André Rio é uma referência do carnaval pernambucano
Nesta segunda-feira, a coluna traz mais uma entrevista exclusiva com uma personalidade importante do nosso estado. Dessa vez, o carnavalesco Andre Rio
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Iniciando sua carreira aos sete anos e apaixonado pela música desde antes mesmo de compreendê-la como arte, o cantor André Rio é um verdadeiro símbolo da cultura carnavalesca, tão enraizada em nosso estado. Já levou o frevo para além das fronteiras do Brasil, percorreu inúmeros estados e chegou a uma conclusão marcante: nenhum povo é tão bairrista e apegado à própria cultura quanto o pernambucano. André compartilha detalhes de sua trajetória, influências, processo criativo e sua profunda conexão com o carnaval.
Você tem uma família de músicos. Todos são voltados para a música pernambucana?
Temos música no sangue. Nascemos no bairro de São José, onde o frevo surgiu, e sendo assim, desde cedo tivemos muito contato com a música, as agremiações, e toda a magia do Carnaval. Minha avó paterna, dona Linda, era multi-instrumentista. Tocava acordeão, cavaquinho, violão, etc. Meu pai herdou o talento e passou o amor pelo violão para mim e meu irmão Alírio. Meu pai, Alírio Moraes, é um compositor consagrado, fez inúmeros frevos pra blocos como o “Galo da Madrugada”, “Pierrô de São José”, “Batutas de São José.”
Qual sua ligação com o saudoso maestro José Menezes?
Sou, com muita honra, sobrinho dele, um dos mais importantes expoentes do ritmo do nosso Estado. Portanto somos muito ligados à música regional e vivemos pra preservação deste lindo legado que recebemos. Eu, meu irmão Alírio, minhas irmãs Carla Rio (cantora) e Paula Rio (Produtora cultural), somos elos desta forte corrente familiar que trabalha incessantemente pela arte da nossa terra.
Já atuou em outra área sem ser na música? Sente vontade?
Desde que me entendo por gente que trabalho com música. Canto desde os 7 anos e não saberia fazer outra coisa. Cheguei a estudar direito, mas não concluí a faculdade. A música foi mais forte.
Quais os artistas que mais te inspiram?
O meu primeiro compositor foi meu pai. Mas minha casa era muito musical. Escutávamos música o dia todo. Na vitrola, muito samba, frevo e os grandes astros da MPB. Como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina. Na adolescência vieram Alceu Valença, Djavan, Geraldo Azevedo, Moraes Moreira, Elba Ramalho.
Quando percebeu que havia se tornado uma referência no carnaval?
Foi tudo de maneira muito orgânica. Gravei meu primeiro frevo que era de J. Michiles, “Queimando a Massa”. Acho que o “micróbio de frevo” me pegou de jeito. Quando vi já estava compondo frevos. A primeira vez que eu vi o povo no galo, cantando meus frevos, chorei de emoção. Agora, quando vejo as orquestras de rua de Olinda, tocando “Chuva de sombrinhas”, minha música que completa 25 anos e a multidão cantando, percebo que esse frevo chegou no seu apogeu.
Você já cantou em outros estados durante o Carnaval?
Já cantei em várias capitais. Esse ano, inclusive, fomos convidados para cantar em João Pessoa. O problema continua sendo a agenda. Estamos em turnê desde 31 de dezembro do ano passado, com a agenda cheia aqui por Pernambuco, graças a Deus. Mas alguns shows me marcaram. Tive a coragem de levar nosso frevo (com os metais) pra Bahia. Fiz muito show em trio por lá. E não posso esquecer que em 2020, cantei no primeiro ano do “Bloco do Galo” em São Paulo. Aqui é diferente porque como canto frevos de minha autoria e de autores pernambucanos, o público faz parte, entoando os grandes hits de carnaval.
Qual o seu time do coração?
Santa Cruz, minha eterna paixão. Sempre que posso vou ao Arruda torcer pelo tricolor.
Pretende se aventurar em outros gêneros musicais?
Sou um artista que canto de janeiro a janeiro. Minha carne é de Carnaval, mas é do forró, do samba, da MPB e bossa nova. Tenho músicas de outros gêneros gravadas por muitos artistas. Canto tudo que vem do meu coração. Este ano, pretendo lançar um projeto de MPB. E, estou ultimando um projeto de músicas inéditas da Bossa Nova, com o meu Mestre e amigo Roberto Menescal.
Quais os cuidados com a saúde para a maratona de shows de carnaval?
Desde dezembro intensifiquei minhas corridas e malho três vezes por semana com minha personal trainer. Muito líquido, dormir, sempre que possível, muito bem. Tomar suplementos, cuidar com muito carinho do meu instrumento de trabalho: a voz.
Onde mais gosta de cantar, Galo da Madrugada, Olinda ou Recife Antigo?
O Galo foi onde tudo começou! Tenho muito respeito pelo Marco Zero. Todo artista sonha em cantar naquele palco. Ano passado, fiz um show no Carnaval em Olinda, que entrou pro meu top 10 dos melhores shows da vida. Ou seja, um show, não exclui o outro. Todos são importantes e em todos dou o meu melhor. Um carnaval completo tem que abrir no Galo, continuar no Marco Zero e concluir nas ladeiras de Olinda.
O pernambucano é, antes de tudo, um bairrista?
Pernambuco é o único estado do Brasil que todo mundo canta seu hino. O diferencial já começa aí. Eu costumo dizer que “Pernambuco não tem tradução. Pernambuco é nação”! Pernambuco é um Estado de Espírito.
Existe algum artista que você gostaria de trabalhar junto?
Eu sou adepto do coletivo. Adoro dividir o palco e projetos com artistas que admiro. Quem quiser, é só chegar!
Como é a rotina de shows quando passa o carnaval?
Termina o carnaval, geralmente descanso uns dias porque como diz o poeta, a vida necessita de pausas. É o tempo de compor, entrar em estúdio, preparar a agenda de Shows da temporada junina e da turnê “Viva Pernambuco” que levo desde o ano 2000 para Europa.
É possível enjoar do carnaval?
Nunca. O Carnaval está impregnado na alma. Nunca. O carnaval está impregnado na alma.
Qual seu hobby favorito?
Compor, assistir séries e jogos. Minha vida é cantar. Fora do palco sou um homem comum, que convive muito bem com a solitude e o silêncio. Preciso disso para compor e sonhar novos projetos.
Qual a sua comida favorita?
Sou carnívoro. Adoro um bom churrasco, uma feijoada, mas minha perdição são as massas.
Qual o lugar do mundo mais bonito do mundo onde já esteve?
Recife. Não tem outro.
Faltam frevos novos? O sucesso é sempre dos antigos?
Esse assunto muito me interessa conversar sobre, porque penso diferente de algumas pessoas. Não falta frevo novo. Falta tocarem nas rádios esses frevos. Vários amigos, lançaram, esse ano, frevos novos. Agora onde tocar? Como divulgar? Falando por mim. Todo ano, eu lanço um frevo novo.
Você tem feito frevos novos?
Em 2023, gravei e lancei um CD intitulado “30 carnavais”, com seis frevos novos. Esse ano, lancei um frevo, que está dando nome a nossa Turnê “E Tome Frevo”, que está sendo muitíssimo bem recebido por onde canto. Também compus um frevo para Luciano Magno, fiz um frevo em parceria com Ciro Bezerra, apresentador da TV Jornal e fiz mais um frevo para O grupo “Destremelar”. Podem dizer o que quiserem, menos que não há frevos novos na praça.
Qual suas experiências em shows na Europa
É maravilhoso você ter um projeto que leva a música que você ama para o mundo. É muita ralação, mas ao mesmo tempo, muito satisfatório, você presenciar que para a música não há barreiras. As pessoas cantam, dançam, aplaudem nossas músicas por onde passamos. São 26 anos de um projeto campeão.
Qual o frevo que mais gosta de cantar?
“Chuva de Sombrinhas” está na boca do povo. Virou hit de carnaval. Posso cantar aonde for que o público vem junto. É surreal. É uma das músicas em homenagem ao Galo da Madrugada que faz mais sucesso.
Qual sua relação com o Galo da Madrugada?
Ele mora no meu coração. Nossas famílias (minha e de Enéas Freire, fundador do Galo), são amigas e do bairro de São José, berço do frevo pernambucano. Meu pai foi compositor de um dos primeiros frevos do Galo. É uma história de amor e respeito.