Comunicação, networking e eventos: a carreira visionária de Camila Gusmão
As notícias da nossa sociedade, política, cultura, gastronomia e entretenimento em Pernambuco, com a análise precisa de João Alberto

Clique aqui e escute a matéria
Por Lara Calábria
Na atenção ao agora e ao futuro, nos detalhes e na confiança na própria intuição, Camila Gusmão formou uma brilhante carreira, apesar de muito nova, na área da comunicação, de forma multidisciplinar. Foi pioneira na visão estratégica sobre o Instagram como meio de comunicação empresarial e na gestão de redes sociais . Lidera uma das mais consolidadas agências de relações públicas, que cuida muito além do planejamento de conteúdos. Planeja eventos, recebe demandas nacionais e cuidadosamente insere da melhor forma no público pernambucano. Mantendo o pioneirismo, criou o projeto SALA, que impulsiona o empreendedorismo feminino e dá a chance de mulheres se conectarem, contarem suas histórias e insights sem competição.
Como foi sua trajetória na comunicação?
Foi muito pautada pelo meu instinto empreendedor e meu espírito inquieto. Comecei minha agência em 2012, com o serviço de gestão de redes sociais para marcas, quando ainda nem se falava sobre isso no mercado. O Instagram tinha acabado de nascer, estava ganhando força e eu já tinha uma trajetória na internet que me deu bagagem para oferecer esse serviço quando outras agências ainda tentavam entender o potencial da ferramenta. Depois, paralelamente à Caleidoscópio, fui editora-chefe de um portal de lifestyle e também criei a plataforma Girls Revolution, de conteúdo e eventos voltados à enaltecer o protagonismo e o empreendedorismo feminino.
Qual foi seu primeiro emprego?
Foi no gabinete do Governador Eduardo Campos e depois no seu cerimonial. Foi uma verdadeira escola em protocolo, organização de eventos e também em comunicação. Lá, passei de uma menina tímida a alguém que deu seus primeiros passos como relações públicas. Tive a oportunidade, por exemplo, de integrar o time que recebeu autoridades como a Rainha Silvia, da Suécia e o Rei Filipe, da Espanha (que na época ainda era príncipe). Mas durante meu período lá, estudava Letras na UFPE e já exercia meu ofício como comunicadora na internet. Acho que as experiências se interligaram, mas de uma forma ou de outra sempre estive na comunicação.
Qual o papel dos eventos nas marcas e empresas?
È fundamental para se relacionar com os clientes e criar experiências que os aproxime das suas marcas. Hoje, o papel dos eventos é cada vez mais de criar memórias, entregar algo que vai muito além da venda - mesmo sendo também muito relevante do ponto de vista comercial.
Divulgar por meio de influencer é a maneira mais efetiva?
Não gosto de regra para nada. Acho que o trabalho com influenciadores é muito importante se bem feito e com as pessoas certas. O problema do mercado de comunicação e marketing muitas vezes é seguir “mandamentos” sem um conhecimento aprofundado do papel de cada coisa e, se faz sentido para a estratégia do cliente em questão. Sem entrar nas minúcias, sem ter dados para embasar as decisões. Então tanto pode ser efetivo como não ser. Mas o sucesso é multifatorial, não estará necessariamente resumido ao trabalho do influencer e sim como a ação foi pensada e construída.
Posicionamento de marca é a mesma coisa que ter um Instagram ativo?
Não. Instagram ativo quase todo mundo tem, posicionamento de marca bem construído é para poucos.
Quais os piores erros no marketing e criação de conteúdo?
Falta de objetivo, identidade e clareza. Querer falar com todos os públicos, abraçar o mundo, fazer o que todo mundo faz, criar conteúdo sem pensar no que aquilo está agregando para sua marca (pessoal ou profissional) ou para quem segue. O mundo está cheio de ruído, se destaca quem tem voz própria.
Um sonho que já realizou e um que deseja realizar
O maior sonho realizado é ser a mulher que sempre quis ser: feliz pessoal e profissionalmente sendo fiel aos meus princípios, certa de quem sou, do que quero e - principalmente - do que não quero para mim. Um que desejo realizar é publicar meu primeiro livro. Acho que não está tão longe assim. Pronto, joguei pro universo.
Paixões no sentido pessoal:
Arte em todas as suas formas: plásticas, literatura, música, cinema e tantas outras. Amo ficar em casa e transformar pequenos momentos em memórias especiais. Apresentar pessoas, falar das coisas que amo. Cozinhar, colocar mesa bonita, conversar horas com amigos, dançar na cozinha e tomar meu chablis.
A rede social é, também, um lazer?
De vez em quando saturo. Sempre que isso acontece, tento rever minha própria forma de me relacionar com as redes, quem sigo, etc. Faço um detox básico no fim de semana… silenciar alguns perfis também ajuda bastante. Tento ter cada vez mais filtro com o tipo de informação que consumo.
Suas metas pessoais e profissionais para os próximos 10 anos?
Profissionalmente: continuar tudo o que já venho construindo, de forma verdadeira e consistente, mas sempre me reinventando com novos projetos e clientes, pois adoro uma novidade e sou movida pela minha inquietação criativa, embora sempre pragmática. Pessoalmente, quero mais tempo para cuidar de mim e das minhas paixões.
Quem é Camila fora da Caleidoscópio?
A mesma Camila, só que menos estressada hahaha.
É possível sobreviver sem uma presença digital?
Sim, acredito que é possível sobreviver porque não é puramente minha opinião, temos diversos cases de marcas e profissionais que mostram isso. Inclusive, vemos o movimento de marcas de luxo que estão saindo das redes sociais como forma de posicionamento. Entretanto, as redes sociais ainda são o caminho mais curto para chegar no seu cliente, na sua comunidade, se relacionar. Acredito que estamos entrando numa fase de amadurecimento, de repensar nossa relação com o digital para que esse vínculo não substitua outras partes da nossa vida e outras formas de dialogar com o mundo. As redes são extremamente importantes, sim, mas não são tudo.
Conte um pouco sobre a criação do Sala:
A criação da Sala nasceu de várias perguntas e inquietações. Nada vem do nada, mas alguns processos são resultado da soma de outros processos. Ainda vivemos numa cultura que estimula a competição feminina em todas as esferas, muito mais do que o apoio mútuo. Precisamos questionar quem se beneficia disso, porque com certeza não somos nós, mas é uma engrenagem tão arraigada na sociedade que muitas mulheres ficam presas à ela sem nem perceber.
O que motivou transformar essas inquietações em soluções concretas?
Reclamar que o mundo é assim não é minha praia. Eu sou de agir. Precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo, pensar em como queremos viver e o que queremos deixar para as próximas gerações. Para mim, o mundo é muito melhor quando vivemos em um ambiente fértil entre mulheres. Eu tenho a sorte de já viver nele, por ter amigas incríveis e ser cercada por mulheres generosas que escolhi para compartilhar a vida. Se eu puder fazer algo para multiplicar isso, farei. Então a SALA nasceu por esse motivo, dentre tantos outros.
Já se sentiu subestimada por ser uma mulher, nova, líder e pioneira em projetos especiais?
Sim. E não. Com certeza fui subestimada, mas nunca me senti subestimada. Entende a diferença? Porque sempre soube o meu valor e dos meus projetos. Se propor a inovar é aceitar que a dúvida é parte do processo de apresentar às pessoas uma nova ideia. Mas isso só me estimula. E no caso específico da SALA, sinto que o resultado foi imediato.
Qual é o diferencial do networking entre mulheres?
Historicamente, os homens sempre tiveram em suas vidas profissionais o networking como uma atividade constantemente nutrida. Remontando desde os clubes exclusivamente masculinos, as charutarias, as confrarias, o futebol, o happy hour. A convivência entre mulheres sempre existiu em diversos espaços, mas quando falamos de networking estamos falando de um movimento ativo, pensado para impulsionar nossas vidas profissionais, através de contatos e conexões de valor. Não nos falta capacidade, mas ainda falta muita oportunidade. E elas surgem quando temos mais mulheres em posições de liderança, em lugares onde há tomadas de decisões, que nos representem falando nosso nome em uma sala cheia de oportunidades.
Qual é a maior motivação para não se acomodar nos negócios?
O maior impulsionador é me manter acreditando naquilo que me proponho, sendo fiel a quem sou e abraçando projetos e clientes que me mantém instigada criativamente. Eu amo o que faço, mas não acho que só isso seja suficiente, por isso estou sempre regando essas sementes que me motivam.
A comunicação, como setor, está em crise?
Não acho que a comunicação está em crise, acho que o mundo está em crise. E ele precisa da comunicação para sair dela. A comunicação é e sempre será a resposta para encontrarmos soluções em meio a um mundo fragmentado.
No seu networking próprio, quais histórias mais te inspiraram?
Eu nunca me vi como uma pessoa que faz networking, porque sempre fui na contramão de muitas coisas que as pessoas defendem como ferramentas para essa atividade. Mas com o tempo percebi que eu fazia, sim, mas da forma que eu acreditava. Um networking afetivo, sem forçação de barra, sem me aproximar das pessoas apenas por interesse no que elas tem a me ofertar e sim no que podemos compartilhar mutuamente, de forma genuína.
Qual o conselho para quem deseja empreender?
Sinceramente? Meu conselho é que empreender não é pra todos. E nem precisa ser. Vivemos em um tempo em que novas gerações viralizam condenando a CLT. O empreendedorismo é muito romantizado e isso acaba criando um cenário em que a maioria dos negócios não sobrevivem à barreira dos 2 anos no Brasil. Falta um entendimento real de tudo que envolve abrir e manter uma empresa de pé.
RAIO X
Time: Nenhum, futebol não é comigo.
Cor: Preto e branco, uso tanto como se fosse uma cor só.
Restaurante: O Tasca.
Filme: “A Juventude”, de Paolo Sorrentino.
Música: “The Logical Song”, da banda Supertramp.
Lugar bonito: Deserto do Atacama.