"Inexplicável" traz fórmula clichê de superação e acaba se tornando explicável

O longa-metragem consagrado no Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF) promete emocionar o público e trazer questionamentos sobre a fé

Publicado em 02/12/2024 às 15:23
Google News

*Esta matéria contém spoilers

Dirigido por Fabrício Bittar e produzido por Clube Filmes, "Inexplicável" narra uma história baseada no livro "O menino que queria jogar futebol: uma história de fé e superação", de Phelipe Caldas. No melodrama, a família Varandas confronta a fragilidade da vida e as difíceis escolhas diante da doença de um filho.

O filme terá a estreia exclusiva nos cinemas, para o público geral, no dia 5 de dezembro, quinta-feira, contando com a classificação não recomendada para menores de 12 anos.

Em um emocionante drama que envolve fatos reais, Yanna (Letícia Spiller) e Marcus (Eriberto Leão) embarcam em uma jornada de superação e fé com a trágica situação do seu filho mais velho, Gabriel (Miguel Venerabile), diagnosticado com uma doença gravíssima aos 8 anos.

Gabriel, apaixonado por futebol e capitão do time da sua escolinha, sofre com dores de cabeça constantes e, em um dos jogos de uma competição, acaba sendo socorrido devido a um desmaio. A partir dessa situação, os pais descobrem sobre um tumor no cérebro do menino. 

O roteiro utiliza a luta e a correria para salvar a vida do filho como a peça chave da construção da narrativa dos personagens do filme.

O desafio do amor materno

Um ponto interessante é como abordam o amor maternal de Yanna durante o período de internação de Gabriel. A mãe, além de precisar cuidar do filho mais velho, tem mais outras duas preocupações durante o filme: a gravidez e o filho mais novo.

O longa traz questões da mãe não querer ficar longe do filho no hospital, podendo usar apenas os momentos de visita da UTI para visitar Gabriel, devido à gravidez. Muitas vezes, Yanna sabota a própria vida para se dedicar totalmente a apenas um filho.

Em uma cena rápida, mas que vale a observação, o filho mais novo se sente negligenciado pela mãe, por não estar dando atenção à vida fora do hospital. Yanna, então, percebe que a responsabilidade como mãe não deve ser exclusivamente voltada a um filho doente, e faz uma reflexão sobre como está lidando com a situação além da internação de Gabriel.

Conflito: teísmo x ateísmo

Inexplicável usa uma narrativa muito conhecida entre os dramas de superação: um casal composto por uma pessoa que é altamente adepta à religião, e outra que não acredita e tem raiva de Deus.

Yanna é uma mãe muito teísta e tem a fé como base para quase tudo na vida. Por outro lado, Marcus não acredita em Deus da mesma forma e o questiona por grande parte do filme. O pai não consegue participar de rodas de orações e trata com ironia ou deboche quando comentam sobre "Deus estar no comando de todas as coisas". 

O tópico sobre a fé acaba se tornando o elemento central do filme, no qual questões religiosas sobressaem os métodos científicos usados em tratamentos. Faz parecer que, por mais que existam profissionais devidamente qualificados, a fé é uma parte que não pode ser deixada de lado.

A família de Gabriel passa por situações nas quais a fé é colocada em risco devido a um possível luto. O menino "morre" e tem seu "renascimento" diversas vezes ao longo do drama.

E, como na maioria dos filmes de superação, a pessoa que não acredita em Deus acaba cedendo às pressões religiosas e passa a acreditar que a fé, de fato, é um ponto-chave na cura de doenças graves. "Não acreditar é tão louco quanto acreditar" é uma frase marcante e usada no filme como a virada de chave para o pai se tornar teísta. 

No fim, o longa acaba se tornando um debate moral acerca de como as questões de vida ou morte são atreladas ao quanto se acredita em Deus. 

Tags

Autor