Dupes: Tudo o que você precisa saber antes de comprar produtos similares

Uma forma mais econômica de ter o seu carrinho de desejos completo sem gastar muito? Conheça tudo sobre a nova tendência que está dando o que falar!

Publicado em 10/08/2024 às 9:00 | Atualizado em 12/08/2024 às 8:48

Um vídeo no TikTok, uma foto no Instagram e pronto: a sua rotina inteira está transformada. Aquele produto que não tinha destaque, de repente é a moda do momento e se torna sinônimo de “status”.

Não é novidade que as redes sociais estão no centro de uma verdadeira revolução no mundo mercadológico, transformando a maneira como consumimos tudo ao nosso redor. Dentro dessa bolha, uma nova onda tem conquistado os corações e carteiras do Brasil: os dupes.

Especialmente para os jovens de hoje, estar na moda é sinônimo de expressão pessoal e autenticidade. Como conciliar estilo com o orçamento limitado? A resposta está nos 'dupes'. Mas o que são esses produtos que estão conquistando os consumidores e como eles estão transformando a experiência de compra?

O que são dupes?

Dupes, abreviação de “duplicates” (ou duplicatas), são versões mais acessíveis de produtos de marcas renomadas, como cosméticos, que prometem resultados semelhantes aos dos itens originais, porém, com um custo bem menor.

O conceito é oferecer alternativas econômicas sem comprometer a qualidade. Esses produtos podem variar desde maquiagens até cuidados com a pele, passando por perfumes e acessórios.

Nas redes sociais

Não à toa o crescimento do consumo de dupes no Brasil está fortemente ligado ao impacto das redes sociais. A primeira vez que o termo "dupes" foi pesquisado no Google, de acordo com o Google Trends, foi em junho de 2008, com cerca de 100 pesquisas no mês. Desde então, o termo passou a ser presença nas principais pesquisas do Brasil, especialmente nas áreas do Nordeste, Sudeste e Sul.

As categorias de perfumes e maquiagens são as mais procuradas, enquanto Zara, MAC, Dior e Nyx estão entre as principais buscas relacionadas, conhecidas por serem marcas de “luxo” frequentemente copiadas. O TikTok, em particular, tornou-se um dos principais canais para a promoção desses produtos, com hashtags como #dupe e #dupes acumulando mais de meio milhão de marcações.

Os vídeos frequentemente mostram comparações lado a lado de produtos caros e suas versões mais baratas, gerando um burburinho em torno de trends como a “primo rico x primo pobre”, onde o objetivo é encontrar alternativas acessíveis dos produtos de “elite”. No Instagram, o número de postagens sobre o tema também ultrapassa 1 milhão de publicações.

@nickindicasp O que essa marca está fazendo é loucura! #dupe #produtosimportados #maquiagem #make #lojademaquiagem #25demarço #nickindicasp som original - nickindicasp

“Muitas vezes, o produto de ‘marca’ pode ser de difícil acesso por vários motivos, como: preço, vender em poucas lojas ou ser importado. Então, encontrar um produto parecido em marcas nacionais e acessíveis torna o consumo mais fácil”, conta Isabely Selari, influenciadora com mais de 50 mil seguidores no Instagram e consumidora frequente de dupes.

Desde que as famosas resenhas ocuparam espaço nas redes, os brasileiros estão cada vez mais exigentes quando o assunto é beleza e cuidados pessoais. Há uma pesquisa maior por preços, qualidade e busca pelas opiniões de outros consumidores - e é exatamente nesse ponto que os dupes e a internet se encontram.

“Por muitas vezes, os produtos caros só possuem aquele preço pela marca que carregam ou por impostos de importação. Isso faz com que eles passem a não valer tanto a pena, então se eu posso encontrar algo mais barato e parecido, é com certeza a melhor vantagem. Às vezes, vejo um produto que quero muito e procuro em redes sociais/lojas opções parecidas”, complementa Isabely.

Muitos decidiram pegar uma outra rota ao buscar essas alternativas, que oferecem desempenho similar sem comprometer o orçamento, e ao mesmo tempo podem deixá-los “na moda”. Tiago Monteiro, mestre em economia de consumo e desenvolvimento social, explica que essa busca pode ocorrer por diversas razões.

"A gente é oriundo de uma sociedade que é extremamente ostentadora, muito midiática. A justificativa por trás desse fenômeno está muito ligada ao comportamento das pessoas, que buscam preencher necessidades de ego, vaidade ou representatividade através de produtos e marcas. Muitas vezes, essas necessidades vão além do aspecto econômico e refletem um desejo de pertencimento a um grupo específico ou status social.", afirma.

Ou seja, a procura por produtos de elite abrange mais do que a mera economia do País. "O aspecto comportamental e emocional é fundamental quando falamos sobre marcas. As pessoas valorizam o que uma marca representa para elas e para seu grupo social. Portanto, na interseção entre economia real e comportamento, o dinheiro desempenha um papel significativo.", adiciona.

O especialista destaca que a vontade dos consumidores de se sentirem incluídos e pertencentes a um grupo é muito forte, no entanto, o desejo de se diferenciar é tão necessário quanto.

"Um exemplo disso é uma pessoa de classe média que, para se diferenciar dentro do seu bairro, decide comprar um carro luxuoso. Embora ele viva no mesmo local e tenha as mesmas condições de outros residentes, o carro lhe proporciona um status que o distingue. As pessoas podem adquirir produtos não apenas para se mostrar a um grupo específico, mas também para se diferenciar dos outros ao seu redor.", finaliza o profissional.

Dados da Morning Consult, empresa global de inteligência e tecnologia, mostram que a cultura dos dupes ultrapassa as barreiras ao redor do mundo.

Aproximadamente um terço (31%) dos adultos dos EUA já compraram intencionalmente um dupe de um produto premium, com índices ainda maiores entre a Geração Z (49%) e millennials (44%).

Além disso, a viralidade dos produtos no TikTok tem um impacto significativo nas decisões de compra. Mais de um terço dos adultos dos EUA (36%) disseram que a viralidade de um produto influencia sua decisão de compra, com índices ainda maiores entre a Geração Z (46%) e millennials (50%).

A qualidade dos dupes

Como resultado desse novo mercado, os consumidores têm acesso a alternativas acessíveis que seguem as últimas tendências e oferecem uma experiência comparável à dos produtos mais caros, que não se limita mais a simplesmente copiar um item, mas sim a desenvolver réplicas que se aproximam quase que perfeitamente do original em termos de aparência (e às vezes, desempenho). 

"O ponto negativo é o vultoso investimento que as marcas de luxo fazem no processo de criação, desenvolvimento e lançamento de seus produtos. Esse processo envolve pesquisa e desenvolvimento, inovação em design, materiais de alta qualidade, além de estratégias de marketing que criam a percepção de valor e exclusividade. As empresas que produzem os dupes economizam nesses custos, o que lhes permite oferecer produtos a preços mais baixos. Essa prática, embora legal em muitos casos, pode ser vista como um atalho para o sucesso comercial, desvalorizando o esforço de inovação e originalidade das marcas pioneiras. Isso pode acarretar em uma redução dos esforços de desenvolvimento de novos produtos por parte das empresas que costumam lançar as tendências.", destaca Sandro Prado, Professor do MBA em Marketing da FCAP/UPE.

Atualmente, a capacidade de algumas varejistas globais de identificar um desejo popular e colocá-lo em produção em cerca de dias é notável. Elas podem ajustar cores, formatos e os detalhes do produto, atingindo um nível de perfeição que muitas vezes torna difícil para os consumidores distinguir entre o original e o dupe.

"Eles (empresas que fabricam dupes) não fazem a formulação do produto. Eu percebo que não é feita (uma boa produção) em relação à qualidade do conteúdo, mas sim à aparência da embalagem.", afirma Dafne Damasceno, maquiadora profissional e influencer.

A velocidade e precisão na replicação permitem que os consumidores desfrutem das últimas tendências da moda e da beleza a preços muito mais acessíveis, enquanto as marcas de elite continuam a competir para oferecer produtos que atendam às expectativas dos clientes. 

"Os produtos de luxo têm o seu valor e muitas vezes, não todos os casos, mas muitas vezes está atrelado basicamente ao investimento na imagem da marca. Quando você tem um iluminador da Dior, você pode gostar muito da qualidade dele, mas na maioria das vezes o impulso que faz você comprar é basicamente para ter um iluminador da Dior.", diz a profissional.

Uma palavra, milhões de compras

Um dos aspectos mais intrigantes do consumo geral dos dupes é a forte associação de palavras positivas como "na moda", "fashionável" e "elite" com marcas que são frequentemente copiadas. Em uma espécie de efeito manada, a simples repetição de uma ideia ou conceito pode torná-lo mais verdadeiro na mente das pessoas. Quando vemos uma marca sendo constantemente imitada, tendemos a associá-la a algo desejável e popular, mesmo que inconscientemente.

A imitação pode, em alguns casos, ser vista como um sinal de que a marca original possui um alto valor e é digna de ser copiada. Isso pode aumentar a percepção de valor da marca aos olhos do consumidor. Essa conexão entre linguagem e percepção é verdadeiramente surpreendente. À primeira vista, poderia se supor que a comparação de produtos com suas versões semelhantes estivesse associada a conotações negativas, como falta de originalidade ou baixa qualidade.

No passado, adquirir um produto que imitasse uma marca de luxo geralmente era visto com um certo grau de vergonha ou desdém, como se fosse um sinal de inferioridade ou um substituto insatisfatório. No entanto, a simples adoção de um termo em inglês, que confere uma aparência de modernidade e exclusividade, transformou essa percepção. O poder da influência digital, em particular, tem sido capaz de reverter completamente essa narrativa.

"Eu sinto que a aceitação em relação aos produtos similares é muito alta, então quando eu posto um produto e automaticamente eu me refiro a ele como "parecido" com um produto mais caro, isso já acaba mostrando um pouco mais de valor nele, sabe? As pessoas tendem a gostar bastante e agradecer pela dica.", comentou Dafne.

Em vez de associar "dupes" a algo pejorativo, a cultura contemporânea conseguiu transformar a aquisição desses produtos em uma fonte de orgulho. Isso ocorre porque o termo passou a ser visto não apenas como uma alternativa acessível, mas também como uma escolha inteligente e estratégica, que permite aos consumidores exibir uma sensibilidade apurada para tendências e economia, sem sacrificar o estilo.

Jogo da imitação: Cópia ou inspiração?

As cópias indetectáveis podem gerar vendas rápidas tanto para o original quanto para a imitação, beneficiando ambos os lados. No entanto, essas situações podem, em algum momento, impactar o campo da propriedade intelectual. A linha entre inspiração e plágio pode ser tênue, e é exatamente dessa forma que podem surgir disputas legais, como o caso envolvendo a marca de cosméticos Bruna Tavares e a Lua & Neve.

@eucintiapinho Respondendo a @Emilly.makeup_ base lua e neve copia da base da @Linha Bruna Tavares #baseluaeneve #basebrunatavares #copiadabasebrunatavares #maquiagem #resenhadebase ? som original - ?? Cíntia ????

Bruna Tavares, uma influenciadora e empreendedora de sucesso no setor de beleza, processou a marca Lua & Neve alegando que a empresa havia imitado um produto patenteado pela sua marca. O caso ganhou destaque devido à semelhança notável entre as embalagens e as fórmulas dos cosméticos dos dois produtos, levantando questões sobre a originalidade e a proteção da propriedade intelectual.

Segundo o JusBrasil, a marca Bruna Tavares possui seis registros de marca junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e incluem tanto o nome quanto o logotipo icônico da marca, que apresenta o espelho de princesa. Registrada na classe de sabões, perfumaria, óleos essenciais e cosméticos, entre outros, a BT impede qualquer outra empresa do mesmo segmento de utilizar o nome e a imagem da empresa.

A BT Tavares destacou, por meio de comunicado, que a semelhança entre as embalagens pode causar confusão entre os consumidores, que podem acreditar estar comprando um produto diferente do original. Em termos legais, o Código de Defesa do Consumidor proíbe publicidade enganosa ou abusiva, conforme descrito no Artigo 37.

Segundo Daniela Madruga, advogada especializada em Fashion Law e coordenadora do curso de Direito no Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFAFIRE), a legislação brasileira prevê penas e punições específicas para questões relacionadas ao plágio.

“As Leis de Propriedade Intelectual, dos Direitos Autorais e também do Código Penal tratam do tema, e preveem pena de reclusão de um a quatro anos ou multa. Bem como existe a tipificação do CDC, crime de venda de produto falso como original, “fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano de multa”.

De acordo com Ewerton Farias, Gerente de Atendimento do Procon-PE, o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) possui um papel crucial nesses casos.

“O Procon possui um papel tanto de fiscalizar se houver alguma denúncia como também de resolver conflitos individuais de consumidores que tiveram alguma violação no seu direito. Nesse caso, o consumidor procura o Procon individualmente para resolver aquela relação de consumo ou também fazer uma denúncia. Através disso, o órgão irá fazer uma fiscalização naquele estabelecimento comercial para averiguar se houve realmente alguma alguma ilegalidade, alguma violação.”

O especialista em direito do consumidor destaca que a linha entre inspiração e plágio pode ser tênue. “É preciso que haja uma diferenciação entre o plágio e uma inspiração, porque existem produtos que são inspirados em outros e aí não há nenhum problema. Agora, o plágio, que é a imitação, realmente é crime, então tem previsão no código.”

Nos casos em que o consumidor comprove uma falsificação, existem dois procedimentos prioritários, afirma Daniela:

“Existem duas opções: a primeira, dirigir-se até o local da compra com a nota fiscal e exigir alternativamente e à sua escolha: a entrega do produto original, a restituição imediata do valor pago monetariamente atualizado ou o abatimento proporcional do preço. Para tanto, deve-se ficar atento ao prazo de 7 dias, conforme o CDC e, caso o comerciante se recuse a respeitar o seu direito, procure o PROCON para abrir uma reclamação contra o comerciante. A segunda alternativa, que pode ser usada concomitantemente a primeira, é procurar uma delegacia especializada em crimes contra o consumidor, já que vender produtos falsificados como se fossem originais é crime.”

Como se proteger de possíveis plágios?

Ainda segundo Ewerton, além das próprias marcas que sofreram com o plágio, os consumidores também possuem outros direitos após a comprovação. “Se o consumidor compra um produto falsificado, plagiado, como se fosse original, há uma violação do direito consumidor, uma propaganda enganosa ali sendo veiculada. Aquele vendedor está cometendo um crime na esfera penal, como também na esfera do direito consumidor, violando as regras de consumo. O consumidor tem o direito de ser ressarcido do valor que ele pagou e devolvido, se comprovado o plágio.”

O especialista também oferece algumas orientações importantes para evitar ser vítima de golpes ou plágios, especialmente ao fazer compras online.

“É muito importante o consumidor se atentar na hora de comprar um produto, ver a reputação da loja, verificar na internet comentários acerca daquela loja, daqueles produtos que são comercializados para que ele não venha ser enganado e realize uma compra segura”.

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