O olhar futuro e industrial de Bruno Veloso na Fiepe

Na série de entrevistas, que vai ao ar toda segunda-feira, a coluna João Alberto busca valorizar trajetórias de muito talento no nosso estado

Publicado em 14/04/2025 às 4:00
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Por Julliana Brito

Bruno Veloso, atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, nasceu no Recife e é formado em engenharia civil pela Universidade Católica de Pernambuco. Em 1998, fundou a empresa de concreto chamada Goiana Pré-moldados, que hoje em dia é sócio. Marido, pai e avô, Veloso chegou à Fiepe depois de ter se associado ao Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento de Pernambuco (Sinprocim-PE), antigo Sindocal, há 15 anos.

RAZÃO DA ESCOLHA PELA ENGENHARIA CIVIL?

Durante o período de estudante, eu percebi que tinha muita facilidade para as ciências exatas e questões espaciais. Tirava sempre boas notas em matemática e física. Com isso, identifiquei que a engenharia civil era a profissão que melhor absorveria esses meus pré-requisitos.

COMO FOI SUA CARREIRA PROFISSIONAL?

Eu iniciei trabalhando numa empresa de pré-moldados. Quando me formei, eu já entrei lá para trabalhar como gerente da fábrica e fiquei durante sete anos. Meu trabalho acabou sendo reconhecido e aceitei outros trabalhos. Posteriormente, fui convidado para assumir uma gerência regional de uma grande empresa de pré-moldados aqui em Pernambuco, quando comande fábricas em Pernambuco, Ceará e Bahia. A empresa cresceu muito e eu só teria espaço se transferido para São Paulo. Foi nesse momento que, por questões pessoais e familiares, decidi permanecer em Pernambuco.

QUANDO FUNDOU A SUA EMPRESA?

Em 1998. Procurei terrenos na região metropolitana e encontrei um terreno que coubesse dentro das minhas condições financeiras da época. Apareceu a oportunidade em Goiana e eu comprei o primeiro hectare numa área que não tinha estrutura, fui atrás de clientes na cara e na coragem. Eu ainda não tinha histórico de obras para apresentar, mas tinha uma reputação construída nas outras empresas, que me deram até cartas de atestados de capacidade técnicas, para eu conseguir prospectar novos clientes. Consegui uma primeira obra em Igarassu em que tive que fazer toda a construção do pré-moldado dentro do canteiro do cliente. Foi assim, uma obra atrás da outra, com muita dificuldade, que fui equipando a Goiana.

SUA TRAJETÓRIA NA FIEPE ATÉ SE TORNAR PRESIDENTE?

Eu me interessei por uma missão técnica que a Fiepe iria realizar para São Paulo. Para participar, me associei ao Sindicato de Produtos de Cimento, que na época acumulava Cal, Gesso e Cimento. Quando acabou o mandato do presidente do sindicato, que na época era Ricardo Essinger, os associados me conduziram à presidência do Sindocal, hoje chamado Simprocim. Fui convidado para ser o segundo diretor administrativo da Federação das Indústrias no mandato de Jorge Côrte Real. Sob a liderança de Ricardo Essinger fui diretor financeiro e, em seguida, administrativo. Até que, no ano passado, fui eleito por unanimidade presidente da Fiepe.

QUAL LEGADO QUE HERDOU DO SEU AVÔ E DO SEU PAI?

Meu avô foi um grande empreendedor industrial. Não tive a oportunidade de conhecê-lo porque ele faleceu aos 40 anos, mas sua história deixou um legado para toda a família. O meu pai era um homem de muito conhecimento. Uma verdadeira enciclopédia. Mas que também faleceu jovem, quando eu ainda tinha 11 anos de idade. Das lembranças que eu tenho, além da sua cultura, fica a marca de uma pessoa que foi sempre muito atenciosa com a família.

A FIEPE TEM AÇÕES NA ÁREA DA EDUCAÇÃO?

O papel educacional está mais presente no Sesi e no Senai, que integram o Sistema Fiepe. No Sesi, temos quase nove mil alunos entre o ensino médio e fundamental. Uma educação de qualidade reconhecida nacional e internacionalmente, onde nossos alunos participam de uma série de competições globais. Já no Senai, responsável pela educação profissional, tivemos no ano passado mais de 67 mil matrículas. E isso é muito importante, porque além de suprir as necessidades da indústria – podemos fazer com que 84% dos alunos que concluem os cursos consigam acessar o mercado de trabalho. Além disso, ainda temos a Escola de Negócios do IEL, que trabalha temáticas de lideranças para os níveis gerenciais de empresas de qualquer segmento.

QUAIS SEUS PLANOS PARA A FIEPE?

A gente precisa pensar em Pernambuco, na interiorização da sua indústria. Precisamos discutir as melhores soluções junto ao governo estadual e aos governos municipais, para que possamos melhorar a nossa infraestrutura. O nosso objetivo é fortalecer a indústria existente em Pernambuco e conseguir atrair novos investimentos para o Estado. E isso só é possível se tivermos uma condição de infraestrutura adequada para isso ocorrer.

Divulgação
Nascido no Recife, em 1959, é formado em engenharia civil pela Universidade Católica de Pernambuco - Divulgação

QUANTAS EMPRESAS SÃO SÓCIAS DA FIEPE?

Na verdade, as empresas se associam aos sindicatos e esses formam a FIEPE. Atualmente, a Federação representa cerca de 18 mil empresas cadastradas como indústrias em Pernambuco. Dessas, 1200 estão associadas aos 33 sindicatos que formam, hoje, a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco.

A FIEPE JÁ TEVE UM RESTAURANTE NA SUA SEDE. PODE VOLTAR?

A instituição cresceu muito ao longo dos últimos anos. São mais colaboradores. O espaço onde antes funcionava o restaurante, no sétimo andar da Casa da Indústria, hoje serve aos empresários de outra forma. Então, não vejo essa atividade como uma oportunidade no cenário atual.

QUAL A IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DO FÓRUM PERMANENTE DE INFRAESTRUTURA?

Sabemos que para você atrair investimento para o nosso estado é preciso que nós tenhamos uma infraestrutura adequada para essa captação. O Fórum visa debater cada obra paralisada ou que está sendo iniciada no Estado, para que possamos monitorar seu andamento. Uma forma de acompanhar e prestar contas.

COMO ESTÁ A ECONOMIA PERNAMBUCANA NO CENÁRIO NACIONAL?

Pernambuco cresceu mais que a média nacional. Nós tivemos um bom resultado no ano de 2024, e acreditamos que vamos continuar com esse resultado positivo. A região Nordeste, de maneira geral, tem puxado essa elevação da média do crescimento do Brasil.

OS JUROS ALTOS E A INFLAÇÃO INFLUENCIAM NA INDÚSTRIA?

A inflação corrói a capacidade de compra do consumidor. E os juros altos inibem a aquisição de produtos. Porque quando os juros sobem, além de frear o consumo – ocasionado pela elevação dos preços em produtos parcelados – os investimentos na indústria acabam se retraindo, o que impacta diretamente nos empregos e na renda. Ou seja, juros altos e inflação reduzem muito a atividade econômica do país.

COMO ENXERGA A ATUAL POLARIZAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL?

Vejo essa polarização com bastante preocupação. Muitas vezes, ela impede a continuidade de projetos importantes, simplesmente porque foram iniciados por um governo de orientação política diferente. Precisamos superar essa lógica de ruptura. Iniciativas positivas devem ter continuidade, independentemente da ideologia de quem as criou. O que está em jogo é o interesse do país. Infelizmente, o que temos visto com frequência é o cancelamento de políticas e ações apenas por motivações políticas, e quem perde com isso é a população.

A PRESENÇA FEMININA NAS INDÚSTRIAS PERNAMBUCANAS É EXPRESSIVA?

É baixa. Ainda é um ambiente, predominantemente, masculino. No entanto, temos trabalhado uma série de ações voltadas exclusivamente para esse público. Pelo Senai, procuramos formar turmas, de educação, de diversas atividades profissionais ligadas à indústria, onde o público é 100% feminino. Estamos realizando ainda o Comitê Feminino de Liderança Setorial, para fortalecer e engajar essas mulheres a participar, em que teremos como palestrante desse primeiro encontro, no dia 28 de abril, a ministra Cármen Lúcia.

VOCÊ TEM UMA EMPRESA DE CONCRETO. CONTINUA INVESTINDO NO RAMO?

Continuo sim. É necessário cada vez mais buscarmos produtividade e eficiência. E não tem outra forma que não seja investir em novos equipamentos, em qualificação das pessoas e em novas formas de produzir.

COMO ENXERGA A INDÚSTRIA ATUALMENTE NO BRASIL?

A indústria brasileira precisa se modernizar. Nós estamos com os equipamentos que precisam ser renovados. E isso é uma consequência da sobretaxação que sempre caiu para cima do setor produtivo, o que ocasionou falta de recursos para o investimento. Somente com a modernização da indústria brasileira será possível enfrentar a concorrência internacional

QUAL O SEU TIME DE CORAÇÃO?

Náutico.

O CANTOR E A CANTORA FAVORITOS?

Gosto muito de Fagner e Elba Ramalho.

QUAL RESTAURANTE PREDILETO?

O Leite.

COMIDA QUE MAIS GOSTA?

Feijão verde com carne de sol.

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