Pernambuco ficou muito menor sem Marcos Vilaça
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Pernambuco perdeu ontem uma das suas maiores figuras, com a morte de Marcos Vinicios Vilaça, que brilho como escritor e como homem público, ocupando, com o maior sucesso, cargo relevantes no país. Como uma diretoria na Caixa Econômica e a presidência do Tribunal de Contas da União e da Academia Brasileira de Letras, faleceu no Recife, aos 85 anos.
Ele estava internado na Clínica Florence, e o falecimento decorreu da falência múltipla de órgãos. A derradeira vez em que saiu do seu apartamento em Boa Viagem, foi para almoçar no Leite, com um filho. Foi o sétimo ocupante da cadeira 26 na ABL, desde 1985, sucedendo o jornalista Mauro Mota.
Tive a felicidade de assistir à sua posse, que lotou a sede da ABL de gente importante, a começar do presidente da República, Jose Sarney. Antes, tinha sido presidente da Academia Pernambucana de Letras, onde fez um trabalho notável, a começar da revitalização da sede da instituição, na Avenida Ruy Barbosa. Na época, divulguei na coluna uma frase que Gilberto Freyre me disse e que depois se tornou famosa: “Tão jovem e tão presidente”.
Num fato que me parece inédito até hoje, ele fez uma reunião da Academia Pernambucana de Letras, com todos os acadêmicos, em homenagem da Gilberto Freyre, no estúdio da TV Tupi, no programa que eu apresentava, “João Alberto Informal”. Foi ao vivo e teve enorme repercussão. Tive a felicidade de entrevistá-lo muitas outras vezes na televisão. Quando, invariavelmente, dava um show de cultura e amor a Pernambuco.
História
Natural de Nazaré da Mata, filho único de Evalda e do professor Antônio Vilaça, veio ao Recife na década de 50 para estudar no Colégio Nóbrega e depois se formar na Faculdade de Direito do Recife. Depois fez mestrado e se tornou professor de Direito Internacional.
Foi casado com Maria do Carmo Duarte Vilaça, que Ibrahim Sued chamava de “a holandesa” que já faleceu, e, juntos, tiveram três filhos: Rodrigo Otaviano, Taciana Cecília, casada com José Mendonça Filho, e o marchand Marcantônio Vilaça, já falecido, uma perda da qual nunca se recuperou.
Literatura
Escreveu 18 livros, mas por coisas do destino, “Coronel, Coronéis, que escreveu com Roberto Cavalcanti de Albuquerque, lançado em 1965, o maior sucesso da sua carreira, tornando-se um clássico da literatura brasileira.
O livro mostra o processo de ruptura das estruturas e modos de exercício do poder do coronelismo, no Nordeste, foi escrito a partir de um trabalho de campo realizado em 1963 e foi traduzido para o inglês, alemão e francês. Outros livros dele "Nordeste: Secos & Molhados" (1972), "Recife Azul, Líquido do Céu" (1972), "O Tempo e o Sonho" (1984), “Falas do Ofício (1973), “Palavras e Letras” (1977), “Homenagem a Drummond” (1983), apara citar apenas alguns.
Convivi muito com ele, em muitos momentos. Participei, a seu convite de vários eventos na Academia Pernambucana de Letras, na Academia Brasileira de Letras. A pedido dos organizadores do Voo dos Amigos do Porto, ele presidiu a comitiva de pernambucano para o São João da Cidade do Porto, onde vi seu lado descontraído nas festas de rua.
Era uma figura muito elegante, sempre com ternos bem cortados, alguns jaquetões, como seu grande amigo José Sarney. Sua mulher, Maria do Carmo, que Ibrahim Sued chamava de “a holandesa” e que sempre o acompanhava, era igualmente elegante e figurou várias vezes na minha lista das “10 Mais Elegantes de Pernambuco.”
Recordo muito bem do casamento de Taciana e José Mendonça Filho, o primeiro realizado na Oficina Francisco Brennand. Marcos Vilaça entrou com a filha usando o fardão da Academia Brasileira de Letras e algumas das muitas condecorações que tinha non peito. Uma visão, confesso, impactante.
Nunca escondi a importância dele na minha carreira jornalística. Sempre me inspirei muito com seus textos, todos marcados pela concisão, ele me lembrou alguns vezes a frase “Escrever é cortar palavras”. De Carlos Drummond de Andrade, de quem Marcos Vilaça era admirador assumido.
Outro detalhe curioso: quando ele me chamou para almoçar no seu apartamento da Avenida Boa Viagem, perguntei porque ele havia comprado num andar baixo (acho que no 2º andar), quando todo mundo prefere andares mais alto. Ele respondeu: “é para eu poder ver as pessoas que estão na rua, na areia da praia.”
Sempre defendia muito que Pernambuco tivesse mais membros da Academia Brasileira de Letras e lembra que Raimundo Carrero merecia ser eleito. Ficou muito feliz com a eleição de José Paulo Cavalcanti, de que foi amigo. Com problemas de saúde, não pode ir para sua posse, mas mandou uma mensagem lindíssima.
Marcos Vilaça foi homenageado numa das edições do meu livro “Sociedade Pernambucana”, quando escreveu a apresentação, que foi um dos depoimentos mais valiosos que recebi na minha carreira de jornalista.
Poderia contar muitas outras histórias com Marcos Vilaça, mas confesso como foi duro fazer este texto diante de um clima de enorme tristeza que me abateu, logo cedo, quando soube da morte dele. Taciana e José Mendonça Filho tinham me prometido uma visita a ele- que sempre se referia a mim com o maior carinho- quando sua saúde melhorasse. Este dia de melhora não veio, nosso encontro ficou para a outra dimensão.
A família cumpriu um desejo dele: o corpo foi cremado e as cinzas jogadas no mar, em frente ao seu apartamento. Exatamente o que ele tinha feito quando Maria do Carmo morreu.