Do loiro pivete ao nevou: a tendência do Carnaval 2025 no Recife
Onda ganha força em dezembro, com as festas de final de ano e se estende para o verão. Vem conhecer o fenômeno que tem feito a cabeça da galera!

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Fenômeno nos verões, o "nevou" está cada vez mais presente nas ruas do Recife. Trata-se da cultura de descolorir, platinando os cabelos até os fios ficarem completamente brancos, sendo estendido até a barba - e, aos mais detalhistas, a sobrancelha. A onda começa às vésperas do Natal, ganha força no Réveillon e lota os salões na semana prévia do Carnaval 2025.
Com raízes difíceis de rastrear, os cabelos platinados bombaram no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, principalmente nas favelas e bailes negros do Rio de Janeiro.
A tendência faz parte de uma identidade construída nas periferias, sendo característica da população negra onde ano após ano, ganha popularidade e quebra a resistência contra o preconceito racial, ganhando adeptos de artistas, atletas e políticos, como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que descoloriu os fios em 2024 e desencadeou para que outros nomes do Poder fizessem o mesmo.
Loiro pivete
Quem ouviu um bom pagode nos anos 90 reconhece o penteado dos cantores Belo e Rodriguinho, com um tom amarelado, precedente do nevou. "Os dois talvez sejam os principais responsáveis pelas raízes desse movimento", comenta o jornalista Raoni Oliveira.
Os dois talvez sejam os principais responsáveis pelas raízes desse movimentoRaoni Oliveira
Quem vive nas periferias conhece bem a luta para alcançar o tom perfeito de loiro. Antigamente, descolorir até atingir um branco platinado era um luxo distante, por conta do alto custo do procedimento. Para muitas pessoas da comunidade, atingir esse tom parecia impossível.
A solução? O famoso "loiro pivete", um tom amarelado, feito com água-oxigenada e amônia, muitas vezes por conta própria que se tornaria símbolo de resistência e identidade. Essa prática, no entanto, arde muito o couro cabeludo.
A popularização do pó descolorante e a acessibilidade aos ingredientes necessários para o processo viraram o jogo e fizeram com que o preço caísse, tornando o desejado "platinado" um pouco mais próximo da realidade. Aí nasceu o "nevou", aquele tom de loiro platinado que, finalmente, se tornou acessível e conquistou os adeptos.
"É uma tendência influenciada pelo Tik Tok e outras redes sociais. Os meninos postavam vídeos clareando os cabelos, barbas e bigodes, até deixá-los com aspecto nevado. O termo surgiu porque, nas postagens, eles também recorriam a aplicativos com efeitos simulando neve caindo em cima da cabeça, e daí postavam “nevou” ou “nevada”. Então, ficou esse nome. É uma febre", diz o cabeleireiro Mauro Brettas ao jornal O Globo.
O público-alvo é majoritariamente masculino, jovens entre 15 e 20 anos, que para aderir à tendência, os custos variam entre R$ 50 e mais de R$ 500, dependendo do salão escolhido. Há também a opção de realizar o processo em casa, investindo cerca de R$ 100 em produtos. No entanto, o resultado pode não ser o esperado, além dos possíveis riscos ao couro cabeludo.
O estudante João Guilherme, de 22 anos, morador de Paulista, no Grande Recife, descolore o cabelo há alguns anos. "Já virou uma tradição de carnaval. Arde, mas vale a pena. O visual fica diferente, melhora a autoestima e, claro, chama a atenção das mulheres", afirma.
O estigma
Após viralizar e ter adepto nos diferentes meios, os jovens pretos - pioneiros dessa moda - que moram nas comunidades Brasil afora, sofreram com a estigmatização de que quem fosse adepto ao nevou ou loiro pivete estaria, automaticamente, associado à criminalidade. Ou pior, ao não-padrão e beleza.
"A primeira vez que fiz o loiro pivete nem era moda, tinha uns oito, nove anos, minha tia descoloriu meu cabelo e aí minha avó chegou e quando viu aquilo disse: 'Não, preto não pode ser loiro'. E várias outras coisas que acho que todo mundo já ouviu na vida, infelizmente. Aí eu tive que raspar o cabelo, por isso quando eu cresci falei: 'sou dono do meu próprio cabelo, dono meu próprio corpo'", relembrou o psicólogo, Franklin Santos.
Mais do que estética
O "nevou" está longe de ser só estética. Os cortes de cabelo - que pode incluir variações como reflexos, waves e até desenhos estilizados - são, sobretudo, uma questão de autoestima da juventude da periferia, trazendo identidade, sensação de pertencimento e, por que não, elevando a autoestima.
Enquanto, há alguns anos, apenas a máquina 1, 2 eram alternativas para os jovens, principalmente os com cabelo mais crespo, atualmente os diversos estilos elevam o bem-estar e faz eles se sentirem bem consigo mesmos.
Cuidados com a química
Nem tudo são flores! Para chegar ao tão sonhado "nevou", o procedimento conta uma mistura de água-oxigenada e pó descolorante aplicada nos cabelos. Os cuidados são antes, durante e depois da química.
O primeiro passo é usar um matizador logo após a descoloração dos fios, para deixar a cor neutralizada e evitar aquele efeito amarelado indesejado.
No dia a dia, é recomendado seguir uma rotina de cronograma capilar de hidratação. Ao fazer a descoloração os fios perdem parte da sua massa, composta por proteínas, queratina e aminoácidos, assim como a nutrição fica comprometida, pois a cutícula capilar fica mais exposta, obtendo dificuldade de produzir oleosidade natural e de reter água nos fios.
Os dois talvez sejam os principais responsáveis pelas raízes desse movimento
Raoni Oliveira