Petrúcio Amorim: o legado do ‘’poeta do forró’’
Notícias da nossa sociedade, política, cultura, gastronomia e entretenimento em Pernambuco, com a análise precisa do colunista João Alberto

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Nascido e criado em Caruaru, Petrúcio Antônio de Amorim, de 66 anos, carrega a poesia na ponta da língua e o forró pulsando no corpo. Filho de uma empregada doméstica e de um marceneiro, encontrou inspiração nas melodias que ecoavam por sua cidade natal, nos pequenos festivais e nas tradicionais bandinhas locais. Foi o primeiro músico da família e, hoje, já inspira uma nova geração. Prestes a completar 40 anos de carreira, Petrúcio acumula conquistas, sucessos e parcerias que, desde o início, sempre evidenciaram as raízes da música nordestina em um cenário nacional. Honrando os que vieram antes e criando caminhos para o que ainda está por vir, ele compartilha sua trajetória, suas inspirações e, claro, os próximos passos.
Com qual idade você iniciou sua carreira?
Com 26 anos. Eu servi o quartel da Aeronáutica e quando sai, em 1985 abracei definitivamente a música como profissional.
Como foi o início?
Não tenho parentes do lado da música. Meu pai era marceneiro, minha mãe doméstica. Meu início foi no básico, no básico mesmo, foi na infância, quando participei de uma bandinha musical lá em Caruaru.
Já trabalhou em outros ramos fora da música?
Já fiz de tudo um pouco, quando adolescente em Caruaru, eu fiz um curso de ajustagem mecânica no SENAI e trabalhei na área. Também já trabalhei como serralheiro, como planador, dentro do que eu aprendi no curso de ajustagem mecânica. Eu fui sapateiro, ajudante de mecânica, fui militar, servi aeronáutica por seis anos, chegue a cabo. E da aeronáutica, trabalhei também em laboratório químico.
Qual foi a influência de Caruaru no ritmo que você escolheu?
Por ser natural de Caruaru, você acorda e vai dormir ouvindo forró, principalmente na minha época, era só assim, a gente ouvia Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Trio Nordestino e tanta gente boa. Aquilo ali foi uma grande escola para mim. Juntamente com os meus colegas, participamos de festivais em Caruaru.
Em cidades já morou?
Em Caruaru onde nasci. Depois no Recife, Paulista, Olinda e Candeias. Agora aqui dentro do Recife, é uma viagem, eu morei no Ibura, Jordão, no centro da cidade, na Iputinga, Boa Viagem, Espinheiro, Caxangá, Avenida Recife, Rosarinho e agora, em Santo Amaro, que fica justamente na Rua da Aurora. Conheço tudo do Recife.
Qual o show que marcou sua carreira?
Foi a gravação do DVD “ Na Boléia do Destino” em 2006. Reuni vários amigos, todos forrozeiros, no Teatro de Santos. Cantar forró dentro de um teatro é uma coisa, não vou dizer impossível nem difícil, mas complicada. E geralmente a gente canta forró onde as pessoas dançam, e você pregar por duas horas as pessoas na cadeira ali batendo palma e cantando com você, eu achei o máximo.
Quando percebeu que era um símbolo na cultura nordestina?
Foi depois da música “Tareco e Mariola”, um divisor de água da minha carreira. Até aí as pessoas me conheciam pouco, tinham simpatia. Mas aquela música deu um avanço muito bom. Foi uma alavanca na minha carreira. Impulsionou bastante meu trabalho. E essa canção até hoje tem um respaldo muito bom, não só para mim, como para Flávio José que interpretou a música na época.
Influenciou para seu filho Pecinho seguir a carreira de cantor?
Ele gosta muito de música, canta, compõe, mas eu nunca forcei, nunca houve pressão para que ele seguisse carreira. Pecinho foi criado no meio de grandes poetas, porque muita gente boa frequentava nossa casa. Estavam sempre por lá Márcio Melo, Marrom Brasileiro, Santana e Rogério Rangel... tanta gente boa, cantando, compartilhando suas músicas e poesias. Então, ele cresceu nesse ambiente, cercado por grandes músicos e amigos poetas.
Qual a sua opinião sobre a escolha dele?
Como pai, claro, incentivo. Mas, se fosse para escolher, gostaria que ele tivesse seguido outro caminho, que fosse engenheiro, médico, ou buscasse outra profissão. Porque eu sei como é difícil a vida na música. Não é fácil trabalhar com arte, ser compositor e cantor. A concorrência é grande, e isso sem contar com o cenário nacional. Sou honesto com ele em relação às dificuldades também. Sempre digo a ele: "A música é como uma estrela que a gente procura. Quando Deus aponta, aí sim, é o seu momento.". E assim a gente segue, até o momento em que ele sentir que a música realmente está do lado dele.
Como vê a presença de artistas de outros gêneros nas festas juninas?
Pois é, tem gerado muita polêmica a respeito disso, ao longo dos anos, as festas juninas estão tomando outra proporção. Hoje é mais um “show business” do que praticamente uma comemoração junina, mais ligado ao festival musical do que a tradição. Tem cidades que durante uma noite junina passam todos os artistas e ninguém vê uma sanfona, um triângulo, uma zabumba.
Quando começou essa mistura?
Não começou com esses festivais musicais. Tudo teve início com Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinho e Ari Lobo e Jaques do Pandeiro, tanta gente boa que animava as noites juninas do Nordeste. Hoje não, hoje se pensa em ganhar muito mais dinheiro do que praticamente é se conservar a tradição junina. Eu nunca fui contra, justamente por ter uma atração ali dentro. Se a prefeitura tem condição de pagar, por que não? Mas você não pode encher toda grade de um dia com artistas do Sul, com sertanejo, com pagodeiro, com quem seja lá o que é.
Já realizou seu sonho profissional?
O sonho no meu profissional foi ver a minha música tocar numa novela. 2024 e 2025, eu tive duas músicas tocando numa novela. Você sabe que uma música quando toca numa novela, percorre o mundo inteiro, o Brasil inteiro ali assiste o mundo também. Vai para o mundo.
Como enxerga o cenário artístico no Brasil hoje?
Com muita preocupação, assim como aos meus amigos e contemporâneos, compositores das décadas de 70 e 80. Naquela época, tínhamos grandes artistas como espelho, Chico Buarque, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Cartola, Noel Rosa. Era uma escola rica para se aprender música e poesia. No Nordeste, tínhamos Luiz Gonzaga, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Zé Marco Lima. Aprendemos a usar metáforas e construir melodias com profundidade.
E sua opinião sobre a música atual?
Hoje, vejo a música com tristeza. Falta poesia, e a linha melódica deixa a desejar. Antes, a música fazia sucesso por meses, até anos. Hoje, uma canção dura no máximo um mês na internet. Além disso, o jovem escuta música no fone de ouvido, no celular. O sucesso é individual. O rádio, que antes era um termômetro popular, perdeu esse papel.
Qual das suas composições mais fez história?
Cada música teve seu momento. Uma composição que marcou muito foi “Confidências”, gravada por Jorge de Altinho, meu primeiro grande sucesso. Depois veio “Cidade Grande”, que também foi muito importante. Em seguida, vieram outras, como “Tareco e Mariola”, “Filho do Dono”, “Meu Cenário”. Hoje, uma música que compus em 1993, “Anjo Querubim”, está fazendo um sucesso imenso. Na época, foi gravada por vários artistas, e atualmente continua sendo interpretada por nomes como Solange Almeida, Wesley Safadão, Xand Avião e até Ivete Sangalo. É cantada no Brasil inteiro, mesmo sendo uma composição de mais de 30 anos.
Seus próximos planos?
Este ano estou fazendo 40 anos de carreira. Nisso tem um sonho que eu gostaria de realizar, gravar um DVD minhas músicas com uma orquestra sinfônica, que eu acho uma coisa muito linda. É muito importante ouvir suas músicas ao som de cordas, de violinos e de tantos instrumentos. Quem sabe esse ano a gente possa realizar esse sonho até o final do ano de fazer esse trabalho gravando.
Como são seus cuidados com a voz?
São muitas cidades, e todos ficam te procurando. Teve uma época em que eu fazia três shows numa só noite. Hoje em dia, já não faço mais isso, porque a gente tem um limite. Atualmente, faço até dois shows por noite, mas sempre com cautela. Pernambuco é um estado muito de estação: você está no Recife com uma temperatura, aí vai tocar em um estádio com 17 ou 18 graus, depois volta para cantar em Limoeiro, onde está por volta de 24 ou 25. Em seguida, Triunfo, é ainda mais baixa. Isso mexe muito com a voz. Por isso, é preciso ter disciplina.
Qual seu melhor parceiro?
Tenho muitos amigos com quem já fiz parcerias. Um deles é Santana, o Cantador, uma figura maravilhosa. Já dividimos palco e estúdio, e ele acaba de gravar um trabalho com 13 músicas minhas. Também gosto muito de Rogério Rangel, Maciel Melo, com quem já cantei em vários lugares e gravamos juntos. São artistas incríveis, amigos e parceiros com quem tenho uma ótima relação.
Um artista que admira?
Chico Buarque de Hollanda, para mim é o maior compositor do Brasil. Aprendi com as rimas de Chico, aprendi muito com as melodias e com os detalhes. Tenho o sonho de conhece-lo pessoalmente.
A rotina quando passa o São João?
Uma rotina normal, de ler, passear, levar meu filho na escola, praticar minhas atividades.
Como surgiu o carinhoso apelido de Poeta do Forró?
Isso veio dos amigos mais próximos. Foi na década de 90, a gente estava sempre reunido , cantores e poetas do sertão, todo mundo chamava e até hoje chamam os compositores de poeta, e eu, como eu era do forró, fiquei com o apelido.
RAIOX
Time: Sport
Cor: Azul
Restaurante: Japonês
Filme: “Troia”
Lugar bonito: Itália
Hobbys: Viajar, conversar com amigos, contar piadas, beber cachacinha e ver filmes, em casa ou no cinema