"Cérebro podre": Neurocientista já alertava sobre fenômeno escolhido como expressão do ano

Uso excessivo de redes sociais pode impactar o funcionamento do cérebro, segundo especialistas. Entenda os riscos e as origens do termo.

Publicado em 03/02/2025 às 13:02
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O termo "brain rot" ("cérebro podre") foi eleito como a expressão do ano pelo Dicionário Oxford, refletindo uma preocupação crescente com o impacto do uso excessivo das redes sociais na saúde mental.

A busca pela expressão aumentou 230% entre 2023 e 2024, acumulando cerca de 130 mil pesquisas ao longo do último ano.

O neurocientista luso-brasileiro Dr. Fabiano de Abreu Agrela já alertava sobre esse fenômeno desde 2018. Seu estudo, publicado no Brazilian Journal of Development, aponta que a interação frequente com plataformas digitais pode comprometer a capacidade de concentração e afetar a cognição.

O que significa "cérebro podre"?

A expressão "brain rot" descreve a deterioração cognitiva causada pelo consumo excessivo de conteúdos superficiais, especialmente aqueles presentes nas redes sociais.

Embora tenha ganhado destaque recentemente, a origem do termo remonta a 1854, quando o escritor Henry David Thoreau o utilizou no livro Walden para comparar a decadência intelectual ao apodrecimento de batatas na Inglaterra.

Neurocientista brasileiro já alertava sobre o perigo das redes sociais

O impacto das redes sociais na cognição já era discutido pelo Dr. Fabiano de Abreu Agrela há anos. Segundo ele, a facilidade de acesso a conteúdos rápidos e o excesso de estímulos visuais e sonoros podem comprometer a capacidade de foco, raciocínio lógico e pensamento crítico.

“Observa-se uma crescente dificuldade entre algumas crianças em se engajar em tarefas que exigem foco e concentração, como leitura e pesquisa, enquanto o acesso à gratificação instantânea das redes sociais se torna cada vez mais atrativo”, afirma o especialista.

O impacto da internet na inteligência

No estudo “A internet está tornando as pessoas menos inteligentes”, o neurocientista destaca que as redes sociais estimulam um ciclo de recompensa rápida, liberando dopamina e criando uma dependência por estímulos superficiais.

Esse processo pode prejudicar o desenvolvimento do pensamento analítico e a capacidade de solucionar problemas de maneira eficaz.

“Temos observado dificuldades no desenvolvimento de raciocínio aprofundado e na aplicação da lógica em situações cotidianas. Essa dificuldade pode estar associada a fatores como déficit de atenção, excesso de estímulos superficiais e falta de incentivo ao pensamento crítico”, explica.

Brasil tem 144 milhões de usuários ativos em redes sociais

Os efeitos do uso excessivo das redes sociais são especialmente relevantes no Brasil, que possui uma das maiores populações conectadas do mundo. Segundo o relatório Digital 2024: Brazil, produzido pela We Are Social e Meltwater, em janeiro de 2024, o país tinha cerca de 144 milhões de usuários ativos, representando aproximadamente 66,3% da população total.

Diante desse cenário, especialistas recomendam a moderação no consumo de redes sociais, além da busca por conteúdos mais aprofundados e atividades que estimulem o cérebro de forma saudável.

O equilíbrio entre o uso da tecnologia e hábitos intelectualmente enriquecedores pode ser a chave para evitar os efeitos do chamado "cérebro podre".

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