Pernambucano que comanda a Obra de Maria em 60 países
Na série de entrevistas, que vai ao ar toda segunda-feira, a coluna João Alberto busca valorizar trajetórias de talento de Pernambuco

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Por João Alberto
Gilberto Gomes Barbosa, filho de um marceneiro e de uma dona de casa nasceu numa sexta-feira santa, na Boca de Dois Rios, comunidade que fica na divisa entre os municípios de Surubim e Bom Jardim, no interior do estado. Veio estudar no Recife, quando conheceu a Renovação Carismática Católica e teve uma grande experiência com o Espírito Santo.
A partir daí, Gilberto participou ativamente de Grupos de Oração e Renovação Carismática durante 5 anos, e surgiu o desejo de iniciar a Comunidade Obra de Maria, em 1990, hoje presente em países de todos os continentes. Carismático, sorridente e cristão. Um homem que circula entre os corredores suntuosos do Vaticano, na Itália, e as estradas de chão batido da África. Foi presidente da Fraternidade Internacional das Novas Comunidades de Vida e Aliança de Direito Pontifico (Frater). É o mais alto posto que um leigo poderia ter na hierarquia da Igreja Católica.
Como surgiu a Obra de Maria?
A Comunidade Obra de Maria nasceu em 1990, após uma experiência transformadora que tive com a Efusão do Espírito Santo dentro da Renovação Carismática Católica. Essa vivência me tocou profundamente e me motivou a reunir pessoas em torno dessa espiritualidade, compartilhando a alegria e o amor que experimentei. Assim começou a nossa missão de evangelizar de todas as formas com alegria por todo mundo.
Como se forma um missionário?
Temos um caminho vocacional onde a formação é algo permanente e sempre buscando ouvir a voz de Deus. A Obra de Maria conta atualmente com 5.200 missionários. Esse número reflete nosso crescimento e o comprometimento de cada um em levar a mensagem do amor de Deus e evangelização a diversos lugares.
Em quantos países atua?
São 59 países: 14 na América, 33 na África, 8 na Europa e 4 na Ásia.
E no Brasil?
Brasil, está presente em 25 estados e no Distrito Federal.
Como Maria Salomé entrou na Obra de Maria?
Entrou na Obra de Maria durante um retiro de carnaval que tive a alegria de convidá-la a participar. Naquele momento, ela se conectou profundamente com o nosso Grupo de Oração que, com o tempo, se expandiu e se transformou na Comunidade Obra de Maria - "Eis aí tua Mãe". Hoje, estamos presentes em quatro continentes. É uma grande bênção ver Salomé como mãe espiritual de mais de cinco mil membros. Juntos, dedicamo-nos a evangelizar de todas as formas, sempre com alegria. A missão que abraçamos é um testemunho do amor e da união que buscamos propagar em nossas comunidades.
Você conviveu com dois papas, Bento XVI e Francisco. Qual a diferença entre eles?
Quando comecei a trabalhar no Vaticano, já era o Papa Francisco, mas antes disso, participei de vários eventos com Bento XVI na presidência da Fraternidade Internacional (Fratter). Bento XVI se destacou pelo seu profundo conhecimento e foco na doutrina, apresentando um estilo litúrgico e conservador, que enfatizava a tradição da Igreja. Em contraste, o Papa Francisco traz um estilo latino e acolhedor, promovendo uma Igreja sem exclusão e com atenção especial aos pobres e ao meio ambiente. Ele é focado em reformas e questões contemporâneas, incluindo aspectos econômicos, adotando uma postura menos formal e uma forte preocupação com a natureza. Francisco também se mostrou firme na abordagem sobre a pedofilia e é um defensor da paz, refletindo as diferentes visões e desafios que cada papa enfrentou.
Como recebeu a escolha do Papa Leão XIV?
Foi uma notícia muito boa para a Igreja e para a Obra de Maria. Ele tem a mesma linha de pensamento do Papa Francisco, o que é importante para a continuidade do trabalho da Igreja. O fato de ele ter passado quase 30 anos no Peru mostra que ele é um homem de missão, que sabe lidar com desafios e tem experiência em ajudar os pobres. Sua escolha de seguir a ordem agostiniana mostra que ele quer ser um Papa missionário, que se preocupa com as pessoas e com a pastoral.
Como a Obra de Maria se mantém?
Por meio de doações de amigos e associados ao Projeto "Braço-Forte", que contribuem mensalmente ou ocasionalmente com dinheiro, alimentos e outros donativos. Além disso, atividades como peregrinações, vendas de artigos religiosos e materiais de evangelização ajudam a sustentar a comunidade. Embora vivamos o compromisso de pobreza e estejamos cientes das dificuldades, confiamos na providência de Deus, que age no tempo certo.
Como surgiram as peregrinações da Obra de Maria?
As peregrinações surgiram em 1993, levando peregrinos a vivenciar grandes experiências de fé em lugares santos no Brasil e no mundo, como Medjugorje, Terra Santa, Roma, Lourdes, Fátima e Aparecida. Com pacotes acessíveis, já levamos milhares de peregrinos, que retornam com testemunhos incríveis. As peregrinações beneficiam principalmente projetos sociais na África, onde oferecemos internatos, assistência escolar e médica, e cursos profissionalizantes. Nossos missionários guiam os grupos, promovendo momentos de espiritualidade.
Quais os guias espirituais das peregrinações?
Contamos com diretores espirituais como Frei Gilson e Padre Fábio de Melo, que conduzem a parte espiritual das viagens. Realizamos grandes eventos, como o Congresso Internacional de Pentecostes, que neste ano será realizado em Roma, e o Congresso Internacional Mariano, em Fátima (Portugal), transformando vidas e aprofundando a experiência de fé dos peregrinos.
Sua relação com padres e cantores famosos?
É de amizade, fortalecida pelo nosso trabalho nas peregrinações. Muitos deles viajam conosco e participam de eventos nacionais e internacionais que organizamos, o que nos aproxima ainda mais. Alguns realizam eventos para ajudar na manutenção das nossas obras sociais, inclusive na África, contribuindo significativamente para a nossa missão.
Quantas pessoas já participaram das peregrinações da Obra de Maria?
Nos últimos 35 anos, não conseguimos calcular exatamente quantas pessoas participaram das peregrinações da Obra de Maria, mas nos últimos anos, esse número ultrapassou 20 mil, especialmente devido à Jornada Mundial da Juventude e a grandes eventos internacionais envolvendo o Papa Francisco.
Como a Ordem de Maria sobreviveu na pandemia, com as viagens proibidas?
Durante a pandemia, enfrentamos dificuldades como todos, já que as pessoas não podiam viajar. No entanto, os benfeitores do Brasil e do mundo foram fundamentais, contribuindo não só para nossa manutenção, mas também para as obras sociais que sustentamos. Essa generosidade nos permitiu continuar nosso trabalho mesmo em tempos desafiadores.
Qual foi o impacto da guerra entre Hamas e Israel nas peregrinações para a Terra Santa?
Foi muito grande. A cada dez grupos de peregrinos, sete destinam-se a Israel. A situação atual tem afetado significativamente nossas peregrinações para aquela região.
O lugar do mundo que mais lhe impressiona pela fé?
Terra Santa, porque lá tudo o que lemos na Bíblia se torna tangível; você pode tocar e vivenciar os locais sagrados. Essa conexão profunda com a história e a espiritualidade é verdadeiramente transformadora.
Como surgiu a sede da Obra de Maria em frente à Arena de Pernambuco?
Com o crescimento da Obra de Maria, que começou na Várzea, tornou-se necessário encontrar um espaço maior, próximo à cidade do Recife. Assim, surgiu a proposta de adquirir um terreno em São Lourenço, onde hoje está a sede da Obra de Maria, em frente à Arena de Pernambuco. Essa iniciativa nasceu do desejo de atender às necessidades espirituais e sociais da comunidade, promovendo a evangelização e o serviço aos pobres, além de criar um espaço de acolhimento e formação.
Como foi a construção?
A obra ganhou força com o apoio de voluntários e doações, permitindo a construção de um centro que oferece atividades religiosas, sociais e culturais. Esse espaço se tornou um ponto de referência para a evangelização e o fortalecimento da fé na região, sempre buscando promover a inclusão e o desenvolvimento humano. A proximidade com a Arena de Pernambuco também ajudou a atrair visitantes e ampliar as atividades da Obra de Maria.
Sua relação com os políticos?
A própria Bíblia diz que é preciso 'dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus'. Em 35 anos da Obra de Maria, nunca tivemos nenhuma dificuldade com as autoridades constituídas, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Sabemos separar muito bem, inclusive politicamente, na Obra de Maria. Nos respeitamos muito bem; cada um vota de acordo com a sua consciência. Apenas orientamos para seguir, pelo menos, os que têm respeito pela religião, pelos princípios morais e cristãos.
O projeto da igreja em homenagem a São João Paulo II?
Estamos muito animados. É a primeira paróquia dedicada a ele e está em andamento. Estamos aguardando a doação do terreno; uma parte já foi garantida e a outra será doada. O espaço não será apenas religioso, mas também cultural, com uma parceria com a Orquestra Criança Cidadã, promovendo assim a integração entre a fé e a cultura.
A Obra de Maria recebe ajuda de empresários?
Sim, recebemos bastante ajuda de empresários, além de apoio de organismos nacionais e internacionais. Essa colaboração é fundamental para o desenvolvimento de nossos projetos e ações sociais.
Quem mora na sede da Obra de Maria em São Lourenço?
Além dos missionários que residem aqui, vivem os assistidos. Na sede, moram mais de 300 pessoas, e muitos assistidos passam diariamente para receber apoio e assistência. Essa convivência é essencial para a nossa missão de ajudar e apoiar a comunidade.
Quantos padres e bispos são ligados à obra de Maria?
A Obra de Maria tem cerca de 200 bispos muito ligados a ela, além de 70 padres que fazem parte da obra. Trabalhamos em colaboração com mais de 300 padres em todo o mundo, fortalecendo nossa missão e alcance.
Qual a história da Imagem de Nossa Senhora Aparecida em Juçaral?
A ideia para o monumento surgiu de uma conversa entre o pároco da época, Padre José Júnior, e o arcebispo Dom Fernando Saburido. Apreciando a natureza, eles imaginaram uma imagem dedicada à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, já que a igreja local é dedicada a ela. A imagem terá 50 metros de altura e será instalada na Pedra do Arroz, um lajedo de pedra que oferece uma vista deslumbrante de Recife e Jaboatão, além de contemplar um lindo vale. Este local será um importante ponto de peregrinação, não apenas para Pernambuco, mas para todo o Nordeste, sendo ideal para fortalecer a fé e a espiritualidade da região.
Sua relação com os arcebispos de Olinda e Recife?
A relação com o atual arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo, é muito positiva, como foi com Dom Fernando Saburido. Já o conhecíamos desde sua época como bispo de Garanhuns. Ele tem demonstrado carinho pela Obra de Maria, nos prestigiando ao longo dos 35 anos e expressando sua confiança em nosso trabalho. Essa conexão é fundamental para fortalecer nossa missão e apoio.
Qual é o próximo projeto em Pernambuco?
Além da igreja dedicada a São João Paulo II, estamos desenvolvendo o monumento em Juçaral, que será dedicado à Nossa Senhora. Esses são passos concretos e desafiadores que enfrentaremos nos próximos três anos.
RAIO X
- Time: Não torço por qualquer time
- Cor: Azul
- Restaurante: todos de comida nordestina
- Filme: “A Cruz e o Punhal”
- Música: “Passarinho, da irmã Kelly Patrícia
- Lugar bonito: Lourdes, na França