'Viva a Vida' discute a aventura das descobertas e a construção de laços na estrada, mas falta naturalidade
Filme estreia hoje (30) nos cinemas brasileiros, estrelando Thati Lopes, Rodrigo Simas, Jonas Bloch, Regina Braga e Diego Martins; veja crítica

Estreia nesta quinta-feira (30) o longa Viva a Vida, estrelado e protagonizado por Thati Lopes e Rodrigo Simas, nomes já conhecidos na indústria do entretenimento nacional. O filme de comédia romântica é dirigido por Cris D'Amato, que já esteve à frente de outras produções de humor como S.O.S Mulheres ao Mar e A Sogra Perfeita.
A trama, ambientada no Rio de Janeiro e em Israel, segue a lógica dos road movies, ou filmes de estrada, um subgênero do cinema em que a história e os personagens se desenvolvem ao longo de uma viagem, que perpassa diferentes locações.
Na história, Jéssica, interpretada por Tathi Lopes, é uma jovem órfã com uma vida solitária, que trabalha em um antiquário e passa por problemas financeiros. A única lembrança física que ela tem da sua família de sangue é um medalhão, presente da sua tia, que morre em um acidente de carro junto a sua mãe.
Prestes a ser despejada do seu apartamento, Jéssica encontra, em seu local de trabalho, um medalhão igual ao seu entre os pertences de uma pessoa falecida. Curiosa, ela vai atrás do doador dos itens, Gabriel, personagem de Rodrigo Simas.
Em uma conversa com a mãe de Gabriel, os dois descobrem que Raquel (tia de Jéssica) e Miriam (avó de Gabriel, dona do medalhão enviado ao antiquário) eram irmãs, mas pararam de se falar após a fuga da terceira irmã, Hava, que abandonou a família e o noivado na juventude para fugir com seu grande amor, Ben, para Israel.
Determinada a obter uma herança e solucionar seus problemas financeiros, Jéssica decide viajar para Israel atrás de seus avós. Ela convence seu primo, Gabriel, a embarcar na jornada junto com ela. No país, os dois fecham contrato com uma agência de turismo comandada por Ben, avô da protagonista, para conhecer os lugares mais emblemáticos de Israel e, na hora certa, se apresentarem como parte da família.
Falta naturalidade
Apesar da proposta divertida, Viva a Vida peca em desenvolver relacionamentos e laços críveis, o que pode ser um problema para a imersão na narrativa. Tanto a familiaridade dos personagens que já se conhecem quanto a aproximação dos que estão se conhecendo não parecem orgânicas.
Gabriel, um adulto que não aparenta ser distante da sua família, simplesmente não conhece o básico da história dos seus parentes. O drama das três irmãs — que é entregue de mão beijada para a protagonista, portanto, não é um segredo — é tão novo para ele quanto para Jéssica, que acabou de descobrir que tem uma família viva.
Todas essas revelações, à la novela mexicana, acontecem em cerca de 10 minutos do filme. É também por volta desse tempo que Jéssica convence seu recém conhecido primo, com quem conversou por poucas horas — ou até minutos — no dia anterior, a viajar com ela para o exterior atrás da sua família.
Já em Israel, os protagonistas conhecem Ben durante o percurso da agência de turismo e tentam se aproximar dele. O personagem, interpretado por Jonas Bloch, imediatamente revela para os turistas que acabou de conhecer que foi deixado por Hava, detalha as circunstâncias e mostra a mensagem de um bilhete escrito por ela antes da fuga.
Todos à mercê da protagonista
Em determinados momentos, a sensação que o filme passa é de que a narrativa construída e seus personagens dependem de Jéssica, e não o contrário. Não é ela que se adapta ao mundo, ao invés disso, tudo se adapta a ela, às suas ações e aos seus problemas.
Um exemplo disso é uma cena em que ela e Gabriel são convidados para Bat Mitzvah, cerimônia judaica que celebra a passagem de uma menina para a vida adulta, de uma família conhecida de Ben. Jéssica revela que nunca teve um Bat Mitzvah e todas as atenções se voltam para ela. E então, a festa de de uma adolescente que a protagonista não conhece se torna a festa dela, uma celebração para ela.
A metamorfose das estradas
Ainda que os defeitos de Viva a Vida chamem certa atenção, o filme funciona bem dentro da proposta de um road movie, apresentando belas paisagens e locações variadas que, aos poucos, junto aos relacionamentos construídos durante na estrada, auxiliam a protagonista em sua jornada interior e mudam seu jeito de ver a vida.
Jéssica vive uma vida inteira acostumada a ser sozinha e desconfiando das pessoas ao seu redor. Na estrada, ela se abre para a construção de relacionamentos novos e para a possibilidade de ter uma família de verdade, com laços que vão além do sangue. Seu desejo inicial de obter uma herança é melhorar de vida é substituído pela fraternidade e pelo carinho que recebe dos outros personagens. O trabalho de Tathi Lopes, apesar das limitações do roteiro, ajuda a dar um ar um pouco mais genuíno para Jéssica.
As locações também auxiliam na criação dessa atmosfera de jornada e metamorfose. Vale mencionar que a escolha desses lugares começou em 2017 quando Cris D'Amato visitou Israel para explorar possíveis cenários e conhecer a cultura local.
“Após essa ‘imersão’, decidimos filmar entre Tel Aviv e Eilat, no sul do país, devido à singularidade e à beleza dessas áreas. Escolher essas locações foi uma decisão difícil, mas necessária, pois seria inviável filmar de norte a sul. As paisagens únicas, como os desertos e o Mar Morto, ofereceram cenários distintos e fascinantes, que enriquecem a narrativa do filme e trazem algo novo para o público”, explicou.
Além das locações citadas, cenários históricos como o Muro das Lamentações, o Parque de Timna, o Mercado Mahane Yehuda e Ein Gedi compõem a atmosfera do longa.
“Queríamos fazer um filme para encantar e inspirar, buscando a beleza no processo. Perseguimos esta cartilha durante toda nossa viagem durante as filmagens em Israel. Nosso objetivo era levar o público conosco ao longo da viagem, passando por cenários históricos, gigantes e cheios de história, e uma natureza menos conhecida por nós brasileiros, como desertos e oásis”, afirmou o produtor de Viva a Vida, Julio Uchôa.
Viva a Vida é uma produção de Julio Uchôa, da Ananã Produções, em coprodução com a Claro, e conta com investimento do BRDE/FSA/ANCINE, patrocínio do Banco Daycoval e apoio do Ministério de Turismo de Israel, Eilat Municipal Tourism Corporation, CI Corporation e da Genera.