grandes franquias de ação.