Dia dos Namorados

Em mais um Dia dos Namorados, surge a dúvida: é verdade que Recife é a capital nacional da gaia?

Além dessas tradições, a "gaia" ganhou popularidade na internet como parte da cultura popular de Recife e da Região Metropolitana

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Catêrine Costa

Publicado em 11/06/2024 às 20:51 | Atualizado em 11/06/2024 às 21:16
Notícia

Recife, capital de Pernambuco, é um centro de diversidade cultural no Nordeste brasileiro.

A cidade abriga manifestações culturais como maracatu, caboclinhos, coco-de-roda, ciranda, samba, afoxé e o tradicional frevo, que é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Além dessas tradições, a "gaia" ganhou popularidade na internet como parte da cultura popular de Recife e da Região Metropolitana.

Em algumas partes do Brasil, "gaia" é um termo usado para descrever alguém que foi traído pelo parceiro ou parceira.

Na capital pernambucana, histórias de traição são comuns e se espalham rapidamente. Dizem que qualquer recifense, se ainda não foi traído, conhece alguém que foi ou que traiu.

Com a popularidade das redes sociais, essas histórias ganham visibilidade nacional. Da pessoa comum aos famosos, todos têm alguma ligação com o conceito de "gaia" na cidade pernambucana.

A seguir, apresentamos algumas histórias reais de recifenses que foram vítimas de traição. Para proteger a privacidade dos envolvidos, usaremos nomes fictícios.

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O Recife se prepara para 500 anos - Divulgação

HISTÓRIAS DE GAIA 

"NA CAMA QUE EU PAGUEI"

Bruna e João eram um casal simples, sem muitos luxos, mas cheio de amor e sinceridade. João não tinha uma cama em casa, então quando Bruna dormia por lá, era no chão mesmo.

Comovida com a situação, Bruna decidiu agir. Pegou o cartão de crédito e foi até uma loja onde comprou uma cama de casal por R$650. "Comprei no meu cartãozinho", disse orgulhosa.

A nova cama era motivo de celebração, então o casal decidiu ir ao Acadêmico do Morro, uma casa de shows famosa em Recife. Mas a noite não terminou bem. João ficou com ciúmes e começou uma briga que se estendeu até a rua em que a amada morava.

Os vizinhos assistiram à confusão, incluindo Luana, a melhor amiga de Bruna. Depois que a poeira baixou, Luana foi consolar João. Em vez de se preocupar com Bruna, foi direto para a casa de João e acabou estreando a cama (paga por Bruna) e os lençóis novos.

Maria Chuteira Enganada

No Recife e sua Região Metropolitana, a torcida de futebol é coisa séria, especialmente entre os times locais: Santa Cruz, Náutico e o Sport.

A história de traição de Aninha envolve um jogador de um desses times e aconteceu há quase 15 anos.

Bento era um jovem talento das categorias de base do Santa Cruz, vindo do interior de Alagoas para tentar a sorte na capital pernambucana. Ele acabou fazendo amizade com o primo de Aninha, que morava na mesma rua que ela.

Em suas visitas, Bento e Aninha se conheceram, ficaram e começaram a namorar. Ele se tornou rapidamente o grande amor dela, já que aos 18 anos, Aninha tinha pouca experiência amorosa e ainda era virgem.

Por sua "inocência", Aninha acreditava em todas as palavras de Bento. Ele usava duas alianças, uma de prata e outra de ouro, e sempre viajava para sua cidade natal em datas especiais, sem levantar suspeitas.

Foram quatro anos juntos, durante os quais Bento conquistou o coração de toda a família e amigos de Aninha. Em um momento até ficou na casa da avó dela enquanto se recuperava de uma lesão no joelho.

Um dia, Aninha encontrou um número estranho no celular de Bento e decidiu ligar. Foi quando descobriu que na verdade ele era casado. Mais tarde, a esposa dele ligou e fez ameaças horríveis, incluindo a Aninha.

Depois de muito sofrimento, Aninha conseguiu superar a traição com a ajuda dos amigos de Bento. Acabou se apaixonando por um deles, Ricardo, também jogador. Eles até viajaram juntos para outro estado, mas Aninha acabou voltando, pois não se adaptou. Mesmo assim, ela considera a experiência válida.

Anos depois, Aninha se casou novamente, mas foi traída mais uma vez. Mas essa é uma história para outro momento...

VAMOS PARA FERNANDO DE NORONHA?

Marina e Lucas se conheceram durante a graduação, eles tinham aquele tipo de relação moderna, que as pessoas chamam de ‘’ficar sério’’, onde um casal namora sem rotular o relacionamento dessa forma. Marina conta que no início a relação era muito tranquila, eles se davam absurdamente bem, e além do vínculo amoroso, eram bons amigos.

Com o passar dos meses, Lucas começou a apresentar comportamentos estranhos no relacionamento. Por exemplo, ele deixava frequentemente de responder às mensagens no WhatsApp, alegando que seu celular perdia conexão com a internet sozinho e que, por estar ocupado, não percebia. Apesar disso ocorrer de forma sutil, Marina achava as desculpas bastante convincentes.

Em um determinado sábado, Lucas desapareceu novamente, mas dessa vez Marina sentiu algo diferente, pois ele ficou ausente o dia inteiro. Decidida a tomar uma atitude, ela foi até a casa dele e descobriu, através da mãe de Lucas, que ele havia viajado com outra pessoa. Vale ressaltar que a mãe de Lucas não sabia da existência de Marina, pois o relacionamento não era público.

No domingo de manhã Lucas ligou para Marina contando que estava em uma praia nas proximidades da Região Metropolitana do Recife.

Ela insatisfeita com a situação, disse que iria esperar ele voltar para ter uma conversa, depois disso ele não teve como fugir e confessou que estava em Fernando de Noronha, com outra mulher e só retornaria para a capital na quarta-feira seguinte, e detalhe, a viagem era em comemoração ao aniversário desta outra moça.

Após o retorno, Marina conversou tanto com Lucas quanto com a outra mulher, revelando que ele estava se relacionando com ambas ao mesmo tempo. Um mês depois, Marina descobriu que a mulher estava grávida de Lucas.

Diante dessa situação, ela ficou muito abalada. Com a gravidez, Lucas se casou com a outra mulher e eles formaram uma família. Uma das partes mais difíceis foi ter que encontrar Lucas com frequência, devido aos compromissos profissionais em comum. No entanto, com o tempo, ela conseguiu se desvincular emocionalmente do seu ex.

Segundo Marina, sua vida melhorou muito após o fim desse relacionamento, pois ela passou a buscar oportunidades profissionais que sempre desejou, fez um concurso e conseguiu o emprego dos seus sonhos. "Foi a gaia que mudou a minha vida", descreveu.

Um fato interessante é que exatamente um ano após o término com Lucas, Marina fez uma viagem e conheceu um estrangeiro em outra cidade, que se apaixonou por ela e chegou a vir ao Brasil passar uma temporada com ela recentemente. 

MAS POR QUE AS PESSOAS TRAEM E QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DISSO?

Descobrir uma traição pode ter impactos significativos na vida das pessoas. De acordo com Carolyne Oliveira, psicóloga clínica especializada em terapia cognitivo-comportamental, sentimentos de inadequação, insuficiência e até mesmo uma sensação de não ser digno de amor podem surgir como resultado desse evento.

"Após uma traição, é comum desenvolver comportamentos disfuncionais e autodestrutivos na tentativa de lidar com essa dor. Quando combinada com outros eventos da vida, essa dor pode se tornar insuportável", acrescenta a especialista.

Carolyne também aborda o estigma em torno das traições, especialmente em relação às mulheres, que muitas vezes são incentivadas a naturalizá-las e a culpar outras mulheres pela infidelidade de seus parceiros.

No entanto, a psicóloga enfatiza que trair é uma escolha consciente. "Embora possa parecer complicado, se alguém se sentir incapaz de lidar com isso sozinho, é importante buscar ajuda profissional. É necessário compreender os motivos subjacentes a esse comportamento, desafiar os padrões e definir perspectivas para relacionamentos futuros", explica.

Segundo o cientista social José Matheus, as relações sociais funcionam como contratos que estabelecem regras acordadas entre as partes, sendo a monogamia uma delas, representando a exclusividade do afeto amoroso. Para ele, a traição é a quebra desse contrato.

José Matheus atribui o aumento significativo de pessoas traídas à influência da pós-modernidade. Ele aponta que a profusão de estímulos, especialmente através dos aplicativos da internet, afeta a mentalidade das pessoas, enfraquecendo a ideia tradicional de monogamia.

O excesso de estímulos na sociedade atual, conforme Matheus, resulta em relações mais superficiais, afetando não apenas a subjetividade individual, mas também os vínculos interpessoais. Com essa sobrecarga de estímulos, as pessoas acabam se perdendo em meio às opções disponíveis.

RECIFE É A CAPITAL DA GAIA?

Se formos honestos, a infame "gaia" é uma realidade em todo o mundo. No entanto, no Recife, essa experiência tomou uma forma distinta.

Parte da sua notoriedade é alimentada pelo frenesi das páginas locais nas redes sociais, especialmente no Instagram, onde casos comuns ou envolvendo figuras proeminentes na cena pernambucana emergem, viralizam e se tornam tópicos de discussão nos círculos sociais.

No Recife, a "gaia" até mesmo inspira a produção artística. Cantores pernambucanos que exploram o tema da traição alcançam sucesso em todo o Brasil. Um exemplo é o "rei do brega", Reginaldo Rossi, que compôs uma música intitulada “O Dia do Corno”, talvez uma homenagem irônica aos seus conterrâneos.

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